Capítulo 02

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Subimos para a sala de Grigor, a fim de noticiar-lhe a perfeita execução realizada naquela noite. Logo na entrada, pude observá-lo de costas, apoiado em sua extensa mesa de madeira. Pareceu-me que seus olhos prendiam o infinito que se revelava pela janela, e era comum vê-lo entrar em transe quando colocava as ideias em ordem.

— Alfa — Boris o chamou da porta. — Completamos a missão.

Ele o respondeu, ainda de costas:

— E como foi?

— Sem vestígios, sem sangue e sem provas. Tudo realizado conforme nos foi passado — meu irmão respondeu, dando um passo adiante.

— Qual dos dois executou?

— Fui eu — repliquei. — Boris a prendeu no depósito de manhã, e eu executei o plano.

Grigor se virou em nossa direção. Ele era tão alto quanto nós e, apesar da idade e dos cabelos grisalhos, ainda mantinha o porte atlético e a firmeza de tempos remotos. Os olhos escuros e o rosto anguloso facilmente denunciavam nossos laços familiares, apesar da frieza com que éramos tratados.

— Sem emoções, dessa vez? — O mais velho inferiu, a me fitar com o olhar denso, inquisitivo.

Engoli em seco, pronto para mentir:

— Sem emoções.

— Perfeito — percebi sua boca se contorcer em um pequeno sorriso de satisfação. De soslaio, notei as feições de Boris se fecharem. — Podem se retirar. Amanhã de manhã, eu quero vocês aqui. Terão outra missão.

— Mais uma missão em conjunto? — Boris esbravejou.

— Sim.

O rapaz revirou os olhos, mas manteve-se calado. Eu sabia que ele não suportava minha presença, já que era um sentimento recíproco. Coisa de gêmeo, talvez.

Grigor nos deu as costas e voltou a apreciar a vista de sua janela. Logo em seguida, saímos pela porta da sala, cientes de que a agradável conversa chegara ao seu fim.

Assim que saímos do cômodo, Boris foi ágil em me ultrapassar no caminhar apressado, as passadas firmes e nitidamente regadas à ódio. Ele levava a competição entre irmãos muito à sério, e aquilo sempre me fazia rir, na maioria das vezes, em voz alta – bem no fundo, eu adorava degustar suas notas de insegurança.

Em um silêncio profundo e apático, ele me ignorou, e caminhamos daquele jeito gostoso até alcançarmos nosso alojamento. Além dos cinco Betas, nós dois éramos os únicos Sicários que residiam na sede da Volk. Os demais tinham suas respectivas residências e tentavam falsear uma vida comum, justamente para manter a organização em sigilo extremo. Morar na sede, como forma de protegê-la, era somente um dos tantos ônus que tínhamos em sermos filhos do Alfa.

De toda forma, no decorrer de nosso trajeto, vi o visor de meu celular apontar uma hora da manhã. Tínhamos menos de seis horas de sono até a designação da próxima missão, e eu me sentia completamente exausto. Contudo, a presença de Melina em nosso quarto indicava que aquela seria uma noite longa – pra não dizer repleta do porre que era sua presença irritante.

— Irmãos Costello! — Os cabelos curtos e pintados de vermelho me soavam vulgares em conjunto com o apertado vestido da garota, que nos saudava. — Demoraram para voltar da missão.

Boris imediatamente se dirigiu à Melina, respondendo seu cumprimento com um beijo. Maquinalmente, comprimi os lábios para conter a risada – ela até poderia fingir não saber, mas era somente uma entre as tantas outras Melinas de meu irmão. Pobre garota.

SUBVERSIVO - DegustaçãoWhere stories live. Discover now