Sem Chance

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Sabe a quando você é criança descobre que o coelhinho da Páscoa na verdade sempre foram seus pais ?Aquele sentimento de enganação em descobrir que o que você acreditava na verdade era uma grande mentira, aquele aperto que da no peito quando você fica sem palavras e sem reação nenhuma, é exatamente isso que estou sentindo nesse momento, esse nome me da calafrios, fico furiosa só de ouvir, o dono desse nome acabou com a minha vida, o barulho do tiro ainda é fresco em minha memória, 5 anos depois eu ainda lembro do momento em que meu pai foi morto, mas o culpado não está mais aqui pra contar Vitória e é isso que faz eu questionar Marco.

- Brian não, Marco, Ele morreu, não existe esse possibilidade, ELE MORREU. - nessa hora eu já estava exaltada, me levantei batendo as mãos na mesa.- Você mesmo ouviu, BRIAN MORREU EM CONFRONTO, VOCÊ ME DISSE!!

- BRIAN NÃO MORREU BRUNA.- Marco revela exaltado assim como eu.- Ele está desaparecido, mas não está morto, dissemos isso pra você para que não se preocupasse com isso, Brian está vivo e é o principal suspeito.

- VOCÊ MENTIU PRA MIM ??? Tudo isso é sobre a morte do meu pai e você mentiu pra mim? - apontando o dedo na cara dele, o questiono, existem milhares de coisas que eu odeio na vida, mas a número um com certeza é a mentira, e isso me fez estourar com Marc.- eu estou a 5 anos sem uma única boa noite de sono, o meu sonho mais recorrente é a porra da noite em que meu pai morreu e você diz que o assassino dele ainda vive ? Você não tinha esse direito Marc.

- Mil perdões Bruna, eu sei que deveria ter te contado, mas seria mais uma preocupação pra você, eu não queria que você...

- VOCÊ NÃO TEM QUE QUERER, NÃO CABE A VOCÊ DECIDIR O QUE EU PRECISO SABER.- eu não conseguia mais olhar pra ele, meus olhos já estavam a um segundo de transbordar, eu precisava me recompor.- eu só precisava que você me contasse, você sabe como eu me sinto em relação a isso, eu não consigo fechar os olhos e não lembrar do homem que matou meu pai.

- Desculpe-me mesmo eu só não sabia como te contar, foi erro meu achar que você não pode lidar com seus próprios problemas.- Marco agora tinha um tom amigável, estava tentando me acalmar, o instinto paternal dele sempre ajudava.- Eu prometo que nunca mais irei esconder nada de você, precisamos seguir em frente, eu posso continuar com as notícias ?

-eu não sei se tenho coração pra ouvir mais alguma coisa, mas você pode tentar.- o que aconteceu, aconteceu, só me resta agora me acalmar, até entendo o lado do Marco, mas mesmo assim ele não tinha esse direito.- Eu sei que nada pode ser pior que isso.

- Bem... é aí que você se engana.- Marc diz pra mim sentando em sua cadeira.

- por favor não enrola.- eu sabia que isso iria piorar, Eu sou uma filha da puta azarada.

- Brian tem um filho.- Marc revela

-E?? Meu pai também tinha, e olha onde ele tá, mortinho da Silva.- respondo com a cara de quem realmente não se importa.- O que eu tenho a ver com isso ?

- E daí que você sabe como é difícil capturar Brian, o homem é como fumaça, passei anos da minha vida tentando prender aquele desgraçado, e ele ainda conseguiu tirar seu pai de mim, eu preciso dos melhores pra esse trabalho.- respirando fundo Marco continuou.- sei que você é capacitada pra isso Bruna, mas você não o conhece o suficiente, ninguém o conhece o suficiente, exceto uma pessoa...

- Que seria ??.- arqueando a sobrancelha pergunto.

- Brian Jr.

Ok, vamos parar por aqui, Temos o Brian pai, agora aparece um lindo Jr no meio, estou eu aqui nessa sala encarando meu querido chefe, tentando digerir tudo o que foi dito, não sei se entendi direito, Marco pode estar sugerindo que eu trabalhe com o filho do cara que matou meu pai, não não, Marc não faria isso né? Ah não ser que ele seja a porra de um tapado do caralho, um filho de um assassino traficante com certeza é uma pessoa confiável claro, a fruta nunca cai longe do pé, então eu vou respirar bem fundo, e perguntar com muita calma o que Marc está sugerindo, só pra ver se eu entendi direito:

- Deixa eu ver se eu entendi.- a calma vai saindo aos poucos, como se eu fosse um balão de ódio com um furinho bem pequeno.- Você está sugerindo que eu trabalhe com o assassino de pais Jr?

- Jr é diferente, Bruna.- sim, era exatamente isso que Marc estava sugerindo.- ele me procurou assim que soube que o pai estava "morto".

- Posso fazer uma perguntar Marc ?

- Claro que pode.

- Você por acaso é retardado ?.- e lá vamos nós de novo discutir.- sem chances desse lance de diferente, eu não vou trabalhar com esse imbecil, não vou, eu trabalho sozinha.- Marc odiava quando eu "faltava" com respeito com ele, eu até me sentia mal, mas eu ficava desacreditada com algumas coisas que ele dizia.- pode tirar seu cavalinho da chuva, isso não vai acontecer.- terminei de falar cruzando os braços.

- E a donzela por acaso esqueceu quem é o Chefe?.- Marc falava com orgulho, apontando para a plaquinha com seu nome e cargo em cima da mesa.- eu tentei ir no diálogo com você, mas quando você quer se comportar como uma pré-adolescente não há demônio que mude, a minha palavra é a que vale, você irá trabalhar com Jr sim, caso contrário irei tirar você dessa investigação, e essa é minha última palavra, passar bem.- dito isso Marc saiu pela porta, deixando pra trás uma mulher irritada, uma mulher bastante irritada.

Se Jr quer trabalhar nesse caso, tudo bem, só desejo sorte pra ele, muita sorte .

Pov Júnior

Eu juro que se tivesse uma arma agora, esse despertador estaria em pedaços, são 10 horas da manhã de uma segunda e eu estou de ressaca, eu mereço o mínimo de respeito, me forço a sair da cama que meia hora atrás era ocupada por alguma loira de nome que não me vem à cabeça agora e vou em direção ao banheiro, hoje é um dia especial pra mim, e quero estar cheiroso para o que me aguarda logo mais.

Dizem que a fruta nunca cai longe do pé, mas eu gostaria mesmo que caísse bem longe, graças ao meu querido papai, poucas pessoas confiam em mim, é claro que eu tenho alguns privilégios dessa vida errada que ele levava, uns carrinhos aqui, umas festinhas ali, um apartamento só Meu, resumindo, dinheiro pra caralho, mas tudo isso não foi suficiente para que eu mudasse de ideia sobre o que eu gostaria de fazer, meu sonho desde moleque sempre foi ser policial, nascemos em um bairro pobre, onde o índice de violência era enorme, a maioria dos moradores são pessoas negras, todo fim de semana um morador era executado pela polícia, aparentemente todo negro é suspeito, eu me lembro de uma caso em que um vizinho foi executado por que a polícia achou que o guarda-chuva que carregava era um fuzil, tivemos protesto, fechamos ruas, mas nada adiantou, vivemos no Brasil, a cada 23 minutos morre um jovem negro, meu sonho era ser um policial para proteger minha gente, mas minha família não via isso, é cômico olhar pra minha família e ver que você é o que eles mais odeiam, mas eu não pude evitar, é o que eu nasci pra fazer e é o que eu vou morrer fazendo.

- Caralho, eu to atrasado.- disse correndo indo em direção a garagem do prédio.- Não posso me atrasar logo no primeiro dia. Nem dei bom dia pro nosso porteiro, sai correndo pro carro, precisa chegar a tempo na organização, pegaria mal pra mim e aposto que esse trânsito desgraçado não se importa com isso.

Enquanto eu fazia o caminho mais rápido possível, pensava no rumo diferente que minha vida iria tomar daqui pra frente, tudo o que eu sonhei estava sendo entregue pra mim, o trabalho dos sonhos, eu quase infartei quando Marco Pebel me ligou dizendo que precisava da minha ajuda em um caso, até então eu só tinha ido como assistente em alguns casinhos pequenos, eu sei que a única razão é meu pai, mas mesmo assim, eu nunca me senti tão realizado, e o melhor nem é isso, a colega de trabalho é a coisa mais linda que eu já vi na vida, eu poderia chorar só de olhar pra ela, já vi inúmeras vezes por fotos, tanto em redes sociais como em manchetes sobre crimes que ela solucionou, Marc me disse que diria a Bruna que eu procurei a organização pra ajudar, se ela souber que foi ele que me ligou provavelmente Marc terá um problema, meu pai sempre fazia dessas de fingir que morreu e desaparecer, chega até ser cansativo, o velho não tem mais idade pra isso, apesar de tudo, o cara ainda é meu pai, não vou deixar ninguém matar ele, por mais gostosa que seja, uma vez eu ate vi ela andando por aí fazendo perguntas a comerciantes locais, mas travei quando fui falar com ela, provavelmente ela me daria um tiro se soubesse de quem sou filho, quem daria uma chance ao filho do cara que matou o pai ?


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