Escritos mortos

Sobre a depressão

Eu não tenho pra onde ir
Meu lugar é aqui
Deitado sobre a cama
O tempo passa
A vida acaba
E continua meu drama

Pra você deve ser fácil
Lutar, ir atrás, mudar
Pra eu simplesmente me levantar da cama é um sacrifício
Todo dia é difícil
Nada parece valer a pena
Morrer parece ser a solução de todos os problemas

Mas nem forças tenho para morrer
Medo, angústia ou simples falta de capacidade me mantém a sofrer
O que antes me movia hoje não me encanta mais
O brilho acabou, a paixão morreu
Nada me satisfaz
Nem a escrita livra minha alma de tais castigos infernais

Você me diz que a vida não gira ao meu redor
Mas daqui do meu quarto
Nenhum problema parece maior
A minha existência já é problemática demais para eu enfrentar só
A dor de existir, mesmo sem motivo aparente, ainda me tira o sono
E a solidão me consola como a um cão sem dono

Se nem motivo para respirar eu tenho
Imagine para sair e mudar meu destino
Se entregar aos corvos é tão mais simples
A sabedoria de aceitar a morte me define
Meus defeitos não cabem num caixão
Eles são o que mantém minha alma presa ao chão

Se as regras sociais eu abandono
O que me mantém como humano?
Pensar me faz existir
Mas também me lembra o que não vou ter
Não sei porque se alongar tanto em um simples pensamento
Quando já passei a horas do meu momento de morrer

E infelizmente essa poesia terá um fim antes de mim
Minha doença me consome e eu a alimento
Quem seria eu sem essa doce companheira?
Qual seria minha vida sem todo o sofrimento?
Inerte no escuro eu choro com meu lamento
Viver me oprime e eu respondo com silêncio