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São Paulo, meses depois

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São Paulo, meses depois.

— A mulher anda irredutível! — Millos conversa comigo enquanto tomamos café. — Há anos tenho ido pessoalmente tentar negociar a compra, mas ela se recusa e tem conseguido manter suas contas em dia.

Desvio meus olhos do computador.

— Ela já sabe que temos a promissória?

— Não, simplesmente me expulsou de lá a pontapés quando fui tentar negociar! — Ri. — Você sabe que eu não curto uma mandona, mas ela me deixou levemente excitado.

— Porra, Millos, não fode o assunto! — Meu primo ri e deixa sua xícara vazia sobre o pires. — Já temos a dívida do pai dela; o que estamos esperando para executá-la? Isso a deixará sem alternativa a não ser vender o maldito bar para quitá-la!

— Theo, é uma promissória assinada há quase dez anos! Vamos ter que cobrar e...

— É para isso que aquele desgraçado do Kostas está aqui! — grito sem paciência. — Eu não aguento mais esses irlandeses no meu caminho!

— Ela é brasileira, Theo, o pai é que era...

— Foda-se! — Bato na mesa. — Tenho um diretor que não queria ter porque a porra da Malu Ruschel desertou para ficar embrenhada no mato com um peão e, ainda assim, não consigo fechar essa maldita conta!

— Ele conseguiu comprar a dívida do agiota e...

— Você está se escutando?! — Passo as mãos pelos cabelos. — Um diretor nosso negociou – sabe-se lá como – com um agiota! Esse mesmo cara está por aí, lidando com nosso dinheiro, comprando e vendendo imóveis em nosso nome! Não confio uma vírgula nele!

Millos se levanta e desenrola as mangas da camisa para esconder suas tatuagens. Eu não entendo por que ele cisma em manter essa pose conservadora aqui dentro da empresa, mas, como bem sei, cada um dos Karamanlis é fodido de algum jeito. Apesar da barba cheia e grande e do brinco que nunca tira, ele anda pelos corredores vestido de terno e gravata, sapatos de couro e uma pose de empresário burguês que só convence quem não o conhece.

— Eu preciso daquele quarteirão, Millos!

— Nós nem temos um cliente para ele...

— Foda-se! Quero a merda do quarteirão! — Ele concorda. — Vire-se para conseguir!

— Vou conversar com Kostas sobre a execução da promissória.

— Faça isso! Meu irmão pode ser um babaca filho da puta, mas é bom no que faz.

— Engraçado é que ele diz o mesmo de você!

O taciturno, mas incrivelmente inteligente grego sai da sala sacudindo a cabeça, sem entender como é que conseguimos trabalhar juntos sem nos matar. A verdade é que trabalhamos muito bem! Temos todos os mesmos propósitos, deixar nosso nome marcado na história desta empresa.

Theo - Os Karamanlis #1 (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora