— Isso não é lápis, mãe, isso foi o que a maldita da sua filha fez! — esbravejo, apontando para Jasmim que dá gargalhadas de mim.

— Luisa, que linguajar é esse? — meu pai me repreende. — Quantas vezes vou precisar dizer que não quero esse tipo de palavra aqui em casa, hein?

— Mas olha o que ela fez em mim, pai! — Aponto para minhas sobrancelhas, com um nó já se instalando em minha garganta. — E se essa bosta de tinta não sair nunca mais da minha cara?

— Você raspa elas e deixa nascer pelos de novo — minha mãe provoca, rindo de mim. Eu me jogo na cadeira, emburrada.

As lágrimas escorrem por minha bochecha em grande quantidade, já que agora até meu pai tá rindo de mim. Imagina se eles tivessem me visto ontem como Igor me viu, cheia de batom na cara?

— Eu estou brincando, sua boba! — Minha mãe pula as cadeiras que nos separa e se senta ao meu lado, me abraçando pelos ombros. Ela passa um dedo sobre minha sobrancelha, o analisando logo em seguida. — Que merda é essa?

O pigarreio alto de meu pai soa pela cozinha. Ele está tapando os ouvidos de Jasmim e repreendendo minha mãe só com o olhar.

— É tinta de canetinha, mãe — choramingo, me aconchegando em seus braços.

— Por que você fez isto com sua irmã? — Meu pai pergunta, deixando Jasmim de lado em seu colo.

A vejo mordendo a pontinha da unha e fazer carinha de choro antes de responder:

— Eu vi num tutorial de maquilagem no YouTube e aí eu fiz na Isa, pra deixar ela bonita — ela fala mansinho.

— Ah, obriga irmãzinha. — Dou uma risada sem humor. — Eu fiquei linda! — eu dou um grito e ela se assusta, grudando ainda mais em meu pai.

— Luisa!

— Quantas vezes eu disse pra vocês que não é bom deixar tablet na mão da Jasmim? — Cruzo os braços, olhando cada um dos meus pais. — Olha as coisas que ela anda aprendendo.

— Luisa, é só um tutorial de maquiagem! — rebate, minha mãe. — Você acha que ela fica assistindo o quê? Sua irmã tem só cinco anos, nem tem maturidade.

— Exatamente, ela só tem cinco anos, mãe! Hoje é tutorial de maquilagem e amanhã vai ser o quê, "Looks para sair com o boy"? — aponto, sabendo que garotos é o ponto fraco de meu pai quando se trata de nós duas.

Me sinto satisfeita quando o vejo arregalar os olhos. Será uma boa vingança ela ficar sem o que mais gosta durante o dia, embora Jasmim tem o usado pouco desde que entramos de férias.

— E a sua irmã lá sabe o que é boy, Luisa? — A minha mãe ri descrente. — Ela nem tem idade para saber essas coisas!

— Sei sim! Eu até já tenho um lá na creche! — Jasmim fala séria, me arrancando uma gargalhada e deixando meus pais de boca aberta.

A cara do meu pai é impagável.

— Tá melhor que eu, hein?! — Minha barriga chega a doer de tanto que rio, enquanto meus pais estão atônitos.

Jasmim sorri para mim, se sentindo orgulhosa de si mesma.

— Como é que é essa história aí? — meu pai finalmente consegue dizer algo.

— Ele é meu namolado, pai! — ela responde, com as mãos na cintura, gesticulando sem parar com a cabeça. — O nome dele é Juninho e a gente até já se beijou!

Minha mãe se engasga com um pedaço de bolo.

— O quê? — Nos três perguntamos em uníssono, nos inclinando para cima da mesa.

Como não se apaixonar Where stories live. Discover now