Quatro

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Depois que terminamos o treino, tomamos nosso café da manhã antes de sair para o trabalho

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Depois que terminamos o treino, tomamos nosso café da manhã antes de sair para o trabalho.

Millos sempre se veste aqui quando vem treinar comigo, então há sempre alguma roupa dele no quarto de hóspedes. Em poucos minutos o homem tatuado, debochado e um tanto sombrio desaparece, e ele assume seu papel de executivo calmo, frio e competente. A camiseta manchada, os jeans rasgados e os coturnos – roupa com que veio aqui antes de vestir a de malhar – dão lugar ao terno italiano, sapatos de couro, camisa de algodão egípcio e gravata de seda. Os cabelos revoltos estão no lugar, penteados para trás com algum tipo de pomada que os deixa fixos, a barba foi penteada e o brinco de argola dá lugar a um pequeno ponto na orelha, quase imperceptível.

Sinceramente não sei se ele adotou esse personagem para trabalhar com o pai, meu tio, ou se é algo que ele prefere fazer para não chocar ou causar descrença em nossos clientes. Realmente nunca entendi, e ele também nunca quis explicar, então não sei o que se passa na cabeça desse Millos Karamanlis executivo. O que me importa é que ele é meu braço direito, aquele em quem confio de olhos fechados nos negócios, porque, mesmo sendo tão diverso de sua personalidade, a frieza do executivo Millos é o que nos ajuda a controlar alguns incêndios dentro da Karamanlis.

— Soube da merda do Kostas dessa vez? — indago assim que entramos no carro, com Dionísio a dirigir.

— Como não saberia? A história correu pelos corredores da empresa no final da tarde de ontem. — Ele puxa mais a manga de sua camisa a fim de esconder as tatuagens do pulso. — A senhorita Reinol pediu mesmo demissão?

— Pediu! — Rio. — Foi uma saída de rainha no meio da discussão e com direito a água gelada na cara! — Gargalho. — Confesso que, se fosse café quente, eu teria sentido um pouco mais de prazer, mas nem tudo é perfeito.

— Porra, Theo, o Kostas está incontrolável, e eu não entendo o motivo. — Eu o encaro franzindo a testa, porque nunca falamos do meu irmão sem ser em termos profissionais, mesmo sabendo que Millos é quase um confidente de ambos. — Ele mudou muito nesses dias, parece... sei lá, encurralado.

— O Kostas encurralado? — debocho. — Aquele filho da puta é mais frio que uma pedra de gelo! O que poderia mexer com ele a ponto de deixá-lo assim?

Millos respira fundo e dá de ombros, fechando-se em copas novamente, como sempre faz quando o assunto é a vida pessoal dos meus irmãos. Esse jeito dele, essa lealdade toda me conforta e me frustra ao mesmo tempo. Sei que ele não comenta com os outros as coisas que lhe conto, mas gostaria de saber mais do que se passa com meus irmãos mais novos, principalmente Alex e Kyra.

Independentemente do que eu queira, sei que, por ele, nunca vou ficar sabendo de nada, e uma aproximação entre mim e meus irmãos é coisa muito improvável, então finjo não ligar para isso, mas sinto a culpa apertar meu peito a cada vez que algumas lembranças voltam.

Theo - Os Karamanlis #1 (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora