LOUIS WILLIAM TOMLINSON SEMPRE CORRIA pela manhã. Sempre, até mesmo em dias chuvosos. Uma jaqueta impermeável era tudo o que ele precisava para se proteger das piores interpéries de Manhattan. Quando corria, sua mente entrava em sintonia com seus músculos e um condicionava o outro, como pêndulos de Newton.
Aquela manhã de novembro era de sol. Louis saiu às quatro e quarenta e cinco. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. A casa dos Tomlinson ficava há apenas dez minutos da praça central, o que fez com que, tomando uma velocidade dita constante, ele chegasse à trilha asfaltada do parque às quatro e cinquenta e cinco.
Colocou os fones de ouvido e encaixou o celular no bolso de apoio enfaixado ao bíceps. Play. Red Hot Chilli Pepper's. Caminhou alguns passos; parou. Esticou os braços em frente ao corpo e uniu as mãos, girando a cabeça para os dois lados.
Reunião com os diretores da empresa às dez horas. Era dia de recolher Wendy na escola às seis da tarde. Entrega dos documentos do divórcio no escritório do advogado às seis e meia. Jantar com os CEO da Companhia às oito.
Beatrice. A futura ex-esposa não aprovaria ter de ser protagonista coadjuvante de mais um dos jantares de negócios. Louis teria de tratar daquilo, como sempre fizera. Com um pouco de sorte, conseguiria convencê-la a acompanhá-lo.
Gostava de estar no controle.
Soltou a respiração pesadamente, abaixando o tronco até que pudesse quase — quase — tocar os tênis Nike.
Desde quando passara a ser tão enferrujado?
Precisava parar de tomar tantos copos de capuccino nos intervalos do expediente. Era quase inevitável. A máquina de café automática gritava seu nome. Como consequência, alguns quilos a mais no final do mês. E um centímetro mais distante de alcançar os seus pés com os dedos.
Começou a correr. Inicialmente, em um ritmo lento. As passadas foram ficando cada vez mais longas, mais rápidas. A música o envolvia como se a ouvisse pela primeira vez.
Pensou em Beatrice. Por que raios estava pensando nela? Talvez porque ela odiasse aquela música. Dizia ser muito explícita e uma tentativa falha e hipócrita de moralização da indústria cultural.
Louis balançou a cabeça para si mesmo. Provavelmente ela já estaria se preparando para sair para o trabalho. E lá, ela se esqueceria dele. Beatrice sempre deixava o celular no modo silencioso. No modo avião, por vezes. Ligar para ela era inútil, e ele sabia que, no plantão, ela retirava a aliança de casamento. Jamais o dissera onde a colocava, para ao final das doze, vinte e quatro ou quarenta e oito horas de trabalho, a colocar novamente.
Infectologia. Louis sabia que a esposa era obrigada a retirar qualquer que fosse o adorno do corpo para entrar no hospital. E ela seguia as regras. Afinal, era uma grande médica.
A verdade é que já não fazia mais diferença. Poucos eram os minutos em que os dois realmente conversavam sobre algo que não fosse a rematrícula da filha na melhor escola particular da cidade ou sobre quem seria o responsável pelo pagamento da babá em determinado mês. Nos últimos anos, tudo que saira pela boca da futura ex-esposa fora reclamações. E — ele tinha de admitir — da dele também.
De acordo com seus cálculos, estava completamente na seca haviam oito meses e três dias. Santo Deus. Ele nunca se imaginara passando uma semana sem um mínimo contato sexual. Mas, com a situação de seu casamento se agravando a cada jantar, levar Beatrice para a cama era como imaginar um oásis enxuto no deserto.
A tensão sexual estava presente. É claro, a esposa ainda se trocava em sua frente. Às vezes, o traseiro dela encostava em seu braço em meio ao sono profundo. Mas não era mais a mesma coisa. Beatrice evitava todos os tipos de contato físico possíveis desde que se separaram. Isso, no entanto, não incluía a sua mania antiga de ajeitar suas gravatas e seu terno.
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FanfictionLouis Tomlinson viu, como em um filme, sua vida virar de cabeça para baixo quando segurou aquela caneta. Aquela que seria a principal cúmplice de sua escolha: assinar o documento de divórcio que o separaria definitivamente de sua esposa Beatrice. O...
