Aceitação

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Ele acorda no dia seguinte atrasado para o trabalho. Resolve que não irá, que invés disso precisa ir num médico. Na verdade, precisa falar com Lara.

Ele vomita e, junto com todo o uísque, expulsa aquele pensamento.

Lara não precisa dele. Ele é a última coisa de que ela precisa.

Ele pega o celular. Nenhuma mensagem dela. Nenhuma ligação perdida.

Ele toma um banho para se sentir como um ser humano novamente, troca de roupa e vai para o hospital andando. No caminho, a aceitação de que não há mais esperanças começa a surgir. A ferida em sua alma, feita na noite anterior, está cicatrizando e ele nunca mais falará com ela, deixará ela viver sua vida em paz.

Ele não a merece e vê isso claramente agora. Eles amam os adolescentes que um dia foram, mas agora são pessoas totalmente diferentes, unidas pelo acaso. Navegando juntas na correnteza, mas sem as mãos dadas.

É isso! Ele jamais falará com ela novamente, ela merece ser feliz. Ele finalmente aceitou isso após tantos anos de decepções mútuas. Parece tão claro, como ele nunca havia visto isso antes? Ele se manterá longe dela, para sempre desta vez, ela poderá ser livre, feliz.

O celular dele toca. É Lara.

Ele atende e pede desculpas, ela aceita. Combinam de jantar e comemorar o que não foi comemorado no dia anterior. A ferida se cicatriza imediatamente.

Aquela ponte, fundada no solo arenoso dos versos passados, começava a ser reerguida, como já fora inúmeras vezes, esperando para ser concluída, quem sabe, algum dia.

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