Aquele das desculpas

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Leon parecia ter se desfeito diante dos meus olhos, mas não; eu estava apenas perdendo o cara mais transbordante que eu havia conhecido na vida, e nesse momento me arrependi de ter aceitado aquela aposta. Me arrependi de sequer ter entrado naquele cruzeiro, topado essa viagem maluca que eu não queria, mas fui praticamente obrigada a ir.

Minhas amigas não tinham culpa – muito menos Yumi. Ela estava bêbada, e madrugada a fio, enquanto eu chorava no colo de Paula, ela chorava também se desculpando, mas já era tarde para tanto.

Eu estava perdidamente apaixonada por Leon, e nem tinha me dado conta disso. Percebi quando eu simplesmente o perdi.

E ali, começou a minha lição de vida.

Não errei por beijar quantas bocas eu queria beijar; não errei por querer me divertir com as minhas amigas em uma viagem que não voltaria atrás; não errei por querer extravasar meus dias de folga antes da minha vida voltar a ser um grandioso caos; não errei por querer ter liberdade; afinal, somos mulheres e não precisamos ser santas.

Mas desde o momento em que vi o cara que eu amava – isso soa MUITO estranho para mim – me dando as costas, eu percebi que errei em usar pessoas. E foi exatamente isso que eu fiz: desde o primeiro minuto, usei pessoas para alimentar uma aposta que havia feito com as minhas amigas.

"Ah, mas homem também faz isso", mas eu não quero ser um homem, muito menos ser comparada à um. Se julgamos atitudes que não gostamos do gênero masculino, não devemos aplaudir mulheres que têm a mesma atitude só por ser mulher. Isso é hipocrisia.

E de verdade, eu havia parado para pensar só agora; depois de ter usado pessoas, depois de ter perdido alguém. E voltamos a estaca zero: só damos valor, quando perdemos.

– Moara, você não é vaca para ficar remoendo coisas – Paula tentava me animar com seu jeito delicado. – Já passou, sabe? E acho que a única coisa que você pode fazer é se desculpar, não tem outra opção, pois infelizmente não tem como voltar atrás.

E foi então que eu voltei a "remoer". Se tivesse oportunidade de voltar atrás, eu não iria querer desfazer nada, pois agora estou percebendo tamanha cagada que fiz.

"Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa sangrar."

– Eu posso tentar corrigir isso – sentei na cama, e limpei as lágrimas das minhas bochechas.

Já se aproximava das 10h quando levantei-me e tirei aquele vestido volumoso da noite de gala. Procurei por uma calça e uma blusa de moletom dentro da mochila, escovei os dentes e corri até o quarto de Leon.

Minha primeira ideia foi me desculpar com todos os caras. Porém, o primeiro foi um embuste que me assediou e eu não queria nem vê-lo de longe, quem dirá me desculpar por algo; o segundo foi o gringo maravilhoso que já havia desembarcado em Copacabana; o quarto fora o que havia me enganado para me levar para cama; o quinto tinha sido Duca Vianni e eu com certeza era apenas mais uma em sua lista, e por último (na verdade na ordem de beijos, terceiro) e mais importante Leon.

O único que havia sido sincero e gentil o tempo todo, que estava de coração e portas abertas pra mode a gente se amar, eu havia usado descaradamente.

E ele de fato, merecia um pedido de desculpas formal, mesmo que não fosse me desculpar. Mesmo que nem quisesse falar comigo... Mas eu estava tentando me redimir e não iria desistir assim tão fácil.

Assim que bati na porta, ouvi vozes do lado de dentro, e meu coração acelerou. A ansiedade tomou conta de mim, e minha garganta secou. Era como se eu tivesse entrando na quadra de vôlei como líbero do time para ganhar a final de um campeonato importante.

Como Sobreviver Em Um Cruzeiro [COMPLETO]Where stories live. Discover now