- Está aqui agora e é isso que importa! – Hugo ergue meu queixo com seus dedos e acabo envolvida pelo aconchego que me oferece. Ali era ele apenas, o meu Hugo, e todo o sentimento que achei ter enterrado retorna e me deixa atônita, confusa demais. – Você voltou e não a deixaremos fugir novamente. – Beija a ponta do meu nariz com carinho. – Não a deixarei partir, Betina, sem que saiba o que sempre escondi.

Sentindo-me invadida e um tanto confusa com suas palavras, me afasto de Hugo. Eu temia ser lançada novamente naquela paixão platônica que me fez sofrer tanto. As pessoas costumam dizer que paixões de adolescência não são marcantes e não passam de fogo de palha, mas comigo foi tão diferente e custei tanto para seguir com minha vida, me esforcei tanto para deixá-lo para trás e não ansiar por um namorado que lembrasse Hugo e quando eu acreditava que estava curada dessa paixão, o destino me coloca novamente sob a mira dele, me fazendo questionar minhas próprias escolhas. Mas eu sabia que havia feito o certo em ir embora do Brasil. Eu havia seguido o único sonho que valia a pena e fui feliz por isso ou acreditava ter sido feliz até Hugo cruzar meu caminho novamente.

Hugo respeitou minha necessidade de isolamento e deixou-me a sós novamente com meu tio. Não podia ficar muito tempo dentro da UTI e nem teriam me deixado entrar, caso não tivesse chegado ao hospital na sua companhia.

Aproveitei o pouco tempo para dizer que o amava, que o queria de volta e que o proibia de nos deixar. Tio Breno não podia nos deixar, não podia me deixar. Eu o amava tanto e se não voltasse para mim, não teria mais ninguém para contar na vida.

- Betina! – Viro-me e dou de cara com Hugo encostado na parede fria do corredor. – Estamos fazendo o possível e o impossível. – Eu sabia, eu havia percebido o carinho com que o tratavam. As enfermeiras eram prestativas e os médicos fizeram vista grossa quando me viram na sala fora do horário de visita. – Você precisa ser forte! – Ele fala e acabo correndo para seus braços, querendo ser amparada e amada. Eu queria me sentir amada uma vez na vida e a única pessoa que me fazia sentir assim jazia em uma cama de hospital, ligado a aparelhos, lutando pela vida que já podia ter lhe deixado.

- Se ele morrer... Se ele morrer, não sei o que será de mim! Não tenho ninguém, nunca tive... Ele foi o único que me amou nessa vida, que me deu carinho, que me ensinou a ser o que sou. – Desabafo, deixando-me levar pelo descontrole que havia tomado conta de minha alma. Houve um dia em que prometi não largar mais nenhuma lágrima, nem as de felicidade, mas diante da força do destino, que queria tomar de mim a pessoa que mais amava no mundo, eu apenas conseguia chorar.

- Como pode dizer que você não tem ninguém? E eu e André?! – Abraça-me com tanta força que temo jamais querer sair dali. Era como sempre devia ter sido, penso frustrada, cansada de lutar contra os sentimentos que Hugo sempre me despertou.

- Você nunca contou!

- Como pode falar com tanta certeza, Betina! Eu sempre me preocupei com você, com sua segurança, com sua felicidade.

- Como a uma irmã! – Grito frustrada, esgotada de esconder dentro de mim um sentimento tão forte. – Talvez como a prima órfã de seu melhor amigo, droga! Nunca quis isso de ti, nunca...

- Por favor, compreenda que você sempre me foi importante, tão preciosa que temia machucá-la.

- Pois você me machucou da pior maneira. – Grito, sem me importar em parecer uma histérica. Eu sofria por meu tio estar acamado, eu sofria por tudo que me foi privado e ouvi-lo dizer que eu lhe era importante atiçou um lado meu que não fazia ideia possuir. Eu queria bater nele, fazê-lo sofrer toda a angústia que foi amá-lo em silêncio, vê-lo tocar em outras e mendigar-lhe uma atenção que nunca foi minha.

Outra vez o Amor - AMOSTRAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora