Surpresa

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Dia 21

Tomei uma distância considerável da "cidade do telefone" nos últimos três dias. Usando as estrelas para me localizar e minha bússola para me movimentar, acredito que chegarei ao ponto das coordenadas em poucas semanas. Três é o meu palpite. Mas minha intenção com o relato de hoje não é registrar informações sobre a viagem, e sim tentar organizar minhas ideias, tal como fiz no relato do primeiro dia. Encontrei uma loja de livros antigos. Também estavam à venda jornais e revistas muito velhos. Muito mais velhos do que aqueles que encontrei nas escolas e bibliotecas pelas quais passei. Comparando o mais antigo com um dos que trouxe comigo da base militar, estes têm quase duzentos anos. É impressionante o quanto papel é durável. Trazem relatos da Guerra. Foi a muito mais tempo do que imaginei, e assim sendo, de início confirmei logo que tinha morrido, já que nenhum ser humano viveria tanto tempo assim, mesmo que dormindo. Enfim, algumas das notícias dos jornais e das matérias especiais das revistas tratam de uma conspiração. Os alienígenas teriam moldado seres muito similares aos humanos, misturando estes seres à população. Alguns teriam chegado a cargos políticos, outros militares. Estariam planejando uma grande arma biológica, que supostamente exterminaria os alienígenas. Mas como poderia ser, se os nossos melhores cientistas não entendiam nada sobre os invasores? A arma biológica era para os humanos. Os soldados extraterrestres infiltrados acionariam as bombas, nos locais sinalizados via sinal de rádio e outros meios de comunicação digitais e analógicos. Muitas dessas publicações postaram pedidos de desculpas e retratações dias depois, a mando das autoridades. Após o dia marcado para o ataque biológico, alguns jornais celebram a vitória dos humanos, com a retirada dos aliens. Outros, no entanto questionam as mortes de humanos, e denunciam que os alienígenas já estavam deixando a Terra dias antes. Logo todos os jornais estão fazendo o mesmo tipo de publicação, questionando as medidas tomadas. Apontando para a possibilidade de infiltrados terem sido deixados entre nós, para nos estudarem, aprenderem melhor sobre nossas fraquezas, sobre o que podem explorar de nosso planeta; como fazer uma invasão bem-sucedida, já que falharam em uma tentativa de quinze anos. Noticiando guerras que teriam sido incitadas pelos alienígenas. Doenças que teriam espalhado. Tudo para exterminar a raça humana de modo silencioso e depois voltar. Teriam deixado sinais para os que ficaram. Pinturas nos muros ou pelo chão. Mensagens no rádio. Sons estranhos em alto mar. Imagens sem significado espalhadas pela internet. Aos poucos – e depois de longos anos – as publicações começam a falar sobre o ressurgimento da civilização como conhecemos, até que encontrei edições "recentes" com o mesmo tipo de notícia que vinha encontrando enquanto atravessava as cidades todas até aqui. Todas vazias. A verdade é que já atravessei pelo menos dois países nesses vinte e um dias. Não tem ninguém, não é um simples isolamento. É como se a sociedade tivesse se reerguido e repentinamente, desaparecido. Estas leituras me desnortearam. Sinto um turbilhão de dúvidas e incertezas, como quando acordei. Só, sem fome, sem sede, sem necessidade por contato visual ou conversas. A salvo em meio a destruição e morte. Encontrando sinais de rádio e telefones malucos. Coordenadas geográficas. Mas sou oficial das Forças Armadas. Dominique Chamz Zapovisch. Identificação 73SS.

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⏰ Last updated: Aug 23, 2018 ⏰

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