-Não. Não precisa ir embora. A casa é mais sua do que minha agora. – respondi com um sorriso triste.- Só preciso ficar um pouco sozinha agora.- digo afastando a cadeira e me levantando da mesa.
Ela assentiu com a cabeça em silêncio.
Subi as escadas devagar com as pernas se movimentando de maneira robótica. Ela morreu. É estranho. Não a vi morta. Eu não sinto como se ela tivesse morrido. É quase como se fosse uma mentira. Parece que ela vai aparecer e me chamar pra jantar a qualquer momento.
A porta do meu quarto se abriu e ele estava a mesma coisa. A única parte da casa que continuava igual. Fechei a porta atrás de mim e minhas pernas desabaram levando meu corpo todo ao chão.
Ajoelhada as lágrimas vieram. Precisei de minutos para me arrastar até o banheiro e deixar que a água limpasse caísse e abafasse os meus solutos.
É tudo verdade.
Eu sou uma pessoa horrível. Egoísta, mimada, individualista, orgulhosa e covarde. Tive coragem de abandonar literalmente todos que se importavam comigo e agora? Sozinha.
TSSSSSSS. TSSSSSSSS. TSSSSSSS.
As gotas pingavam e evaporavam literalmente enquanto o meu corpo fervia com os milhares de sentimentos que inundavam a minha garganta. A água foi o que me impediu de incendiar aquele banheiro. Desliguei por pura consideração a conta de água que Mabel teria que pagar no final do mês.
De volta ao quarto abri o meu antigo armário e minhas roupas estavam intactas. A sensação do moletom de algodão tocando a minha pele era incrivelmente maravilhosa. Toquei o colar, num símbolo de conforto e vi a varanda do quarto. Estava anoitecendo e as janelas não estavam trancadas.
Ela se foi. Ela realmente se foi.
Caminho até a sacada escura, os raios de luz da lua brilham alto no céu e iluminam o lugar. Recosto sobre o parapeito e o sorvo o cheiro da noite. As estrelas brilham e eu conto cada uma das constelações. Elas são melhores do que eu imaginei.
Eu sempre quis ver o céu. Eu sempre quis ver esse céu. Mas não assim. Vovó deveria estar comigo agora, na verdade ela deveria destrancar a sacada e me deixar ver a noite quando eu completasse vinte e um anos. Quando fosse de fato uma adulta. Mesmo assim, paciência nunca foi uma virtude minha.
-Ei- a voz de Mabel chamou a minha atenção, ela estava recostada sobre as portas da sacada, com os braços cruzados sobre o peito e o cabelos cacheado escorrendo pelas costas. – Está uma noite muito bonita.
-Está.- concordo com minha resposta monossilábica. A noite sempre foi algo que ela me proibiu e agora era a coisa que mais me lembrava Jane Darling.
-Vamos comer, fiz um ensopado de carne. Além do mais estamos esperando visita. – ela completou, com a mão na cintura, fazendo agitar o seu vestido florido.
-Visita?- indago me virando na direção dela. Quem diabos Mabel pode estar esperando?
-É e acho que você não vai gostar.- ela respondeu com um arquear de sobrancelhas e um sorriso desajeitado.
No mesmo momento em que ela disse aquilo a campainha tocou. Ela me convidou para descer e sumiu escada abaixo. Descidi que deveria descer também. Afinal, a casa não é minha. Eu sou só uma visita aqui. Deveria ao menos me comportar como tal.
Precisei de um esforço sobrenatural para deixar a sacada e me arrastar escada abaixo até a sala. Mabel colocava os talheres na mesa e o ensopado de carne enquanto uma voz masculina conversava com ela.
-Ela voltou mesmo? – a voz parecia apreensiva.
-Voltou.- Respondeu Mabel enquanto ia e vinha da cozinha.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...
Capítulo 47-Verdade e Consequência
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