Capítulo 2

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Para que ninguém a escutasse como conseguiríamos, um dia ir para as bandas de São Paulo. A casca tem que sair inteira, e não pode ser dividida em duas, se não, não funciona, dizia mamãe. Em seguida, ela nos levou até a casa dos fundos, onde vovô Moisés morava. Nas ripas do telhado tinham várias cascas secas dependuradas. Mamãe olhou para elas. E em seguida para a que estava em sua mão, e a jogou. Parecia que ela já fazia aquilo de longo tempo. Porque a casca da laranja se enfiou por entre as ripas e ficou ali quietinha, enquanto uma lágrima se desprendia e deslizava em caracol sob a laranja de seu rosto, que se espremia um pouco ou quase nada.

Sem nos dizer nada. Ela voltou para casa e nos deixou ali, olhando aquelas cascas secas, e admirando a outra, que com perfeição havia sido lançada.

Deus adora ficar sentado descascando laranjas! E agora já passava da metade, e aquela aguinha que jorrava a cada vez que avançava, caiu sobre o chão que estava em um jejum de quase um ano. Tonho nos trouxe uma bacia com laranjas, e então, começamos a fazer o mesmo que mamãe tinha nos ensinado. E em menos de um mês aquele lugar, estava repleto de cascas, parecendo bandeirinhas, de dia, de festa junina.

De todos, Tonho não perdia um só arremesso.

E onde quer que mirasse, a casca ia em silêncio, sem dar um só pio. Mas era na minha vez, que se mostrava recalcitrante. Um tanto desobediente. Faladeiras e sarristas. Porque não tinha a mesma facilidade, que o meu irmão. Não era da primeira, nem da segunda e tampouco da terceira. Quando parecia que estava conseguindo, uma risada me mostrava o contrário. E era assim toda vez, quando as lançava. E sempre acabava desistindo. Meu irmão parecendo Ulisses quando voltou da batalha de Tróia, num só lance acabou com a alegria de todas.

A casca da laranjaWhere stories live. Discover now