Capítulo 30

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O bar estava lotado. Caio se encostou no balcão de bebidas, pedindo uma dose de whisky com gelo. Alguns olhares lhe admiraram, mas para ele nada fazia sentido. Se fosse há duas semanas, poderia escolher a mulher que quisesse, mas não agora. Em sua mente, apenas, uma dominava seus pensamentos: Adriane.
Sentiu um toque em seu ombro; Ivan sorria.
__ Já está escolhendo, quem vai ser a companhia da noite, Caio?- brincou.
__ Oi. Nenhuma me interessa hoje.
__ Ah, não! Está doente, Caio? 
Eles sorriram, atraindo alguns olhares femininos.
__ Digamos que sim!
Ivan pediu uma cerveja. Correram os olhos pelo recinto, uma mesa acabava de desocupar.
__ Me conta qual o mal que te aflige? - debochou Ivan, sentando no canto da parede.
__ Não chega a ser um mal, mas que é horrível, isso é!
__ Para de fazer suspense e conta logo! - insistiu o amigo, curioso.
__ Sua relação com Bia, quero dizer, quando se conheceram foi muito tumultuada?
__ Deixa eu ver... está apaixonado! Bem que eu desconfiei! Está diferente. Quem é ela?
__ Ivan, apenas te fiz uma pergunta, foi ou não foi?

__ Foi. Quando nos conhecemos éramos como cão e gato. Pensei em trocar de secretária. Me afrontava o tempo todo, mas tinha algo que me impedia, não sabia bem do que se tratava ... Depois descobri. Eu me sentia atraído demais por ela. Um dia aconteceu. Mesmo assim continuamos a ignorar isso, mas não podíamos ficar longe um do outro. Se estivéssemos sozinhos a transa era inevitável!
Caio tomou um gole da bebida que desceu arranhando sua garganta.
__ Preciso te contar uma coisa, mas me promete não esparramar isso pela empresa. Quero segredo por enquanto. Eu e Adriane...
__ Eu sabia! Sabia que tinha algo! Pelo amor de Deus, não faz nem vinte dias que a conhece e já conseguiu levá-la pra cama?! Ela não me parece ser uma mulher fácil.
__ As coisas não são bem assim, Ivan!
__ Não acredito que está apaixonado por ela?! - indagou admirado.
Caio sorriu de canto.
__ Estou, mas esse lance não começou na empresa.
Caio contou toda a história, desde Madri até dia anterior.
Ao final do relato, Ivan assoviou.
__ Cara, que loucura! - exclamou .
__ Então é isso, agora tudo se complicou. Ela fala com toda convicção que o menino é meu. Eu sou estéril e é impossível eu tê-la engravidado. Às vezes penso que ela pode ter se enganado, que não está fazendo as coisas de propósito, não sei... É muito confuso!
__ Caio, pensa bem... A mulher sempre sabe de quem é o filho.
__ O que mais me assusta não é o fato de eu ser pai,  ou dela estar mentindo, mas sim o que estou sentindo! É desesperador! Quero ficar com ela o tempo todo. Me vejo inventando mil desculpas, pra ficar ao seu lado. Sei que a magoei quando recebi a notícia sobre Heitor, mas já me desculpei. Ontem, ela achou que estou inventando essa história da esterilidade para obrigá-la a falar a verdade. - terminou o relato, puxando o ar para os pulmões e soltando em sinal de alívio. __ Então é isso! Só quis esclarecer a ela os meus motivos pra desconfiar da paternidade.
__ Já marcou o exame?
__ Sim, já está agendado. Ainda não falei pra ela.
__  Adriane negou em algum momento?
__ Nunca se opôs a fazer o exame. Diz que não teme o resultado!
__ Então se acalma. Tudo vai se resolver. Ela não me parece uma pessoa que está atrás de algum benefício. Adriane é extremamente competente. Não usaria o filho pra isso! Depois, esse reencontro não foi planejado...
Caio se atirou pra trás na cadeira, os braços cruzados em frente ao corpo.
__Estou disposto a assumir esse relacionamento mesmo que ele não seja meu filho, quero os dois comigo!
__ Só que aí, meu amigo, tem um problema ...e ela vai querer isso também?
__ Pois é. Assim que sair essa droga de resultado, vou falar pra ela tudo o que sinto, mas até lá, não sei se vou aguentar ficar longe.
Ivan o observou por um instante.
__ Cara, isso é muito louco! No meu caso, várias coisas aconteceram pra depois a gente admitir que não dava mais pra viver um sem o outro. Mulher mexe com a gente, mesmo! Eu te entendo bem. Estamos pensando em casar.
__Casar?  No papel?
__ Sim. É o sonho de Bia, casar.  Vestido... festa...essas coisas de mulher! Vou fazer a vontade dela... Ver a felicidade em seus olhos não tem preço. Elas têm o poder de fazer a gente ir a nocaute. Mulheres são fogo quando sabem que estamos em suas mãos!
__ É isto o que me assusta! O fato de estar nas mãos de uma mulher. Sempre controlei tudo do meu jeito e agora as coisas não saem mais como o planejado.
__ Já aviso de antemão, não tem volta! - deu uma gargalhada, notando a cara de desespero do colega.

Adriane levantou devagar para não acordar o filho que dormia feito  um anjo em sua cama; os cabelinhos castanhos dourados e lisos esparramados sobre o rosto.
Acariciou a face corada, dando um leve beijo em sua testa.
__ Você é a coisa mais importante da minha vida. - falou baixinho.
Tomou um banho rápido e preparou um café; a fome voltando, sinal que estava melhorando.
Atravessou a sala e abriu a janela da sacada para arejar um pouco o apartamento, uma réstia de sol entrava por ela.
Sentou observando as casas e os edifícios ao longe e seus pensamentos se voltaram novamente para Caio.
O que será que ele estaria fazendo naquele início de manhã? Dormindo, talvez acompanhado por uma mulher.
Caio era um homem que não ficava sem fazer sexo e talvez Cíntia ocupasse agora, o lugar que já tinha sido dela.
Pensou em quão bom era fazer amor com ele. Sentir seu toque, seu carinho depois que tudo acabava.
Uma dor quase que física atravessou seu coração. O amava demais, mas tinha seu orgulho.
Lembrou da sua gravidez, sozinha, em Madri...Muitas vezes imaginou, como seria se tivesse alguém para dividir as alegrias e as angústias de uma gravidez. Como seria se Heitor tivesse crescido até ali, com um pai ao seu lado?
Por um momento, desejou não ter reencontrado Caio, pelo menos o amor que ela sentia teria ficado adormecido. E o pior de tudo era que agora, não era só ela que sentia a falta dele, mas o filho também.
Olhou as horas no celular, ainda era cedo. Julio ficou de ligar quando saísse de casa.
Foi ao quarto da irmã. Abriu as janelas deixando o sol entrar.
Resolveu que iria separar algumas coisas para levar para o seu pai quando fosse para lá.
Afastou as portas do guarda roupas e o perfume da irmã veio até suas narinas, trazendo uma infinidades de lembranças dela. Olhou as roupas, tirando uma a uma, dobrando para depois por em algumas caixas.
Separou também  seus objetos pessoais e alguns livros que levaria para doação.
Estava tentando ser forte, respirava fundo a cada lembrança que chegava até suas mãos.
O tempo passou depressa em meio as lembranças da irmã.
O telefone tocou e Adriane atendeu  sem olhar o número da chamada, tinha certeza que era Julio
__ Alô, Julio?- disse com a voz alegre.
__Bom dia, Adriane!
Não era ele. A voz do outro lado era de Caio!
__ Ai, desculpa, estava esperando o telefonema de Julio. Atendi sem olhar.
__ Quanta alegria ao atender esse telefone. Nossa! - Caio reagia com sarcasmo, o ciúme o corroendo.
__ Achei que fosse ele, ficamos de almoçar juntos. Eu estou o esperando.
__ Sei...
__ Qual o motivo do telefone, Caio? Combinamos que íamos dar um tempo...
__ Eu sei. Na verdade só queria saber como está. Vou ligar todo dia, você gostando ou não!
__ Estou melhor. Saímos ontem, eu e Heitor, fomos ao cinema, já não me sinto tão cansada e meu apetite está voltando. Estamos bem.
__ Que bom. Vai sair com ele?
__ Com Julio?
__ Sim.
__ Porque quer saber? Eu não pergunto com quem  tem saído ultimamente... Lembra, foi bom enquanto durou... Acabou o tesão.
__ Não me pareceu ontem quando te beijei...Quer saber se estou com alguém, Adri? É isso?
__ Não. Não quero. - no fundo tinha medo da resposta dele.
O que os olhos não vêm o coração não sente. - pensou.
__ Não me interessa com quem sai. - a voz saiu firme.
__ Pensei que talvez se importasse com isso.
__ E porque me importaria? Viu só! Não dá pra conversar. Já estamos discutindo! Nos tornamos estranhos, Caio! Não quero isso pra mim. Por favor, não me liga mais!
__Tem certeza disso? É isso que você quer?  
__ Sim. Vai ser melhor assim. Evitaremos sofrimentos futuros!
__ Ok. Bom almoço então!
__ Obrigado!
Caio desligou.
Adriane sabia que tinha pegado pesado, mas essa era a solução. 

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