Capítulo 1

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Esse é o segundo livro que escrevo. Não está perfeito, mas estou decidida a fazer o meu melhor.

Adriane atravessou rapidamente a avenida movimentada, olhou as horas no celular:  eram oito e trinta, não estava atrasada. Era  acostumada a sempre chegar antes nos compromissos, detestava atrasos.
Apressou o passo, avistando o enorme prédio de vidros espelhados, parou em frente, ajeitou os cabelos com as mãos e entrou no saguão revestido de porcelanato cinza claro, da maior empresa de construção do Sul do Brasil, a Santelli Cia. & Construção.
Há duas semanas, tinha enviado um currículo para a vaga de secretária executiva. Depois de receber inúmeros "nãos" de muitas outras empresas, ficou surpresa quando seu telefone tocou a convocando para ser entrevistada.
Adriane tinha 30 anos e era formada em Administração de Empresas com pós-graduação em Madri na Espanha. Sua única e duradoura experiência de trabalho tinha sido como administradora assistente de uma das maiores empresas do ramo de construção do Brasil, que infelizmente, devido aos escândalos de corrupção, veio a decretar falência quando seu dono foi preso, depois de investigações da Polícia Federal. O império da empresa veio abaixo e com ele os empregos.
Quando foi admitida trabalhou um tempo como auxiliar e então foi convocada para cobrir  temporariamente a vaga de um colega e logo, sua capacidade foi notada. Um ano mais tarde, foi promovida e em dois anos, estava ao lado do presidente da empresa.
Restou desse tempo, a pós-graduação paga integralmente, pela empresa e as economias que tinha feito.
Sempre foi muito bem remunerada, o que possibilitou a compra do apartamento em que morava. A empresa notando seu potencial, investiu, lhe dando a oportunidade de se qualificar.  
Adriane sabia da sua competência como administradora; trabalhar como secretária executiva não era o cargo dos seus sonhos, mas por enquanto servia. Temia não conseguir um cargo como tinha antes, devido a crise que o país atravessava e por hora, esse emprego supriria suas necessidades. Talvez, com o tempo pudesse mostrar seu potencial e quem sabe conseguir uma promoção. Era uma esperança.
Estava desempregada há oito meses, ainda tinha um bom dinheiro guardado, no entanto, ele não duraria para sempre, ainda mais quando se tem uma criança de três anos que  precisa manter, dando saúde e educação.
A saúde de Heitor, no verão, era tranquila, porém o inverno gelado de Porto Alegre, castigava o pequeno.
Ela contava com a ajuda de sua irmã que veio morar com ela quando Heitor nasceu. A garota aproveitou para sair de casa, já que não se dava bem com a madrasta delas.
Adriane morou cinco anos, em Madri, trabalhando e estudando e só retornou ao Brasil, a pedido dela, quando estava prestes a ganhar o filho. Queria que ele nascesse em solo gaúcho.
Nunca se arrependeu de tê-lo deixado nascer;  a pressão por parte das suas amigas para abortar era grande, no entanto, ela  tinha princípios e jamais mataria um serzinho que não tinha culpa de um erro seu.
Heitor foi concebido numa relação, sem comprometimento nenhum que Adriane teve com um desconhecido, após ter ido a festa de despedida de um colega da pós-graduação.
Naquela noite, se vestiu para arrasar, pois estava magoada, ressentida e queria dar o troco. Havia terminado um relacionamento que mantinha há quase um ano, com um colega de trabalho.
Não tinha nascido para ser traída, ainda mais por um babaca que se achava a última bolachinha do pacote. Pegou ele no flagra, transando com uma estagiária no escritório. Resolveu que não ficaria chorando em casa; não naquela noite, seu aniversário de 26 anos.
O local da festa foi numa boate badalada de Madri, e depois daquela noite, nunca mais viu o rapaz que a levara para um hotel, após terem bebido muito. As únicas coisas que lembrava eram seu nome, Caio, e o par de olhos verdes que a seduziram completamente, junto com as sensações de prazer que tivera com ele.
Acordou na manhã seguinte, nua, na cama com um estranho. Lembra que catou suas roupas e foi embora, morta de vergonha e se recriminando por ter dormido com alguém que nunca tinha visto. Logo ela, que sempre foi a certinha da turma.
Adriane não esperou ele a mandar embora, como ouvia seus amigos contarem nas rodas de conversas depois do trabalho. Sabia como os homens poderiam ser cruéis com desconhecidas, que levavam para cama em suas noitadas.
Pior do que acordar ao lado de um completo estranho, foi conviver por um tempo com o medo de ter contraído alguma doença.
Heitor tinha o mesmo par de olhos do pai e era impossível olhar para o filho e não lembrar de Caio. Com o tempo foi se acostumando, mas o garoto estava crescendo e as perguntas sobre o pai começavam a aparecer. Essa era a parte mais difícil. Como poderia falar algo sobre um homen que ela nem sabia o seu sobrenome!  
Seu coração se apertou ao lembrar do pequeno, que não tinha ido a escola naquela manhã e estava com febre em casa.
Não era fácil ser pai e mãe ao mesmo tempo. Heitor era muito tranquilo, mas quando ficava doente dava um pouco de trabalho.
Adriane tinha passado quase que a noite toda  em claro, tinha medo que ele tivesse uma crise de asma e ela não visse e por isso sempre o levava para o quarto dela para poder cuidar.
Sua irmã, Ariane, ajudava e muitas vezes cuidava dele, enquanto Adriane viajava a trabalho.
A porta do elevador abriu, esperou um momento, enquanto várias pessoas saíam dele e num lance de olhar se deparou com um rosto que parecia ser conhecido. Contudo, foi muito rápido, pois o homem  caminhou apressado e sumiu misturado a algumas pessoas no saguão.
Por um momento, teve a sensação de que era Caio. Porém tirou isso da cabeça.
O que ele faria ali? O tinha conhecido em Madri e seu colega, depois da festa, havia dito que nunca o tinha visto na vida e que talvez alguém da organização tivesse facilitado sua entrada. O fato é que  o dono da festa não o conhecia.
Óbvio que não era Caio! Era parecido, mas não conseguiu vê-lo de frente para se certificar da cor dos olhos.
"O mundo está cheio de pessoas parecidas uma com as outras. E não é primeira vez que tenho a sensação de vê-lo."- pensou, afastando a possibilidade.
Desceu no oitavo andar e se dirigiu a um balcão, onde uma secretária atendia.
__ Bom dia! Me chamo Adriane Fontoura Mello, vim para a entrevista da vaga de secretária.
__Sim, claro. Pode sentar e aguardar, em breve será chamada.- disse a secretária, que mais parecia uma modelo de  revista, de tão bonita, vestida com um terninho cinza que tinha no bolso esquerdo o logos da empresa.
__ Obrigada!- disse educadamente, sorrindo.
Adriane observou a sala enquanto esperava, decorada com móveis de designer moderno, num estilo clean. Estavam ali, mais duas moças que pelo porte e estilo, concluiu que, também, concorriam a mesma vaga que ela.
Esperou cerca de uma hora, quando finalmente, ouviu a secretária chamar seu nome e lhe indicar a porta da sala de entrevistas.
Entrou e uma mulher de meia idade, com um óculos estiloso, que lhe dava um ar intelectual, sentada atrás da mesa, lia com atenção uma pasta.
Assim que sentiu a presença de Adriane, levantou os olhos e sorriu.
__ Bom dia, Adriane! Por favor sente-se. - disse apontando a cadeira em frente a sua mesa.
Adriane sentou, cruzando as pernas, numa postura ereta, com a bolsa no colo.
A mulher a olhou de alto a baixo, admirando o seu porte que deixava transparecer segurança e serenidade, características que noventa por cento das candidatas que entrevistava não apresentavam. Gostou do que viu, pois se vestia com discrição e bom gosto. A calça preta combinava perfeitamente com a blusa de malha, não muito grossa, de gola alta e fofa, na cor nude e um casaco vermelho com o comprimento na altura dos quadris, de lã batida e botas de salto alto completavam o look invernal.
Maquiagem leve, um par de olhos castanhos claros, cabelos escuros, lisos e repartidos para o lado, com uma franja degradé emolduravam o rosto magro. Fazia uso de poucos acessórios, o que demonstrava uma simplicidade elegante.
__ Muito bem, Adriane... Eu me chamo Joana.
__ Muito prazer, Joana.
__ Estive olhando seu currículo e fiquei muito satisfeita com o que li: formada em Administração por uma universidade federal muito bem conceituada... pós em Madri...  experiência profissional numa das maiores construtoras brasileira... Uma coisa me deixou intrigada: porque uma profissional como você está se candidatando a uma vaga de secretária? Está certo que é um cargo de secretária executiva da presidência da construtora...tem uma remuneração boa, mas você sabe, com certeza, que tem um potencial acima do cargo de secretária.
__Sim, Joana, eu sei disso. Antes de ficar desempregada, tinha objetivos claros, que eram crescer como profissional e colaborar com o desenvolvimento da empresa em que estava; eles souberam reconhecer isso, tanto que bancaram toda minha pós-graduação em Madri, onde tive a oportunidade de trabalhar na filial de lá e estudar. Infelizmente, devido aos problemas que a empresa teve com a justiça, como você deve saber, não pude alcançar meus objetivos.
Estou há oito meses desempregada e tem sido complicado, devido a crise que assola nosso país, arranjar um emprego do mesmo nível que tinha antes. Preciso trabalhar. Deixei vários currículos em outras empresas e só o que escutei até agora, foram elogios, porém a resposta pra emprego é sempre a mesma: "Quando voltarmos a contratar, entraremos em contato."
__ Sim, o mar não está pra peixe, infelizmente, no entanto, a nossa empresa está muito bem; é uma das poucas que não está envolvida em corrupção e não tem problemas financeiros,  graças a uma boa gestão, o que sempre traz confiança e respeito. Não nos têm faltado contratos, principalmente no exterior.
__ Sim, pra quem tem esse perfil, o da honestidade, o mercado internacional está sempre aberto, afinal ninguém quer correr os riscos de levar um calote.
__ Muito bem... - correu os olhos pelo papel em suas mãos. __ Seu currículo diz que é solteira... Fala fluentemente o Inglês, Espanhol e Francês. Tem disponibilidade para viagens?
__ Sim.
__ Mora sozinha?
__Não. Minha irmã mora comigo e  faz faculdade aqui em POA. Tenho um.menino de três anos, espera que isso não seja um empecilho para a vaga. Minha irmã é quem toma conta dele quando preciso.
__ Não, em absoluto. A política da empresa é muito compreensível quanto a isso.- tranquilizou a mulher a olhando por baixo dos óculos.
Adriane foi bombardeada por perguntas, as quais foram respondidas com muita segurança.
Joana demorou mais do que o normal com ela na sala. Saiu dali, com a esperança de conseguir aquele trabalho.
Tinha de dar certo desta vez! - pensou.

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