Eunectes baetata

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A caminho do vilarejo ribeirinho, lembrava-me os motivos da expedição. Dos pertences deixados a mim como herança do falecido amigo, um arcaico livro taxonômico da Amazônia. Das espécies catalogadas, uma em questão, chamou-me a atenção. Nem após pesquisas encontrei algo semelhante àquela enorme serpente, abaixo da representação, lia-se "Eunectes baetata".

No vilarejo, hospedei-me numa palafita, habitação suspensa três metros através de estacas de madeira cravadas no rio, cobertura de folha seca trançada. Da população, questionada sobre a espécie, ouvia-se histórias de arrepiar, e não eram de longo prazo, crianças desapareciam sem deixar rastros, só restando os testemunhos oculares: "Uma cobra gigantesca nadava pelo rio, era possível ver seu bucho se movendo, tinha algo dentro se debatendo, certeza". Dizia-se que subia pelas estacas de madeira e abrigava-se na cobertura, no silêncio da noite atacava as vítimas já em sono, que nada podiam fazer. O que diferenciava-a era sua incrível inteligência e incomuns olhos na cor do fogo.

Ansioso pelo dia seguinte para ir em busca de mais informações sobre a espécie, dormimos eu e o anfitrião. Clima úmido, o calor da região sufocante, mal conseguia inspirar. E a respiração pesada, os pulmões lutando por oxigênio, a movimentação limitada. Senti a constrição em meu corpo, imóvel e asfixiando, a textura das escamas pegajosas contra minha pele, vi os olhos flamejantes engolindo meus pés. Ouvindo meus gemidos, o anfitrião acordara; na vassourada espantou o bicho, soltando-me sem pressas, escapou pela janela. Não dormi nenhum dia depois, paranoico, aguardei com o facão em mãos.

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⏰ Last updated: Aug 12, 2018 ⏰

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