— Esqueceu que o mentiroso aqui é você? — rebato.

— Nossa! — Rafael leva uma mão ao peito, fingindo estar ofendido. — Como você é rancorosa, Luisa. Até hoje isso?

Ok, eu achei que levaria mais tempo até ele começar a dizer alguma merda sobre o que aconteceu. Ele gosta de me torturar, mesmo sabendo que ainda machuca.

— Entra logo antes que eu mude de ideia e ligue para a polícia dizendo que você é um ladrão. — Eu bufo, arredando para o lado para que ele passe para dentro.

Rafael solta uma risadinha, umedecendo os lábios e passa por mim, indo direto para sala. Ele cumprimenta Jasmim que dá um sorriso tímido, mas seus olhinhos brilham quando o Rafael desencapa o violão e se senta ao seu lado com o instrumento no colo. Os seus dedinhos passam por cada corda as puxando e causando um som agudo. Eu aproveito que eles estão entretidos e digo baixo que vou ao banheiro. Eu entro no mesmo e puxo o celular do bolso para saber se Marcos me respondeu. Ele pergunta o que está acontecendo, mas diz que já está a caminho. Eu não respondo, porque sei que isso o fará vir o mais rápido possível. Confiro as horas no celular, constatando que ele já saiu da farmácia onde trabalha.

Destranco a porta no maior cuidado do mundo para não chamar atenção. Sigo para meu quarto em passos silenciosos, mas quando chego na porta do mesmo, recuo para trás ao encontrar Rafael parado no meio dele, como meu caderninho nem tão secreto mais em mãos.

Meu estômago gela.

Prendo a respiração e sinto minhas bochechas queimarem quando os olhos de Rafael sai do papel e me encaram, esboçando um sorrisinho convencido.

Eu sabia que era perigoso demais ele dentro da minha casa. Sabia que mais dias ou menos dias ele fuçaria minhas coisas, mas eu não tinha ideia que ele agiria tão rápido.

— Você criou mesmo uma lista? — Ele ri, incrédulo, balançando meu caderninho no ar e depois voltando com ele para seu campo de visão.

O meu sangue ferve ao vê-lo rir do que está escrito. Eu ando depressa até ele tentando o pegar de suas mãos, mas ele é mais rápido em o ergue acima de sua cabeça e por ser alguns centímetros mais alto, eu não consigo o alcançar.

— Me dá isso logo, Rafael! — Eu dou um soco em seu peito quando tento o pegar novamente e ele troca o caderninho de mão. — Você é um abusado, sabia? Você não tem o direito de entrar no meu quarto e mexer nas minhas coisas!

— Abusado. Você esqueceu de adicionar isso aqui na sua lista de dez adjetivos ruins do Rafael — desdenha ele, tentando me afastar com uma mão enquanto ainda luto para pegar o que é meu. Ele está rindo de mim enquanto lê mais alguma coisa no papel. — Ei, eu não sou convencido! Só tenho consciência da minha beleza, afinal eu tenho espelho em casa!

Neste caderninho, há os dez adjetivos ruins que escrevi sobre ele e também a lista com os dez passos sobre como não se apaixonar ou se desapaixonar por alguém, mas Rafael não deve ter tido tempo de chegar nela, pois ele faz questão de dar ênfase em cada um dos adjetivos, fazendo com que eu me sinta uma idiota ingênua.

— Rafael, me devolve, eu tô falando sério — alerto, irritada.

— Ainda não consigo acreditar que você criou mesmo uma lista e que ainda segue ela — repete ele. Eu não entendo o porquê dele está tão espantado, se foi por causa da lista dele que criei a minha. — Luisa, isso já tem o quê? Cinco anos? Éramos crianças!

— Eu não vou falar sobre isso com você! — Dou as costas a ele feito criança emburrada, mas também porque sei que as chances de eu cair no choro em sua frente são grandes, ainda mais depois do pesadelo frustrante que tive com o mesmo.

Como não se apaixonar Where stories live. Discover now