Pshycologist

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"... Então você virá no turno da tarde, duas vezes por semana." – Aquele homem continuou falando, enquanto me guiava pelos corredores da escola. Apenas o segui e fiquei ouvindo cuidadosamente cada detalhe. – "Por se tratar de adolescentes, achei que um psicólogo era necessário nessa instituição."

"Entendo perfeitamente." – Disse de modo calmo, porém estava um pouco tenso. Por mais que eu me esforçasse para ser um excelente profissional, a idéia de lidar com um bando de adolescentes parecia no mínimo...
Desagradável. Acontece que não simpatizo com a maioria.

"Peço desculpas em lhe chamar nesse horário." – Ele estava se direcionando ao final do corredor, havia duas salas ali. Uma estava com uma plaquinha escrita "enfermaria" bem acima da porta. A outra estava sem nada, provavelmente ali seria a minha sala. – "Eu estava em uma viagem urgente agora a pouco, mas precisava resolver logo esse assunto."

"Ah sim... Então começarei na segunda e irei aparecer nas sextas também?" – Reafirmei o que ele já tinha me dito antes. Não parecia uma idéia ruim. Eu apenas aconselharia jovens e daria umas palestras e coisas do tipo. Algo como um conselheiro.

"Exato" – Ele toca na maçaneta da porta. Mesmo girando, ela continua travada. Estava fechada. – "Ah... Acho que acabei esquecendo a chave na minha sala." – Ele sorri constrangido. – "Peço desculpas a minha distração, a viagem me cansou um pouco."

"Ficarei esperando aqui" – Sorri com os olhos fechados, ele parecia um pouco descuidado.

"Então..." – Ele empurrou a porta da enfermaria – "Como o enfermeiro está fora no último tempo, você pode esperar aqui dentro. Por favor fique à vontade. Não irei demorar muito."

Assenti com a cabeça. Ele se virou, indo rapidamente pelos corredores.
Sentei em uma cadeira qualquer, que tinha ao lado de uma pequena maca, não sei o que estou fazendo aqui exatamente.

Tenho 24 anos, me formei cedo. Psicologia era uma área que me atraia muito desde sempre, mas honestamente me sinto...

Insatisfeito.

Sempre penso na melhor palavra pra tentar descrever a situação, ou descrever o que sinto.
Mas há alguns sentimentos que não consigo pôr em palavras.
Sentimentos como esses que estão invadindo minha mente nesse exato momento.
Uma sensação de... Frio.

Tirar notas altas. Um salário bom e agora trabalhar em dois lugares...

O sentimento de que "falta algo" sempre esteve comigo. Mas conseguia substituir essa falta com qualquer outra coisa. Seja trabalho, estudo ou pessoas.

Mas, raramente pessoas... Não é como se eu tivesse sorte em me relacionar com elas.

"Provavelmente vou arranjar mais outro lugar pra trabalhar" – Falo pra mim mesmo encarando a parede azul da enfermaria. Ou talvez eu procure outra formação.

Sinto um ar frio próximo de mim, essa sensação estranha, novamente...

"LIGA PARA OS PAIS DELE, ELES MORAM PERTO DAQUI." – Ouvi uma gritaria no corredor. Adolescentes realmente são muito histéricos. Onde eu estou com a cabeça de trabalhar aqui?

"LEVEM LOGO ELE PRA ENFERMARIA" – Outra pessoa gritou. Okay, tem adolescentes histéricos vindo PRA CÁ.

"PRECISAMOS ACORDA-LO" – Adolescentes histéricos vindo pra cá e um deles está desmaiado. Ah ótimo!
Espera, mas não tem enfermeiro. CADÊ O ENFERMEIRO DAQUI ?!

Soulmate - AnorexicWhere stories live. Discover now