06 | Passado atormentado

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Lidei com o luto de uma forma diferente, porém, não incomum. E é claro que eu tive a ajuda dele.

Conheci Nicholas Larsen alguns meses depois. Ele fora gentil e um tanto persuasivo, como ela era. Mas o que me fez considerar suas ideias e atos imprudentes fora o jeito como ele me olhava. Diferente dos outros, Nick não me direcionava olhares inundados de pena. E, claro, ele me apresentou uma solução.

A sensação de entorpecimento que a heroína me proporcionava era satisfatória, mas não duradoura. Os resultados eram catastróficos. A droga me destruiu, assim como o nosso relacionamento fizera.

Algo havia acontecido, eu tinha certeza. Ele vivia nervoso, era notável. As marcas roxas que ele passara a deixar pela meu corpo não negavam o que já era evidente. Algo estava errado. Ele usou e misturou coisas demais em um curto período de tempo.

Imagens dele espumando pela boca e convulsionando me acertam em cheio.

Overdose por substâncias químicas.

O hospital era gélido e o cheiro de desinfetante forte fazia minhas narinas arderem em protesto quando eu o deixei aos cuidados dos médicos.

Não o vi mais desde então, tampouco sei se sobreviveu.

"— Não acha que deveríamos parar? —Questionei enquanto o observava enfiar a agulha em meu braço, relaxando instantaneamente ao sentir o líquido escorregar para dentro da minha corrente sanguínea. — Isso vai acabar nos matando.

Seus olhos cor de mel encontraram os meus, suas pupilas dilatadas em êxtase.

— Nós já estamos mortos, você não vê?"

A garrafa de vodka estava quase no fim e minha garganta já não queimava mais. Ri comigo mesma. No fim das contas, ainda sou uma viciada de merda.

Pulei da bancada, me desequilibrando assim que pus meus pés no chão. Tudo girava.

— Vamos com calma aí — mãos fortes seguraram-me pela cintura e meus olhos logo encontraram a imagem desfocada de Zach.

— Não com pressa — retruquei.

Ele riu, balançando a cabeça negativamente. Seus olhos foram de encontro com a garrafa de álcool em minhas mãos para então se focarem em mim novamente.

— Você está bêbada — ele concluiu.

Cruzei os braços, divertida.

— Estou ligeiramente ofendida com sua dedução — brinquei.

— Não estou deduzindo nada — a garrafa de vodka fora tirada da minha mão apenas para que o garoto de cabelos compridos a levasse até a boca, tomando o restando do líquido em um único gole. — Estou constatando um fato.

Soltei uma gargalhada fraca, concordando com a cabeça.

— Você é diferente dele — Zach inclinou a cabeça para o lado, franzindo as sobrancelhas loiras em pura confusão. - Hunter. Você não é nada como ele.

Ele riu.

— Você não me conhece — ele afirmou —E nem a ele, eu imagino.

Dei de ombros.

— Já tenho o suficiente.

Suas orbes esverdeadas me analisaram com atenção, sua língua umedecendo seus lábios rosados chamando minha atenção.

— Tem certeza de que não precisa de mais? — Ele aproximou-se com cautela. —Você precisa de argumentos para constatar um fato.

Ri, me afastando dele.

— Eu prefiro deduzir — pisquei um olho, arrancando uma risada do loiro.

Engoli com força a bile que subia pela minha garganta e esfreguei as pálpebras que pesavam mais a cada segundo que se passava.

— Vamos, sua amiguinha Caroline está logo ali — ele repousou a mão no fim das minhas costas, me guiando até onde Cora estava.

— Coraline.

— O quê?

— É Coraline, não Caroline — expliquei.

Zach deu de ombros, demonstrando toda sua indiferença em relação ao nome correto da minha amiga.

Cora repousou os olhos em mim assim que nos aproximamos do grupo de amigos outra vez, suas íris brilhando em repreensão.

Ela esperava algo diferente vindo de mim hoje?

— Não estou me sentindo muito bem, vamos para casa? — Cora pareceu desapontada mas concordou, entendendo meus motivos.

— Vamos andando, então.

— Cora, fique — a voz grave de Hunter fez minha amiga cravar os pés no chão e um sorriso maroto surgir no rosto do garoto com quem ela conversava anteriormente. — Eu dou uma carona para ela. Já estou indo embora, de qualquer forma.

— Nem pensar — neguei. — Não vou pegar carona com um bêbado.

Zach riu.

— Você realmente não conhece ele.

Fiz careta para o seu comentário e, por um breve momento, me senti mal por supor as coisas prematuramente.

— Não vou ser educado e oferecer duas vezes, Hawley.

Eu não queria arrastar Cora para casa quando era perceptível que ela estava se divertindo e queria continuar ali. Se sentir um peso, ou um incômodo, é péssimo. Acenei para minha amiga, indicando para que ela ficasse, e segui o garoto moreno até seu carro.

Zach tinha razão. Eu não conhecia você de verdade, Hunter, e, talvez, teria sido melhor se as coisas tivessem permanecido desse jeito; se eu fosse totalmente ignorante em relação à você.

Porque, no fim das contas, o conhecimento em demasia nos enlouquece.

Crossroad (EM REVISÃO) Where stories live. Discover now