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Sentada no sofá da sua moradia, na companhia de Patrick, Luísa debatia se deveria ou não marcar presença no aeroporto, a fim de receber a equipa das águias, mais propriamente, Rúben, após a deslocação dos encarnados a terreno holandês, para defrontar o Ajax, no âmbito da Liga dos Campeões.

A hora já ia um pouco avançada mas, a morena não conseguia deixar de lado a imagem de um Rúben destroçado, após a derrota do seu clube, já nos minutos de compensação.
Ela não se importava com o Sport Lisboa e Benfica mas sim, com o seu mais promissor central, produto da formação do Caixa Futebol Campus. Sabia que um empate teria mudado o rumo do trajeto dos encarnados na liga milionária. Apesar de tudo, Luísa reconhecia a representação de Portugal nas duas equipas que se mantinham na tão mais importante competição europeia.

- O que é que achas que deva fazer, Patrick? - num murmúrio, a órfã falou para o seu animal de estimação que, ao escutar o seu nome, olhou-a apenas para, logo depois, voltar a deitar a cabeça nas suas patas e fechar os olhos.

A jovem riu, acariciando, de forma cuidada, o focinho do labrador.

- Obrigado pela ajuda. - Luísa riu de si própria, em virtude das figuras que fazia.

Ao olhar o visor da televisão, as notícias do desporto, em direto, anunciavam, uma estimativa da hora da chegada da comitiva vermelha e branca ao Humberto Delgado.

Ainda tenho algum tempo, Luísa pensou.

Num súbito ato de coragem, a rapariga levantou-se, assustando o seu animal, que de imediato, tornou a ignorar o ambiente à sua volta.

A luso-britânica riu, deixando uma última festinha no cão, antes de se dirigir à cozinha, a fim de beber um copo de água, tal era a sede que sentia.

Ao entrar na divisão, preparou a bebida e ao encostar-se no móvel, reparou no calendário que, na parede, estava afixado.
No mês decorrente, os vários círculos à volta dos dias que já tinham passado, aqueles que ela vivera, em grande parte graças a Rúben.

22 dias.

Era aquele o tempo que lhe restava.

Sobrevivera à primeira semana, após ter recebido o prognóstico.

Em três daqueles dias ela ficara sem Rúben, devido aos compromissos profissionais do jogador, dando espaço ao sentimento que lhe era conhecido antes do lisboeta aparecer na sua vida: solidão.

A estudante de jornalismo estava já tão habituada à presença do número seis das águias que, não conseguia apreciar a sua própria companhia.

Apesar do pouco tempo de convivência, Luísa atrevia-se a dizer que Rúben se tornara tudo. Exatamente, por ela já não ter nada.

Todos os dias, culpava-se pela forma como estava a agir para com o rapaz mas, também ela não conseguia afastar-se dele.
Rúben era o mais perto de felicidade que a morena já vivera, em muito tempo.

Estava a ser egoísta, sabia-o mas como iria morrer queria, pelo menos, deixar a vida com a sensação que, por pouco tempo que tivesse sido, ela soubera-a aproveitar.

Rúben fazia parte daquela equação. Aliás, era-a toda.

Ao perceber que o copo estava vazio, a morena pousou-o no lava loiça e subiu até ao quarto, a fim de vestir uma roupa mais apresentável, do que o pijama que trajava.

Adeus Amor Adeus | Rúben Dias Onde as histórias ganham vida. Descobre agora