Cap 2 ☁️

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Calum Hood

"Calum acorda, acorda, acorda!" escuto Luke gritar através do meu telemóvel. Bendito o dia que deixei que ele colocasse sua voz como meu despertador. Já basta sofrer o bastante com o despertador e ele tem de ser a voz de Luke. Deslizei o dedo pela tela do aparelho fazendo com que o barulho se calasse e passei as mãos no rosto.

Mais um dia.

Só mais um.

Levantei da cama levantando também meus calções que teimavam em cair e fui em direção a casa de banho. Tomei um banho debaixo de água gelada e consegui escutar meu pai a gritar no telemóvel. Decidi ignorar os resmungos do velho ao telemóvel no andar de baixo e comecei a cantarolar a música que ela cantava para mim toda vez que eu começava a me zangar. Meus ombros logo se desarmaram e meu corpo se relaxou. Ela. Esfreguei as mãos no rosto pela segunda vez hoje e o mundo caiu em cima de mim. Chorar parece que não funciona mais comigo, e nem um risco de lágrimas pensou em aparecer nos meus olhos. Peguei a toalha pendurada no cabide ao lado da ducha e apenas a enrolei em volta da cintura e voltei para o quarto me soltando em cima da cama.

"Calum! Desce aqui."  meu pai gritou me fazendo pensar duas vezes antes de levantar e começar a me vestir para ouvir as asneiras que ele iria me falar. Terminei de colocar as roupas e fiz meu caminho até as escadas ouvindo os barulhos da cozinha. Assim que pus meu pé no chão do saguão um dinossauro de brinquedo voôu na minha direção me fazendo abaixar rapidamente e soltar uma risada com a situação. Douglas veio correndo até o brinquedo voador já no chão mas eu o parei, levantando- o no ar acima de minha cabeça.

"Bom dia Calum." ele falou com sua fina voz. Um rastro de meleca escorria pelo seu nariz quase chegando a sua boca. Qualquer pessoa acharia isso nojento. Eu também acho, mas olhando assim para o Douglas, é hilário. Acho que já me acostumei, afinal ele tem apenas 3 anos.

O coloquei no chão e ele apressou-se a pegar sua blusa de listras verdes e limpar a sujeira que tinha no nariz "O que achas de nós irmos limpar esse teu nariz, em?" eu perguntei e Doug apenas assentiu com a cabeça. O peguei novamente no colo e fui até a cozinha onde conseguia ouvir meu pai ao telemóvel pela milésima vez hoje. Assim que entramos senti o olhar do engravatado sobre nós. Não me incomodei em lhe dar um "Bom dia" afinal ele não faz mais questão desse comprimento. Continuei a andar e abri o armário debaixo da pia, pegando em um papel para limpar o nariz do garoto. "O que está fazendo ai, Calum?" escuto a voz rude do meu pai atrás de mim.

Não me incomodei em virar o rosto em sua direção e continuei a procurar pelo papel. "Estou pegando um papel para limpar o nariz do Doug." falei depois de finalmente alcançar o papel. Levantei-me e avistei meu pai já do outro lado da cozinha, sentado ao balcão a mexer no telemóvel. Douglas fungou ao meu lado e eu logo voltei a minha atenção a ele, o levantando e o colocando em cima do balcão para facilitar minha tarefa. Retirei um pedaço de papel e ao encostar com o papel ao nariz do garoto meu pai solta uma tosse forçada. " O que foi agora?" perguntei colocando as mãos no balcão olhando fixamente para ele. O moreno levantou seus olhos do telemóvel e os fixou em mim. "É falta de higiene limpares o nariz do teu irmão na cozinha, não achas?" falou pegando na chavena de café e a levando até a boca.

"Sabe o que eu acho?" levantei o dedo em sua direção. A raiva já me dominando. "Que isso não é minha obrigação. Vosso pai aqui, é você. Eu não me importo de fazer, mas ficar ouvindo tuas criticas é uma merda." Peguei Douglas em cima do balcão e o levei escada acima com o rolo de papel embaixo dos braços. Ao chegarmos ao andar de cima, coloquei Doug no chão e me encostei a parede, escorregando pela mesma até o chão, ficando do mesmo tamanho do garoto. Abaixei a cabeça entre as pernas e elevei as mãos aos cabelos os apertando levemente em frustação.

Senti um toque nos meus ombros. Levantei minha cabeça e vi Doug ajoelhado a minha frente com um sorrisinho nos lábios. Ele esticou seus braços até suas mãos tocarem minhas bochechas e só foi ai que me dei conta de que estava chorando. Douglas limpou minhas lágrimas. "Não chora Ca." Não resisti a soltar uma risada pelo jeito maduro e manhoso que Doug estava agindo. O agarrei e o aconcheguei a mim, colocando sua cabeça em meu peito. Ficamos assim por alguns minutos até que o ouvi fungar e então me dei conta de que nós ainda não haviamos limpado seu nariz. Cutuquei Douglas mas ele não pareceu se mexer. O ajeitei em meus braços e fiz um grande esforço para me levantar com ele ao colo ao mesmo tempo. Felizmente consegui. Caminhei até seu quarto e o coloquei na cama pequena que meu pai havia comprado para ele na semana passada e me lembrei de como ele se orgulhava de já dormir em uma cama 'de gente grande' como diz ele. Fui até seu armário e tirei de lá roupas limpas, visto que as que ele veste estão totalmente sujas de meleca, comida entre outras sujeiras que ele conseguiu se envolver apenas hoje pela manhã. Lhe fiz a troca, jogando a roupa no cesto de roupa suja no canto do quarto. Puxei os lençois da cama até seu pescoço, passando por cima do fato de ainda estarmos de manhã e lhe dando um beijo na testa antes de recolher as pequenas bagunças que ele já havia feito no chão do quarto. Me agachei ao lado da cama a procura de brinquedos perdidos, com certeza que acharia alguns ali

"Boa noite, mamá." Douglas sussurrou se mexendo na cama e se virando para o lado contrário em que eu me encontrava. Senti um aperto no coração ao escutar aquelas palavras saindo da boca de uma criança de 3 anos. Ele tem saudade dela. Eu também tenho. Muita. Tenho saudade da risada histérica dela quando ouvia uma piada totalmente sem graça mas que pra ela era sensacional. Tenho saudade dela gritando na cozinha por ninguém ajudar ela e ela ter de fazer tudo sozinha. Tenho saudade de quando ela me ligava a cada meia hora quando eu estava fora de casa para saber se estava tudo bem e quando eu chegava em casa, ela estava acordada e perguntava se eu estava com fome e se queria que me preparasse alguma coisa. Tenho saudade de seu enorme cabelo preto que estava sempre preso em um rabo de cavalo exceto aos domingos que ficava solto o dia inteiro, para compensar os dias de trabalho no escritório na semana. Tenho saudade dos colares com bonequinhos que ela tinha no pescoço, que eram eu e o Doug e que ela mostrava a cada pessoa que via na rua. Tenho saudade de como os seus olhos brilhavam quando o assunto era o meu pai. Tenho saudade do seu abraço, dos seus tapas, da sua voz.

Respirei fundo e me estiquei mais para pegar o Buzz Lightyear que estava jogado debaixo da cama. Me levantei e joguei todos os brinquedos dos meus braços dentro do grande baú de brinquedos encostado perto a porta. Fechei as cortinas e fiz o caminho até a porta a fechando atrás de mim já no corredor. Coloquei as mãos nos bolsos da calça continuando a pensar no que Douglas disse lá dentro. "Boa noite, mamá." . Enquanto fazia meus passos para meu quarto ouvi a porta de entrada bater. Meu pai já deve ter saido para o trabalho. Andei apressadamente para o meu quarto e apressei a procurar o meu celular. Assim que o achei em meio as cobertas, disquei o número de Luke. Fui com o telemóvel ao ouvido e consegui ouvir chamar.

"Alô." escutei a voz rouca de Luke através da linha.

"Luke, amigo. Acordaste agora?"

"Na realidade s.."

"Tu precisas de vir pra cá. Traz uma garrafa de vodka e mais coisas se quiseres. Só preciso mesmo da garrafa." eu o interrompi.

"Ok então. Já estou a caminho." consegui ouvir um barulho de água, mostrando que Luke já havia se levantado para se arrumar.

"Ok. Obrigada Luke." respondi.

"Não há de que Calum." ele disse com a boca cheia, provavelmente já escovando os dentes. Desliguei o telemóvel e me apressei a mandar uma mensagem ao outros com o mesmo conteúdo da minha conversa com o Luke. Cada um traz uma garrafa de vodka e o que mais quiser. Rapidamente recebi as resposta de confirmação e então decidi me largar na cama e ficar de cabeça para baixo para fora da mesma, tentando aliviar o nervosismo, como sempre faço. Já depois de estar na minha posição de relaxamento, fecho um pouco os olhos. Ao os abrir novamente minha visão é preenchida por uma garrafa de vodka da noite passada em cima da escrivaninha. Olho mais adiante e vejo uma garrafa de Whisky em cima da televisão. Olho em cima da televisão e vejo uma plaquinha pregada na parede. Uma das mil memórias de festas que eu trago para casa geralmente dentro do carro ou até pendurado em mim mesmo, escrito " I Do Not Get Drunk - I Get Awesome."

Eu estou virando um perfeito alcoólatra.

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