Capítulo 2 - UAI

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Estavam todos observando o ocorrido em frente à escola. Não sei se saio ou se me escondo atrás do portão azul. Porém, vejo que devo tomar uma decisão. Alguns momentos da vida nos remetem a escolhas precipitadas. Entretanto, mesmo sem estar preparada, enfrentei aquilo como um desafio. Tive que encarar meus pais, Thomas e Joana, discutindo e desacatando-se um ao outro, brigando.

Nunca mais tinha vista a “Tulifã” daquele jeito – extremamente estressada e enfurecida – desde a época que se separou de meu pai, há alguns meses atrás. Meu pai, Thomas, foi despejado de casa por causa da penúltima vez que minha mãe brigou com ele. O motivo, como sempre, era por causa de seu vício. Este era viciado em drogas – das mais pesadas -, no entanto, a mamãe não suportou mais. Pois, as drogas te acendem hoje, mas amanhã elas te apagam. Foi um dos momentos mais tristes da minha vida, ver que o laço matrimonial estava se desfazendo, e este era de meus pais. Não passearíamos, jantaríamos, seríamos felizes juntos a partir de tal.

Às vezes percebo que estou escurecendo que nem a tulipa horse. Aquela mocinha doce, meiga, indefesa, foi obrigada a amadurecer, criar defesas e ser o que sou. Os sofrimentos da vida nem sempre são ruins, eles têm sempre um propósito, e para mim, foi a uma mudança. Enquanto minha mente se contenta com más lembranças, meus pais ainda estão brigando. Corro até eles, e pasma digo:

- Parem! Parem! Os alunos estão todos olhando. – Digo sem saber de qual lado ficar

Eles parecem parar, mesmo que meu pai continue resmungando um pouco. Porém, continuo:

- Pai, o que você está fazendo aqui? – Indago com um tom relevante.

- Vim busca-la para passar a semana em casa. Lembras-te da decisão do juiz? Acredito que sim. Porém, essa louca não quer deixar você ir. – Diz com olhar de repúdio à minha mãe.

- Mas, olha como este carro está – digo apontando para o carro de meu pai, que estava todo quebrado. Não posso ir, tenho que ficar com a mamãe, ela precisa de ajuda em algumas atividades, por causa de seu olho. Ou o senhor esqueceu o que fizestes com ela?

- Não, não esqueci. Já que não vais comigo, vou indo. – Disse inseguramente e partiu.

Em uma das brigas de meus pais, o papai tentou intimidar minha mãe com uma garrafa de vinho, com movimentos violentos e agressivos, entretanto, o desequilíbrio proporcionado pelo fato de estar alcoolizado foi suficiente para incapacita-lo de reter a ação. Este acertou em cheio o olho esquerdo desta. Acordei atordoada naquela noite, e encontrei minha mãe no sofá com o rosto ensanguentado, meu pai jogado ao chão chorando, pedindo perdão. Logo, avistei a garrafa manchada com sangue, e liguei para o sistema ambulatório para que a levassem, com a desculpa de que ela caíra na escadaria. A medida tomada para aquele caso foi uma cirurgia ocular. Porém, não houve sucesso. Minha mãe teve um descolamento da córnea, apoiado de fratura da orbita ocular, sendo assim, ela ficou cega parcial. Para amenizar, ela usa um olho de vidro no lugar do que fora retirado. Às vezes sinto que deveria culpar meu pai, contudo, esse “probleminha” nos uniu mais, minha mãe e eu.

Convido a “tulifã” para irmos para a casa, convencendo-a a desfazer-se do pedaço de ferro que está em suas mãos, que deduzo ter sido usado para quebrar algumas partes do carro de meu pai no momento de fúria. Esta aceita, e vamos para a casa. No caminho para casa, há alguns impasses, pois pelo fato de ter a visão parcializada, ocorre à diminuição do reflexo ocular, sendo assim, ela dirige um pouco errôneo.

Ao chegar em casa, minha mãe pedira que eu subisse e tomasse meu banho, e logo descesse para uma conversa importante, antes do almoço. Concordei, e fiz tal.

Ansiosamente, estava sentada à mesa para conversa. Minha mãe me esperava com ar de suspense, parecia preocupada. Então, foi que perguntei:

- Mãe, o que eu preciso saber?

Uma Aflição ImperialOnde as histórias ganham vida. Descobre agora