Calebe saiu com Kim e eu fiquei ali sentado em silencio observando Theodor, que também não tinha muito a dizer.

Depois de alguns minutos calados.

-- Qual é o seu poder? – Theodor perguntou tentando quebrar o gelo.

-- O que? – Fingi desentendimento, eu não queria falar justo sobre aquilo com alguém que sabe menos do que eu.

-- Você disse que os... Bruxos como você têm dons... Qual é o seu? – Ele insistiu.

-- Eu... Não sei bem como funciona tudo isso... – Eu tentava evitar o seu olhar curioso. – Eu, meio que... Hipnotizo as pessoas. Foi o que eu fiz com aquele outro policial.

-- Bem que Kim falou que o policial Borges não iria ser simplesmente dominado por um garoto, como ele falou para o delegado em seu depoimento depois da sua fuga. – Ele disse pensativo. – Então você faz as pessoas dizerem o que você quer que elas digam... Tipo controla as ações dos outros... Por que não faz isso com agente?

-- Eu não sei como isso funciona. – Falei serio, eu realmente não queria falar sobre aquele assunto com ele, principalmente pelo modo que ele me olhava. Era evidente que ele me achava um completo maluco. – E também não quero deixar vocês desprotegidos a mercê de Catarina e do Otto. Eu não sei o que pode acontecer com vocês agora que sabem sobre os bruxos. Não quero me sentir culpado pela morte de dois idiotas, que simplesmente não sabem ficar na sua.

Ele não insistiu mais. Acho que a rispidez em minha voz surtiu o efeito desejado.

Minutos depois Kim desceu com Calebe em sua cola, eu quase ri da forma em que o meu amigo se comportava. Parecia um carcereiro levando o presidiário para a sela. Depois foi a vez de Theodor subir com Calebe, eu insisti para levar o baixinho, pois ele já havia cuidado do grandão, mas Calebe sabia ser mais teimoso do que o normal.
Agora de frente para Kim, eu me encontrava envolvido no mesmo silencio de anteriormente. Eu não tinha muito a ser dito.

-- Olha... – Kim começou. – Nós não temos motivos para confiar um no outro, mas eu não acho que você seja quem eles procuram. Digo... O cara que matou aquelas crianças na escola, com certeza não teria pensado duas vezes antes de matar nós dois aqui. Não estou dizendo que acredito totalmente na sua historia, afinal eu seria louco se acreditasse assim de primeira... Mas estou disposto a te dar meu voto de confiança.

Ele estava usando uma calça jeans e uma camisa gola polo preta, que ficava um pouco apertada nele, marcando os músculos nos braços.  Os seus olhos verdes me fitavam com aquele ar de seriedade que somente pessoas muito bem disciplinadas sabiam ter.

-- Seria pedir muito para que você acreditasse cegamente em tudo o que eu disse, quando até mesmo eu duvido. Mas... Eu agradeço a confiança.

-- O meu dever é promover a justiça... E não acho que você seja uma má pessoa.

-- Obrigado. —Agradeci ao perceber que estava sendo sincero. -- Kim... Eu não sei se é seguro pra vocês dois voltarem para a cidade, mas também não quero ter de forçar vocês a ficar... A questão é que conosco vocês não estão seguros o suficiente, mas estarão melhores do que sozinhos. Eu não sei quais as consequências pra vocês agora que sabem sobre os bruxos.

Ele assentiu.


-- Ele é um bom amigo. – Ele sorriu se referindo a Calebe. – Disse que se eu fizesse algo contra você ele arrancaria a minha cabeça.

Eu ri. Calebe e seu temperamento alterado.

-- Bem... – Pensei antes de continuar. Calebe e eu éramos amigos? Nos conhecíamos a tão pouco tempo, mas já devíamos tanto um ao outro. Ele salvou a minha vida e eu salvei a dele e agora estávamos os dois escondidos dos Rily. Nós nos dávamos bem, e eu confiava nele. – Nos conhecemos há pouco tempo, mas as coisas funcionam entre agente, sabe? Cuidamos um do outro.

-- Eu e o Theo nos conhecemos há pouco tempo também... Eu gosto de trabalhar com ele, apesar de ele ser um pouco cabeça dura. – Ele riu. – Mas é muito inteligente. Aquela coisa de um ser os músculos e o outro o cérebro...

-- Entendo.

-- E essa sua família... – Ele falava calmo. – Catarina pareceu tão convincente quando esteve na delegacia e no hospital.

-- Você a conheceu?

-- Sim.

A amaldiçoei em silencio, Catarina realmente conseguiu estragar a minha vida de todas as maneiras. Ela matou o meu pai, meu melhor amigo, meu mordomo, que era como um segundo pai, tentou matar Calebe e prendeu a lembrança de um psicopata a mim.

Eu odiava Catarina Rily.
Eu odiava todos os Rily.

-- Ela foi convincente quando fingiu que eu era importante pra ela. – Falei enfim.

-- Você tem alguma ideia sobre o que vamos fazer agora?

-- Tem uma cidade chamada Nebulosa... Eu não sei exatamente onde é, mas Calebe sabe. Estaremos seguros lá.

-- Quando partimos?

-- Tenho que falar com Calebe sobre isso. Não sei o que fazer. Eu estou realmente perdido.

-- Não se preocupe. – Ele se inclinou em minha direção e me olhou nos olhos. – Vai dar tudo certo.


O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora