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DE MANHÃ, PAPAI me leva para a escola, para eu pegar o ônibus fretado.

— Me ligue assim que estiver acomodada no quarto — diz ele enquanto estamos parados no sinal de trânsito perto da escola.

— Pode deixar.

— Você pegou os vinte dólares de emergência?

— Peguei.

Ontem à noite, papai me deu uma nota de vinte dólares para guardar no bolso secreto do casaco, só por precaução. Também estou com o cartão de crédito dele para gastar um pouco. A sra. Rothschild me emprestou um guarda-chuva pequenininho e um carregador portátil do celular.

Papai me olha de soslaio e suspira.

— Está tudo acontecendo tão rápido agora. Primeiro, seu passeio de último ano, depois o baile, depois a formatura. É só uma questão de tempo até você também sair de casa.

— Você ainda vai ter Kitty. Embora a gente saiba que ela não é um raio de sol. — Ele ri. — Se eu passar para a UVA, vou para casa toda hora, então “don’t you worry about a thing”. — Eu canto como ele cantou, imitando a voz de Stevie Wonder.

* * *


No ônibus, me sento ao lado de Peter, e Chris, com Lucas. Achei que seria difícil convencê-la a vir no passeio, e teria sido mesmo se a Disney houvesse ganhado. Mas ela também nunca foi a Nova York, então acabou sendo fácil.

Estamos na estrada há uma hora quando Peter faz todo mundo jogar Eu Nunca, e finjo estar dormindo. Nunca fiz muita coisa em relação a drogas e sexo, e é só disso que as pessoas querem falar. Por sorte, o jogo não dura muito, acho que porque é bem menos empolgante quando não tem bebida no meio. Quando estou abrindo os olhos, esticando os braços e “acordando”, Gabe sugere verdade ou consequência, e meu estômago despenca.

Desde o escândalo do meu vídeo com Peter no ofurô, ano passado, tenho certa vergonha do que as pessoas pensam que nós estamos fazendo ou deixando de fazer. Em termos de sexo, claro. E verdade ou consequência é muito pior do que Eu Nunca! Com quantas pessoas você já transou? Você já participou de um ménage? Quantas vezes por dia você se masturba? Esses são os tipos de pergunta que costumam fazer, e se alguém perguntasse para mim, eu teria que dizer que sou virgem, e, de várias formas, isso é mais bizarro do que qualquer outra resposta.

Normalmente, vou para a cozinha ou algum outro lugar quando começam a brincar disso nas festas. Mas não tenho para onde ir hoje, estamos em um ônibus e estou encurralada. Peter me olha achando graça. Ele sabe o que está passando pela minha cabeça. Diz que não liga para o que as pessoas pensam, mas sei que não é verdade. É só olhar para o passado dele para ver que Peter se importa muito com o que pensam dele.

— Verdade ou consequência? — pergunta Gabe para Lucas.

Lucas toma um gole de Vitaminwater.

— Verdade.

— Você já transou com um cara?

Meu corpo todo fica tenso. Lucas é gay, já saiu do armário, mas não tanto assim. Ele não quer ter que se explicar para as pessoas o tempo todo, e por que deveria fazer isso? Não é da conta de ninguém.

Há um momento de hesitação, e Lucas diz:

— Não. Isso é uma proposta?

Todo mundo ri e Lucas está com um sorrisinho no rosto quando toma outro gole, mas consigo ver a tensão no pescoço dele, nos ombros. Deve ser desgastante ter que ficar sempre a postos para esse tipo de pergunta, pronto para mudar de assunto, sorrir, rir e levar na brincadeira.

Agora e para sempreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora