Capítulo 26

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Helena franziu o cenho, claramente atordoada, abria a boca varias vezes, porém nenhum som saía. Jonathan suspirou massageando a testa e Henri, por sua vez, apertava o delicado braço de Marise ainda mais forte arrancando-lhe uma careta.

-Q-querida, porque fez isso? - Perguntou Helena.

-Por causa do seu filho.

O garoto a soltou irritado.

-Ele disse que amava aquela escrava... ele disse que a amava e a beijou... pelas minhas costas.

A senhora arregalou os olhos para o filho, que parecia impassível.

-Ele me traiu e sei que há muito tempo ele fazia isso com ela - Marise virou-se para Helena - e a senhora sabia. Mentiu para mim do mesmo modo que ele.

-É verdade. Eu errei - disse a mulher, - mas foi para não causar esse mesmo desentendimento...

-Mãe - interrompeu Henri, - não há nada que a senhora possa fazer e muito menos você - disse para Marise. - Quando Louise melhorar a tirarei desta casa e morarei em outro lugar, longe das suas loucuras.

Helena balançou a cabeça negativamente.

-Você não tem permissão de tira-la daqui.

-Mas eu vou - disse ele firmemente.

-Não! - Gritou sua mãe. Sua voz soou desesperadora. - Não, não, não. Se a tirar daqui eu juro que a venderei.

Henri andou, com passos pesados e apressados, em direção a sua pasta perto da porta. Logo depois voltou com, o que parecia, dinheiro.

-Ótimo! Se for dinheiro o que quer, aqui está - disse ele, atirando as notas aos pés de Helena. - Compro a liberdade dela.

-Pare já com isso - disse Jonathan aproximando-se do filho. - Não te ensinamos a fazer isso - repreendeu ele.

-Oh pai, poupe-me das suas lições de moral. Eu cansei, Nana cansou... só não quero mais fazer parte do mundo egoísta em que a mamãe e o senhor vivem.

Henri respirou fundo esperando alguma resposta, porém não ouve. Ele umedeceu os lábios e então saiu subindo a escada em direção ao quarto, onde Louise descansava. Helena tremia dos pés a cabeça, e chorava compulsivamente. Marise abraçou-a, mas nesse momento sentia que sua raiva nunca crescera como agora. Não podia acreditar que tudo estava perdido.

-Marise pode nos dar licença? - Perguntou Jonathan.

A menina assentiu. Após ela sair, Jonathan sentou-se ao lado da esposa, estava cansado demais para começar uma discussão, porém não havia alternativa a não ser essa.

-Querida, sei que está abalada, mas não acha melhor acabar de vez com essas frustrações? Henri está apaixonado por aquela moça...

-Não, não... - interrompeu ela - não vou deixa-lo estragar a vida dele, vou fazer tudo para separa-los.

Helena fungava e soluçava enquanto balançava a cabeça.

-Está vendo que nada o que dissermos ou fizermos mudará isso? Não temos outra escolha a não ser aceitarmos.

Mas ela não via da mesma forma que o marido. Estava longe de desistir, faria o que fosse preciso para mantê-lo novamente longe dela.

-Ficarei louca se ele sair por aquela porta com aquela... aquela... escrava. Você quer cuidar de uma mulher louca?

Jonathan fechou os olhos e tombou a cabeça para trás. Pensaria em um jeito de resolver essa situação, já fora longe demais.

Passado alguns dias, Louise voltou ao seu quartinho, porém não havia a necessidade de trabalhar na cozinha. Seus ferimentos estavam melhorando, mas ainda sim, era sensível ao toque. Foram tantos cortes que dava para esconder a primeira cicatriz que ganhara. Henri a visitava todo o tempo, já Nana, era difícil sair da companhia da amiga, havia noites em que dormiam juntas. Marise fora expulsa do casarão por Henri no dia seguinte à punição de Louise, somente lhe dando tempo de arrumar suas malas e logo partiria. Helena chorou ao se despedir da loira, Jonathan a cumprimentou brevemente, e os irmãos mal deram as caras. A casa mais uma vez ficara no silencio total.

Era uma vez uma épocaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora