Dromomania

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Com toda esta compilação de pensamentos a rodar na minha cabeça, o percurso que devia de demorar umas 2horas e pouco, no meu cérebro foi como se esse tempo se tivesse reduzido a metade. Na verdade, eu gosto de ficar entretido a pensar nas coisas mais aleatórias possíveis. Tinha combinado com o Alex e o Francisco me encontrar com eles à saída da autoestrada. E rapidamente ali chegamos. Avistei aqueles dois energúmenos sentados na berma do passeio, a rirem se para mim com ar de gozo. Que raiva! De certa forma eles podiam ter tentado impedido que aquela situação tivesse acontecido. Mas enfim, não lhes consigo ganhar raiva. E afinal de contas consegui chegar a horas a Sintra.

Francisco: Pedrinho!! – diz ele num tom de troça.
Pedro: Vai te foder meu! Onde estão as minhas coisas ?
Francisco: Ainda por cima ? Para a próxima não te trazemos a mochila. És pobre e mal agradecido.
Pedro: O que ?!!!! – Mirei-o com um olhar, que por si dizia tudo. Mas logo mudei de feitio ao ver aquela sua cara de gozo. Aquele gajo…
Francisco: Vamos ao mais importante! Pedro, quem são as tuas amigas ??
Pedro: Esta é a Maria, e esta a Luísa.- disse apontando para as suas respetivas identificações. Meninas, estes são os famosos “amigos”. O Alex, e o Francisco.
Maria e Luísa: Um prazer!
Francisco: O prazer é todo meu. – disse com aquele seu sorriso de engatatão.
A Luísa riu-se com a maior troça do mundo. De facto o Francisco estava a ser ridículo.
Alex: Então vocês também vieram para o “Festival Das Bandas”?
Maria: Sim, nós temos uns amigos que vão atuar. Viemos dar uma força.
Alex: Boa! Fizeram bem. Nós vamos estar aqui a semana toda, talvez depois combinamos alguma coisa…
Luísa: Sim.. Talvez arranjamos tempo…
Definitivamente, a Luísa não foi com a cara do Alex e do Francisco.

Nisto, ouvimos a buzina do carro da Laura.

Alex: Bora pessoal! Está aí a minha prima.
O Francisco e o Alex dirigiram se para o carro da Laura, a Luísa foi ligar o seu fantástico Renault 205 que custava a pegar, e eu fiquei apenas com a Maria.

Pedro: Bem… muito obrigado por isto a sério. Vocês foram espetaculares comigo.
Maria: Ahahhaha! Na boa! Só te ajudei porque és demasiado aluado para ser um predador sexual.
(Rimos os dois)
Maria: Vou andando! Gostei de te conhecer.
E sorriu-me com um sorriso de orelha a orelha, mostrando os seus dentes brancos e direitinhos. Que ela era linda, era um facto!
No meio de este mini diálogo, quando olhei para o carro da Laura, estavam os três a olhar para mim, e a rirem se dentro do carro como se fossem o Cúpido. Já estavam a fazer filmes nas suas cabeças.

Laura: Pedrinho! Há quantos anos!! Tás a ficar um homem.
Pedro: É verdade, já não nos víamos há bastante tempo. Como vai a faculdade?
Laura: Vai correndo…

A Laura era alguns anos mais velha que nós. Ela estudava numa faculdade em Lisboa. Estudava medicina geral já a alguns anos. Os meus pais deixaram que eu alinha-se nesta viagem com a condição de ficarmos na casa da Laura, e que ficamos sobre o seu visionamento. Mas a parte boa no meio disso era que a Laura ainda era mais maluca que nós os três juntos. Já tínhamos feito coisas muito divertidas com ela. Quando digo “divertidas” incluí irresponsáveis também.

Alex: Então prima? Já não moras ali?- disse ele enquanto via a Laura a seguir em frente do prédio onde morava antes.
Laura: Nop! A senhoria expulsou-me por ter partido um quadro de família.
Francisco: Hahaha! Como é que partiste isso ?
Laura: Olha… não foi de propósito. Estava a limpar o quadro e … Ups! Lá se foi.

Aquela monótona conversa parecia estar a ser bastante interessante para eles. Já eu, não me saía da cabeça aquele sorriso da Maria, que numa fração de segundos, se penetrou no meu cérebro. Manias minhas… provavelmente nunca mais a voltarei a ver.
Finalmente chegamos a casa da Laura. Era uma casa bem pequena, mas moderna. A decoração era bastante típica de uma mulher que vive sozinha, mas ao mesmo tempo super desorganizada. Havia roupa pousada em quase todos os puxadores das portas, havia loiça em todos os móveis, apontamentos de matérias que eu nunca vi na minha vida, deixados no sofá, na mesa de jantar…

Pedro: “Sistema hormonal dos animais ruminantes”. Que interessante sem dúvida. – li um título de um resumo que estava pousado na mesa.
Laura: Isso está a dar cabo de mim. Quero ver se adianto matéria para o próximo ano que vem aí.
Francisco: Esquece isso agora. Esta semana é para curtir!
Laura: É verdade! Vai saber bem esta semana. Pedro, como é que aconteceu aquilo? Como é que perdeste a camioneta?
Pedro: Quando o atendimento de balcão é “bem feito” e aliado a uma “boa “ amizade de dois amigos que supostamente, não me deixam em circunstância alguma, em situações de desconforto… isso é só uma copo de água. – digo ironicamente enquanto olho com cara de cú para o Francisco e o Alex.
Eles não se pronunciaram em relação a isso, simplesmente fizeram os dois uma cara de gozo. E riram-se da minha cara.

**
A manhã passou, e começou se a aproximar a hora de almoço. Acabamos por ir almoçar a um restaurante de comida de plástico. Era um grande sacrifício para os quatro…(ironia) o fast food foi só uma das melhores invenções do mundo! Talvez só mesmo o telefax é capa de superar tal invenção. O resto do dia passou bem rápido, durante a tarde, fomos passear a Lisboa. Sempre gostei do Porto, e pessoalmente acho mais bonito o Porto do que Lisboa. Lisboa tem um ar mais alegre, mais vivo, mais quente. Não deixa de ser uma bela cidade. Já o Porto, transmite mais melancolia, mais tristeza… Talvez seja por isso que goste mais do Porto. Quando não tenho nada para fazer, ou simplesmente me apetece respirar o ar frio da Ponte D.Luis, costumo ir para lá meditar sobre coisas que me possam por de certa forma desconfortável. O mais impressionante é que gosto de ser diferente. Não gostar das mesmas coisas, não ouvir o mesmo estilo de música, não pensar da mesma forma, mesmo quando isso implica não estar sempre certo. Aliás, quase nunca …
Começou a tarde a passar, e não tardou para o crepúsculo aparecer. Comecei a sentir-me mal com o facto de não estar a conseguir acompanhar a pedalada do Francisco.

Francisco: Hoje a noite? É para curtir.. Laura onde vamos?
Laura: Ainda não te chegou rapaz? O dia todo fora de casa e mesmo assim não te chega ?
Francisco: Ai que anjinhos! Alex, diz aí à tua prima como é que é. Vamos engatar umas meninas?
Alex: Por acaso… Pedro? Vens?
Pedro: Eu passo. Estou morto. Só quero deitar me na cama a dormir.
Alex: Que cortes! Laura? Vamos nessa!
Laura: Tem que ser né? Vocês são meio tolos. Ainda se metem em problemas. Pedrinho, tens a certeza que não queres vir?
Pedro: Sim, eu vou para casa dormir para amanhã estar a 100%.
Laura: Fazes bem. Tenho comida no frigorífico, é só pores a aquecer no micro-ondas. Como qualquer coisa antes.
Pedro: Ok não te preocupes.

Separei me então deles. Comecei a subir a rua e logo cheguei ao prédio da Laura. Enquanto subia as escadas as pestanas e as pernas pareciam que pesavam uma tonelada. Estava realmente cansado. Abri a porta do apartamento, e fui diretamente para o quarto onde me foi indicado pela Laura. Deitei me de barriga para o ar numa das camas. E aterrei por completo na terra do sono mais profundo.

A um traço de loucuraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora