Henri permaneceu abraçado com Louise por mais alguns minutos enquanto ela se acalmava. Suas mãos afagavam os cabelos da menina lentamente, nunca a viu tão frágil, nunca sentiu tanta vontade de protegê-la como agora.
A senzala estava silenciosa, escura e fria. Ali era onde os demais escravos dormiam, sem o mínimo de conforto, homens, mulheres e crianças em um mesmo espaço. Louise se endireitou saindo dos braços de Henri, limpava seu rosto molhado com dorso da mão para não se sujar de terra.
-Você está bem? - Perguntou ele.
Ela balançou a cabeça positivamente.
-O senhor não devia estar aqui - disse a menina, com a voz rouca e embargada.
-Sim, eu devia. Procurei você em todo lugar e a encontrei aqui, então aqui é onde eu devo estar.
Louise levantou a cabeça timidamente enchendo os olhos d'agua, porém não permitiu derrama-las. Henri sorriu e elevou sua mão ao rosto dela acariciando-a docemente.
-Porque faz isso? Porque é gentil comigo?
Ele suspirou. Seus olhos estavam escuros, pupilas dilatadas, expressavam claramente um sentimento forte que Louise jamais pudesse descrever. O garoto aproximou-se da menina e umedeceu os lábios.
-Porque eu a amo.
Louise sentiu seu coração acelerar em uma velocidade quase imperceptível. Ficou sem ar ao ouvir aquele homem dizer que a amava, porém não esperava que seu corpo fosse reagir diferente. Em um movimento rápido ela levantou-se do chão cambaleante. Vários pensamentos lhe passavam pela cabeça. E se ele estivesse blefando? E se ele estivesse se aproveitando daquela situação? Ela estava confusa, pois outros pensamentos lhe vinham com as respostas que desejava: Henri jamais faria isso com você. Ele nunca se aproveitaria de você em uma situação como essa. Henri lhe daria todo o apoio que precisasse.
Henri levantou-se também, ficou alarmado devido a reação da menina. Talvez tenha se precipitado ao revelar seus sentimentos naquele momento.
-Louise, eu... sei como se sente e sei que agora não é hora mais adequada para dizer isso, mas eu amo você.
-C-como?
Ele estava eufórico, nunca pensou que ficaria assim por falar uma simples frase.
-Eu... posso estar sendo rápido demais, mas é verdade. Eu sempre quis lhe dar uma vida diferente de tudo isso.
-Espere... - ela colocou uma das mãos no peito, sentia seu coração bater violentamente e sem ritmo. Louise mal conseguiu falar, mal conseguia respirar - eu não entendo o que quer de mim. Simplesmente não dá para acreditar no senhor, porque... para mim não parece real.
-É real, Louise.
Henri deu alguns passos em direção a ela lentamente até ficarem próximos capazes de sentir a respiração um do outro. Louise não recuou, porém ainda duvidava de seus sentimentos.
-Eu posso lhe conceder isso porque a amo. Só o que quero é lhe fazer feliz e nada mais.
A negra balançou a cabeça negativamente. Seus olhos lacrimejaram, aquelas palavras lhe enchia de esperança, mas era essa esperança que a fazia fraquejar, pois sempre a machucava por achar que algo iria mudar quando na verdade só piorava.
-Eu tenho que ir - disse Louise, quase em um sussurro.
-Louise...
-Por favor, não me impeça. Tenho que ficar com meu primo. Ele precisa de mim.
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Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...