Capítulo 9: Confissões

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Capítulo 9: Confissões

Cinderela

        Eu tinha sete anos de idade quando conheci a Gabriela, foi em uma peça produzida pelo pai dela no Teatro Municipal, lembro-me que meu pai dizia que ele era o melhor produtor de comédias e que aquela seria a primeira produção de uma peça romântica que ele iria fazer. Eu adorava o teatro, não era nem tanto pela peça, mas sim pelas pessoas que vestiam roupas tão bonitas e pelo teatro que me fazia achar que eu estava vivendo em outra época. É um lugar de tanta história e de tantas vibrações que faz a gente viver com tanta intensidade tudo o que eles produzem. Enfim, a partir dali viramos muito amigas, ela sempre ia nadar na minha piscina, e eu já dormi várias vezes na casa dela durante toda a minha infância, porém quando cheguei aos quatorze anos a nossa amizade começou a murchar, não era porque eu não gostava mais da Gabriela, todavia minha mãe adoecia e tudo o que eu queria fazer era ficar ao lado dela.

        Foi em julho, o mês do inverno que minha mãe me contou sobre sua doença, eu estava no meu quarto organizando minhas roupas no meu guarda-roupa, tinhamos acabado de chegar de viagem e naquele domingo chuvoso ela se sentou na beirada de minha cama, sua pele já estava tão branca e seus olhos tinham tantas olheiras que ela parecia ter envelhecido uns 10 anos em poucos meses. Ela me deu um sorriso cinzento para mim. 

— Oi mãe, você está bem? — Coloquei minha última jaqueta dentro do armário e continuei de pé olhando para ela que parecia tão triste. 

— Estou sim minha filha, sente-se ao meu lado? Por favor. 

Sentei-me ao seu lado na beirada da cama e olhei para ela que me desviou o olhar, esse que ficava pairando por todo o meu quarto. Depois de um breve tempo ela novamente me dirigiu a palavra. 

— Preciso te contar uma coisa. — Ela voltou seus olhos castanhos escuros para mim e sua feição parecia séria e ao mesmo tempo indecifrável.

— Fale mãe! Diga logo! — Eu não gosto de suspense, sempre fui uma pessoa muito ansiosa e então mudei meu tom de voz e acabei sendo grossa com ela.

— Se acalme Cinderela! Não fale assim comigo. Eu preciso que entenda bem o que irei dizer a você. 

Concordei com a cabeça abaixada, e em seguida minha mãe colocou suas mãos em meu queixo e levantou meu rosto. 

— Cinderela, você é uma menina maravilhosa e eu acho que está grande o suficiente para enfrentar esse tipo de coisa. Eu estou muito doente e até agora não temos uma cura para o que eu tenho. 

Meu coração subiu pela boca quando vi seus olhos se estreitarem e escurecerem, em outras palavras ela dizia para mim que estava morrendo e que não havia nada que pudesse ser feito para que isso não acontecesse em breve. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas, eu já sabia que algo estava muito errado com ela. Ela estava vivendo em hospitais, emagreceu uns vinte quilos, seu rosto já não tinha mais tanta alegria, meu pai e ela viviam cochichando pela casa coisas para que eu não pudesse escutar, mas eu não fazia ideia do que poderia ser, eu tinha apenas quatorze anos e nem sabia direito o que era uma função do segundo grau. Segurei meu choro e passei as mãos em meu cabelo, minha mãe chegou mais perto e me abraçou bem forte.

— Minha filha, vai ficar tudo bem! —  Sua voz rouca ecoava em meus ouvidos enquanto ela passava suas mãos em meus cabelos, meu coração não aguentou e então as lágrimas rolaram de meu rosto. Eu me soltei de seu abraço e enxugue fracamentei minhas lágrimas. 

— O que você tem mãe? — Eu perguntei olhando para ela com a voz fraca por causa do choro. 

— Isso não importa meu bem! 

4 Amigas e os Passos de CinderelaWhere stories live. Discover now