Capítulo 3 - UAI

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Aquele pequeno pedaço de papel, que Dave Jhordan dera para mim, remetia a seguinte mensagem:

PASSO NA SUA CASA ÁS 23H.

POR FAVOR, ESTEJA PRONTA.

                Dave estava ficando louco. Nesta hora minha mãe já está preparada para apagar as luzes da casa – e só ela dormir, pois não o faço -. E por que isso? O que ele quer comigo? Não poderia ter escrito no papel também?! – Penso frustrada. O problema dos garotos é que querem ser misteriosos demais, salvo as exceções. Não tenho tempo para bate-papos fúteis, nem mesmo jogar uma partida de basquete, ou, até mesmo, assistir jogos de futebol. Vou pensar se o atendo ou não.

                O descanso da tarde foi inevitável, pondo em vista o quanto trabalhamos no ritual de mudança para a casa nova.

                Após o sono, acordo atordoada com o sonho que tive. Era o seguinte: Eu estava em um Trigal, sozinha, á noite. Do meio da plantação saía uma espécie de “monstro”, que era temível, tinha um ar ameaçador. Quando me enxergava, vinha em minha direção até que meu pai, Thomas, surge do lado oposto e correra para me salvar, porém não sabia quem chegaria primeiro. Eu estava paralisada, não conseguia correr.  Ouvia soluços de choro. Até, que. Sim, eu acordara e não soube o final do sonho. Entretanto, vários finais passavam em minha mente, mas não sabia o que isto significava, o propósito de tal.

                Desço as escadas, ainda pensando no monstro do sonho, porém, meus pensamentos esvaem, quando consigo sentir, novamente, o cheiro das tulipas. Observo minha mãe arrumando-as nos lugares corretamente. O cheiro é tão forte, que acabo me sentindo como uma tulipa. Ajudo-a, pois em alguns momentos, sua vista escurece. Mesmo sendo cega parcial, esta é uma ótima paisagista, seus projetos são muito bons.

       Terminamos o serviço, fico um pouco cansada. Entretanto, admiro o local, o quão harmonioso e atraente estava. Observo os quadros pendurados nas paredes, contendo a foto de, somente, nós três. Sísifo, mamãe e eu.

            Após a admirar o ambiente, volta a minha mente o bilhete de Dave. Preciso avisar minha mãe sobre o caso. Sempre confio em minha mãe, compartilho quase tudo sobre minha vida com ela, porém isso só veio ocorrer depois da separação de meus.

             Vou até o quarto de minha mãe para falar sobre o tal bilhete. Ao chegar neste, encontro-a rasgando as nossas fotos antigas, as que meu pai estava. Lágrimas rolavam em seu rosto, e ao vê-la, não pude ignorar aquele momento. Fui ajudá-la a jogar fora os pedacinhos de papel. Limpamos tudo e para consolo dela, eu disse que a janta da noite seria por minha conta. Após esta ter acenado positivamente, logo me encarreguei da tarefa.

             Apesar de não saber cozinhar, peguei alguns legumes, algumas verduras, todos aqueles aparatos, para preparar uma sopa. Coloco tudo em uma panela, ligo o fogo e deixo alguns minutos ali. Após longos minutos, fui ter com minha mãe e a chamei para jantar. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, porém, ela estava mais calma e conformada. Sentamos a mesa, ela abriu a panela, e com um leve sorriso, olhou para mim. Perguntou:

                 - Querida, por que você nâo descascou as batatas, antes de cortá-las em cubos? - Disse sorrindo.

             - Mamãe, finja que isso é uma maçã, e come, mulher. - Disse num tom irônico e sarcástico.

                    - Mas isso é uma batata, filha. - Ela retruca.

                   - Mamãe, tem uma música da da TFM - The Freed Men - que diz o seguinte: “Nem tudo que vemos, necessariamente, é aquilo que imaginamos ser”. Assim é com a batata. Finja que é uma maça, pois nós não comemos maçã com a casca? Pois é.

Uma Aflição ImperialOnde as histórias ganham vida. Descobre agora