Quinze

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Eu fui acordada às dez da manhã por dona Grace e Donna pois iria para o psicólogo ainda antes do horário de almoço

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Eu fui acordada às dez da manhã por dona Grace e Donna pois iria para o psicólogo ainda antes do horário de almoço. Tomei banho, café da manhã e saí com dona Grace pois ela iria me esperar apenas na primeira consulta.

Entrei no consultório e logo fui atendida por ter chegado em cima da hora e ter consulta marcada.
A sala era ampla e bem decorada ao estilo vintage. Era bem confortável.

— bom dia. Sou doutora Helen Johnson.

A mulher de cabelo moreno que aparentava ter uns anos amais que minha idade falou.

— Hope.

— bem Hope, eu já tenho um pequeno relatório sobre você feito pelo doutor
Jensen e doutora Carol Forbes. Eu gostaria de saber como gostaria de iniciar nossa conversa. Se sinta a vontade para fale tudo o que quiser comigo, daqui nada sairá.

— eu tentei me suicidar.— falei o que veio a cabeça. — eu..eu fiz aquilo porque eu não tinha esperança depois que ele se foi. Eu sou feita de culpa, doutora. Culpa, dor, tristeza… eu nunca fui o que eles queriam, mas eu tentei. Quando encontrei Will eu pude me sentir livre.

A medida que eu falava ela escrevia algumas coisas. Eu tinha tanto para falar, talvez aquilo fosse minha solução mesmo, mesmo que falava tudo confuso.

— Will é o pai do bebê?

— é. Ele..ele era lindo sabe. Alto, negro, forte e um sorriso maravilhoso. Will me levava ao parque, para jantares, passeios  e idas a praia. Ele não tinha muitas condições, seus pais morreram quando ele tinha dezassete e daí ele foi trabalhando e estudando até conseguir com ajuda de vizinhos.— a primeira lágrima caiu.— ele trabalhava em minha casa e era o que chamamos de escape. Com ele eu poderia ser eu mesma, sem medo, sem maquiagem, sem carregar o mundo nas costas. Eu podia falhar.

— como ele reagiu com o bebê?

Sorri com a lembrança.

— ele ficou assustado, eu pude ver. Mas William era forte. Ele me apoiou e disse que iriamos ficar juntos. Ele queria nossa família junta e eu estava disposta a isso também. — eu a encarei pela primeira vez desde que comecei a falar.— sabe quando você se sente perdida, sem chão e que sente o peso do mundo em suas costas te fazendo colidir entre suas paredes e afundar cada vez mais? — ela assentiu.— eu me sentia assim na casa dos meus pais e a cada dia aquilo aumentava e piorava. Mas Helen, nada daquilo se comparou a dor que senti rasgar minha alma de uma ponta a outra. Eu senti cada parte realmente colidir e se rasgar quando vi aquela notícia na televisão e a ironia era que eu saía de algo que era para ser parecido. Era como se eu insulta-se o outro lado e ele levou o que eu mais amava no mundo de lição.

Eu a olhei no fundo dos olhos caramelos sentindo novamente as lágrimas caíram. Ela me indicou a água ao lado de minha poltrona e eu a tomei tentando me acalmar. Eu iria tirar todo aquele peso de mim um dia e aquilo era um processo. Mas eu precisava me acalmar pelo meu bebê.

— aquilo era para ser para mim e acabou levando ele no que eu havia planejado.

— o que quer dizer com planejado? Você tentou se suicidar mais de uma vez?

Neguei.

— é doloroso lembrar.

— quando estiver a vontade.

— podemos falar de outra coisa?

— claro. De quê quer falar?

— Kyle.— sorri.— ele me salvou quando eu tentei me afogar. Ele foi a única pessoa a me ver realmente quebrada e mesmo que os outros tenham me visto chorar, ele me viu destruída.

— como Kyle é para você?

— um grande amigo que nunca conseguirei agradecer. Kyle me trouxe para Nebraska quando eu queria mais distância do meu passado. Eu meio que o obriguei sabe? Eu chorei e implorei para que ele me trouxesse e ele trouxe! Eu estou na casa dele e ele me ajuda demais. Eu preciso encontrar um emprego rápido e um lugar para ficar, não quero dar trabalho mais que já dei.

— e o que ele diz sobre isso?

— ele diz não se importar.

— como é vossa convivência?

— boa. Ele é um ótimo amigo, está sempre comigo e me ajuda em tudo. Ele é divertido e um fofo.

— é bonito?— ela sorriu de leve.

— é. Muito.

— e amigas, já fez?

— uma. Olivia Stone. Uma louca em minha vida.

— ela já sabe do bebê?

— sim. Ela adorou!

— e você? Como se sente perante a uma gravidez tão cedo nessa situação?

— maioria das vezes, fraca. Eu sinto que vou falhar com meu bebê e ainda ele não terá o pai aqui para ajudá-lo. Eu perco a força, mas tento buscar a minha na dele, como Grace disse.

— o sentimento de falha é normal. Acontece em todas as mamães de primeira viagem. O segredo é não pensar muito e tentar estar preparada. Vai ter momentos difíceis onde você vai querer chorar com ele mas faz parte. Até a mãe mais velha do mundo não nasceu mãe. Teve que aprender, você também terá. E outra coisa que vai ajudar é o amor incondicional que você sente. Você o ama e tudo só aumenta como se fosse explodir.— eu soltei um risinho e ela me acompanhou.— quando o tempo passar, você vai notar que está orgulhosa do seu bebê que já come sozinho.

— tem filhos?

— um de três anos. Também foi difícil, eu estava ainda na universidade mas consegui.

Quando saí da sala sorri para dona Grace e ela veio me abraçar.

— como foi?

— muito bom.— falei.— realmente ótimo, eu precisava daquilo.

— ótimo, então vamos voltar e alimentar essa coisinha pequena. Vamos almoçar fora.

— e Kyle?

— ele está com Malia.

— hum. Posso chamar uma amiga?

— claro!

Fiquei o número de Liv e ela atendeu no quarto toque. A convidei para um almoço num restaurante perto do parque onde vendiam comida italiana.
Contei a elas o meu dia e elas fizeram o mesmo. Dona Grace acabou por contar algumas coisas e me explicar direito sobre essa novidade de ser mãe me fazendo dar algumas risadas ou então arregalar os olhos.

HOPE || Primeiro LivroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora