Perdões para recomeçar

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Muitas vezes, em nossa vida, fazemos coisas das quais nos arrependemos, amargamente, depois. Isso é o que chamamos de erro. Não estou dizendo que ninguém pode errar, até porque isso é impossível, afinal, somos humanos e, como já dizia o ditado: errar é humano. Eu, por exemplo, já errei tanto na minha vida, fiz coisas que jamais minha mãe, quando me deu à luz, imaginou que eu faria. Nessa vida fiz de tudo: matei, roubei, trafiquei e mais outras coisas que nem vale a pena citar aqui. Hoje, aprendi minha lição e agarrei com unhas e dentes a segunda chance que Deus me deu para que eu pudesse recomeçar minha vida depois de tanta besteira que eu fiz. Foi lá na cadeia, naquela cela escura e cheia de fungos, que Ele me mostrou que eu tenho valor, que eu valho a pena. Depois daquele sonho em que Ele me contava isso que citei acima, resolvi mudar e me consertar ante a sociedade.

Comecei a pedir perdão para os familiares que eu deixei chorando após vários assassinatos cometidos por mim. Perdoar não é fácil, mas Deus está sendo tão bom comigo, que fui perdoado por todos. Dentre esses, um me emocionou mais do que os outros. Lembro-me até hoje dessa conversa, que faz exatamente um ano que aconteceu. Uma mãe que, mesmo dois anos depois da morte de seu filho, ainda trazia nos seus olhos a dor e a aflição de tê-lo perdido.

Lembro-me do seu andar triste e do seu olhar sem expressão concreta (eu diria uma mistura de sentimentos naquele momento tão emocionante). As lágrimas já rolavam antes mesmo de eu começar a falar, o que também me fez chorar. Quando ela sentou-se naquela cadeira e o policial nos deixou a sós, comecei a falar, mesmo com um certo receio de que ela não me perdoasse:

— Realmente esse não é o lugar mais agradável para uma conversa e esse clima muito menos. Sei o que arranquei da senhora e sei que seu super-herói nunca mais vai voltar e alegrar seus dias como só ele conseguia fazer. Eu sei o quanto é difícil, pois perdi meu padrasto assim e, acredite, apesar de ser padrasto, eu o amava como se fosse meu pai...

Olhei para ela com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, após falar de cabeça abaixada. Ela estava tão emocionada quanto eu, em soluços, respondendo pausadamente:

— Você... matou meu... Filho. Tirou... tudo o que... eu tinha...

— Chamei a senhora aqui só para lhe mostrar o quanto estou arrependido e para pedir perdão, mesmo tendo feito o que eu fiz. Estou pedindo perdão para todas as pessoas a quem eu causei dor.

— E por que isso? Por que essa atitude?

— Porque eu sou um novo homem hoje. Deus me deu uma segunda chance e me mostrou que eu ainda valho a pena e que eu não sou um Zé Ninguém. O mínimo que eu posso fazer é isso: pedir perdão. Sei que isso não vai diminuir o vazio que ele deixou...

As lágrimas rolavam e eu estava algemado, o que dificultava a limpeza. Eu tentava secá-las com os braços quando ela, num gesto totalmente inesperado por mim, pegou um lenço de papel em uma caixinha em sua bolsa, caminhou até mim e passou em meu rosto. Eu desabei em lágrimas e só consegui dizer, com muito esforço, "obrigado".


— Nada do que você fizer vai trazer meu filho de volta – respondeu ela, em prantos. – Minha vida nunca mais foi a mesma depois que ele partiu. Não sorrio mais como antes, não tenho mais objetivos e minha vida se resume em trabalhar para me manter. Todas as noites penso nele, nos nossos momentos juntos e também naquela noite maldita em que você o matou. Quando fecho os olhos, toda aquela cena volta para minha mente: a briga, o tiro, o sangue dele no muro e suas últimas palavras, enquanto morria no meu colo... E isso me faz sentir mais ainda sua falta... E me faz chorar...

Eu estava emocionado demais, mal conseguia falar. Chorava e tremia e, nesse momento, só consegui falar uma única frase:

— Sei que eu não mereço, mas, por favor, me perdoe, senhora?

— Rapaz, o que você fez com meu filho não se faz. Não se deixa uma mãe sozinha no mundo com tanta dor no coração. Você acabou com minha vida, pois ele nunca mais vai voltar... Mas isso que você está fazendo mostra que realmente se arrependeu e que quer aproveitar essa segunda chance que Deus lhe deu. Então quem sou eu para não lhe perdoar? Eu o perdoo, meu rapaz. Do fundo do meu coração, eu o perdoo.

Enquanto lembrava, lágrimas começaram a rolar do meu rosto. Essa foi a conversa mais emocionante que eu tive com um parente de uma vítima minha. Hoje, ainda não estou livre; ganhei a condicional e presto serviços públicos durante o dia, voltando apenas para dormir na cadeia. Isso devido ao meu bom comportamento. Já consegui o perdão de todos a quem eu fiz sofrer e, hoje, posso dizer que sou um novo homem, que tenho uma nova vida e que, mesmo ainda não estando livre das grades, sou muito feliz por quem eu sou hoje.

Perdões para recomeçarWhere stories live. Discover now