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TRINA COLOCOU A casa à venda algumas semanas depois de ela e papai ficarem noivos. Kristen é corretora de imóveis e disse que agora era a hora de vender, porque as pessoas gostam de comprar na primavera. Ela estava certa; um casal fez uma proposta na mesma semana, mais cedo do que qualquer um poderia ter imaginado. Papai e Trina achavam que a casa ia ficar à venda por pelo menos um mês, mas agora o pessoal da mudança está levando caixas e mais caixas para nossa casa, e tudo está acontecendo na velocidade da luz.

Nunca houve uma grande discussão sobre quem ia morar com quem; só pareceu certo que Trina viesse para cá. Primeiro, nossa casa é maior, mas também é mais fácil fazer a mudança de uma pessoa do que de quatro. Teoricamente. Para uma pessoa, Trina tem muita tralha. Muitas caixas de roupas e sapatos, os equipamentos de exercício, algumas peças de mobília, uma cabeceira enorme forrada de veludo que sei que provoca horrores no papai.

— Se fosse eu, não ia querer me mudar para a casa de outra mulher — diz Chris.

Ela está perto da janela do meu quarto, vendo Trina orientar os funcionários do caminhão de mudança. Chris passou na minha casa a caminho do trabalho para pegar um par de sapatos emprestado.

— Que outra mulher? — pergunto.

— Sua mãe! Eu sempre teria a sensação de que a casa ainda é dela. Que ela escolheu a mobília, o papel de parede…

— Na verdade, Margot e eu escolhemos boa parte. Eu escolhi o papel de parede da sala de jantar; ela escolheu a cor do banheiro do andar de cima. — Eu lembro que Margot, mamãe e eu nos sentamos no chão da sala com todos os catálogos de papel de parede e amostras de carpete e de cores de tinta. Ficamos a tarde toda examinando detalhadamente cada catálogo, com Margot e eu brigando sobre qual tom de azul era o certo para o banheiro que dividiríamos. Eu pensei em azul-turquesa, e Margot pensou em azul-celeste. Por fim, mamãe nos fez jogar pedra, papel e tesoura para decidir, e Margot ganhou. Eu fiquei emburrada até vencê-la na escolha do papel de parede.

— Só estou dizendo. Se eu fosse Trina, ia querer começar do zero — diz Chris.

— Bom, isso é meio impossível quando seu futuro marido tem três filhas.

— Você entendeu. Tão do zero quanto possível.

— Eles compraram uma cama nova, pelo menos. Chega amanhã.

Chris se anima com isso e se senta na minha cama.

— Eca, é bizarro pensar em seu pai fazendo sexo.

Eu dou um tapa na perna dela.

— Eu não penso nisso! Então, por favor, não toque no assunto.

Ela puxa os fiapos do short curto.

— Trina tem um corpo lindo.

— Eu estou falando sério, Chris!

— Só estou falando que mataria para ter um corpo daquele na idade dela.

— Ela não é tão velha.

— Mesmo assim. — Chris me olha com doçura. — Se eu abrir a janela, posso fumar aqui?

— Acho que você já sabe a resposta a essa pergunta, Christina.

Ela faz beicinho, mas é só cena, porque ela sabe que eu não ia dizer sim.

— Ugh. Os Estados Unidos são tão irritantes com relação ao fumo. Tão limitados.

Agora que Chris vai para a Costa Rica, ela olha com desprezo para tudo que é americano.

Ainda não consigo acreditar que ela vai embora.

— Você não vai mesmo ao baile? — pergunto.

— Não vou mesmo.

— Você vai se arrepender de não ir — aviso. — Quando estiver trabalhando na fazenda na Costa Rica, vai se lembrar de repente de que não foi ao baile e vai sentir um arrependimento horrível, e vai ter sido culpa sua.

— Duvido muito! — diz ela com uma risada.

Depois que Chris sai para trabalhar, fico no computador na cozinha pesquisando vestidos de madrinha e/ou de baile, e papai e Trina entram em casa quando terminam de conversar com o pessoal da mudança. Tento parecer ocupada, como se estivesse estudando, para o caso de eles me pedirem para ajudar. A espertinha da Kitty sumiu nos últimos dias, e estou arrependida de não ter feito a mesma coisa.

Papai se serve de um copo de água e seca o suor na testa.

— Você precisa mesmo trazer a esteira? — pergunta ele a Trina. — Nem está funcionando direito.

— Está funcionando muito bem.

Ele engole o resto da água.

— Nunca vi você usar.

Ela franze a testa.

— Isso não quer dizer que eu não uso. Quer dizer que não uso na sua frente.

— Certo. E quando foi a última vez que você usou?

Ela semicerra os olhos.

— Não é da sua conta.

— Trina!

— Dan!

Esse é um novo lado de papai: brigão, que perde um pouco a paciência. Trina desperta isso nele, e sei que pode parecer estranho, mas fico feliz por isso. É uma coisa que eu nunca tinha percebido que havia sumido nele. Existe a vida pacata, uma vida contente, sem altos e baixos radicais, e existem todos os atritos de quando se está apaixonado por alguém. Trina demora uma eternidade para ficar pronta, o que deixa papai louco, e debocha dos hobbies dele, como a observação de pássaros e os documentários. Mas eles combinam.

Agora e para sempreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora