Capítulo 1

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Aline Moraes como Betina

Rafael Cardoso como Hugo

A vida nos prega peças e quando achamos que tudo está perfeitamente planejado, uma notícia nos joga para dentro de um turbilhão de emoções, repletos de saudades do que não se viveu. Sim, eu sentia saudades do que nem cheguei a viver apenas em olhar para o mundo que eu deixava para trás. Moscou tinha sido minha cidade por quase 10 anos e o Teatro Bolshoi minha casa.

Cheguei em Bolshoi acompanhada de meu Tio Breno, apenas com uma mochila e minhas sapatilhas da sorte. Não eram as minhas preferidas, mas foram dadas por meu tio assim que completei 18 anos como a maneira que tentou encontrar para amenizar a dor por ter perdido as antigas. Tio Breno era meu tio emprestado, o marido da irmã de minha mãe. Não conheci meu pai e mamãe não gostava de falar sobre ele, mesmo na beira da morte, recusou a revelar o nome de meu verdadeiro pai ou seu paradeiro, deixando-me só. Minha tia Luiza não gostava de mim, nunca gostou e nunca fiz questão de saber seus motivos.

Eu havia nascido e crescido em Toledo, mas era como se nunca tivesse estado lá e apesar de jurar não pisar mais naquele chão esquecido por Deus, meu amor por Tio Breno e seu delicado estado de saúde me fizeram largar minha carreira e pegar o primeiro avião para o Brasil.

Coloco os fones de ouvido e escolho uma playlist com músicas clássicas, na vã tentativa de me livrar de recordações que sempre me aterrorizaram. Não fui a mais bonita da escola ou mesmo a mais popular, diferentemente de minha prima Isabela, que já tinha o "bela" como parte integrante de seu nome, uma verdadeira preciosidade como cantava minha tia aos quatro cantos de Toledo.

Tio Breno era um cirurgião renomado e muito respeitado. Havia conhecido minha tia quando ainda fazia faculdade na Capital e casaram-se assim que minha tia descobriu-se grávida de meu primo André. Meu avô o convenceu a tentar a sorte como médico em Toledo e foi assim que tudo começou.

Remexo-me muitas vezes na poltrona do avião e não consigo encontrar sossego. Minha preocupação com o estado de saúde de Tio Breno é cada vez maior. André não quis me adiantar nada, apenas que meu tio inspirava cuidados e que os médicos não lhe deram esperanças de que pudesse sobreviver.

Cochilo algumas vezes, sem nunca desgrudar os olhos da tela que fica embutida na poltrona da frente e antes mesmo da comissária de bordo nos dar bom dia, já observava os primeiros raios do sol. Serviram-nos o café da manhã e logo em seguida nos avisaram para apertar os cintos.

- Senhoras e Senhores, por favor, acomodem-se em suas poltronas que dentro de poucos minutos, daremos início aos procedimentos de aterrissagem. – Fala em inglês.

Apesar de tudo ter sido de última hora, havia conseguido um voo para Paris, onde conseguiria uma conexão com o Brasil. André prometeu me buscar no aeroporto de Florianópolis e me levar até Toledo e só esperava que não tivesse esquecido, sempre fora um avoado.

Assim que consegui pegar minha mala na esteira, atravesso as portas à procura de André. Olho para todos os lados e não o encontro e temo que tenha me esquecido como muitas vezes já fez no passado. A solução era pegar um táxi e torcer para que aceitasse cartão de crédito, estava sem nem um real na bolsa.

Peço informações para algumas pessoas que encontrei e quando estou prestes a tomar a direção que me foi indicada, avisto um homem alto e loiro com uma grande placa em mãos, com meu nome gravado: Betina Bittencourt. Não podia existir mais de uma Betina Bittencourt ou podia?!

Aproximo-me sem jeito, temerosa por ser indiscreta, mas nunca saberia se era eu quem procurava se não perguntasse.

- Com licença! – Chamo sua atenção e quando nossos olhos se encontram, meu coração sofre um pequeno abalo. Era ele, só podia ser ele. – Hugo, o que faz aqui?! – Pergunto sem jeito, sentindo meu rosto esquentar como se pudesse voltar a ser uma adolescente.

Outra vez o Amor - AMOSTRAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora