Capítulo 47-Verdade e Consequência

Começar do início
                                    

-Não. Não precisa ir embora. A casa é mais sua do que minha agora. – respondi com um sorriso triste.- Só preciso ficar um pouco sozinha agora.- digo afastando a cadeira e me levantando da mesa.

Ela assentiu com a cabeça em silêncio.

Subi as escadas devagar com as pernas se movimentando de maneira robótica. Ela morreu. É estranho. Não a vi morta. Eu não sinto como se ela tivesse morrido. É quase como se fosse uma mentira. Parece que ela vai aparecer e me chamar pra jantar a qualquer momento.

A porta do meu quarto se abriu e ele estava a mesma coisa. A única parte da casa que continuava igual. Fechei a porta atrás de mim e minhas pernas desabaram levando meu corpo todo ao chão.

Ajoelhada as lágrimas vieram. Precisei de minutos para me arrastar até o banheiro e deixar que a água limpasse caísse e abafasse os meus solutos.

É tudo verdade.

Eu sou uma pessoa horrível. Egoísta, mimada, individualista, orgulhosa e covarde. Tive coragem de abandonar literalmente todos que se importavam comigo e agora? Sozinha.

TSSSSSSS. TSSSSSSSS. TSSSSSSS.

As gotas pingavam e evaporavam literalmente enquanto o meu corpo fervia com os milhares de sentimentos que inundavam a minha garganta. A água foi o que me impediu de incendiar aquele banheiro. Desliguei por pura consideração a conta de água que Mabel teria que pagar no final do mês.

De volta ao quarto abri o meu antigo armário e minhas roupas estavam intactas. A sensação do moletom de algodão tocando a minha pele era incrivelmente maravilhosa. Toquei o colar, num símbolo de conforto e vi a varanda do quarto. Estava anoitecendo e as janelas não estavam trancadas.

Ela se foi. Ela realmente se foi.

Caminho até a sacada escura, os raios de luz da lua brilham alto no céu e iluminam o lugar. Recosto sobre o parapeito e o sorvo o cheiro da noite. As estrelas brilham e eu conto cada uma das constelações. Elas são melhores do que eu imaginei.

Eu sempre quis ver o céu. Eu sempre quis ver esse céu. Mas não assim. Vovó deveria estar comigo agora, na verdade ela deveria destrancar a sacada e me deixar ver a noite quando eu completasse vinte e um anos. Quando fosse de fato uma adulta. Mesmo assim, paciência nunca foi uma virtude minha.

-Ei- a voz de Mabel chamou a minha atenção, ela estava recostada sobre as portas da sacada, com os braços cruzados sobre o peito e o cabelos cacheado escorrendo pelas costas. – Está uma noite muito bonita.

-Está.- concordo com minha resposta monossilábica. A noite sempre foi algo que ela me proibiu e agora era a coisa que mais me lembrava Jane Darling.

-Vamos comer, fiz um ensopado de carne. Além do mais estamos esperando visita. – ela completou, com a mão na cintura, fazendo agitar o seu vestido florido.

-Visita?- indago me virando na direção dela. Quem diabos Mabel pode estar esperando?

-É e acho que você não vai gostar.- ela respondeu com um arquear de sobrancelhas e um sorriso desajeitado.

No mesmo momento em que ela disse aquilo a campainha tocou. Ela me convidou para descer e sumiu escada abaixo. Descidi que deveria descer também. Afinal, a casa não é minha. Eu sou só uma visita aqui. Deveria ao menos me comportar como tal.

Precisei de um esforço sobrenatural para deixar a sacada e me arrastar escada abaixo até a sala. Mabel colocava os talheres na mesa e o ensopado de carne enquanto uma voz masculina conversava com ela.

-Ela voltou mesmo? – a voz parecia apreensiva.

-Voltou.- Respondeu Mabel enquanto ia e vinha da cozinha.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora