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Margarida

Kailua, Fonte da Telha, Setúbal

Não conseguia entrar no mar. A diferença de temperaturas fazia com que a água estivesse ainda mais gelada do que o habitual.

Continuava apenas com os pés dentro de água, enquanto observava os restantes elementos do grupo, a divertirem-se dentro de água.

— Nem penses. — Encolhi-me assim que o vi a aproximar-se de mim. Ele sorriu e parou à minha frente.

— Eu não vou fazer nada! — Levantou as mãos como se estivesse a render, e deu um passo em frente, levando-me a andar para trás. — Pára lá quieta, Margarida.

— Já te conheço, não me vais obrigar a entrar! — Voltei a andar para trás.

— Anda lá, quanto mais tempo ficares aí, pior é! Está toda a gente à tua espera. — Olhei para cima do ombro dele, vendo os restantes nada preocupados com o facto de eu estar ou não dentro de água.

— Claro, nota-se! — Não tive tempo de dizer mais nada, porque quando me apercebi ele já me tinha pegado ao colo e corria para dentro de água. Deixei escapar um grito, ao mesmo tempo que me agarrava ao pescoço dele. — Nuno, foda-se! Eu já sabia! O que é que eu te disse, meu? — Perguntei, ouvindo-o rir, enquanto passava pelas ondas. — Ai que gelo! Eu vou matar-te mesmo! — Resmunguei aos berros, atraindo a atenção dos nossos amigos.

— Calma, fofinha. Respira! — Olhei para ele de sobrancelha arqueada. — Ok, desculpa. — Desviou o olhar do meu e trancou o maxilar, adotando uma expressão séria.

Depois de passarmos a rebentação das ondas, ele largou-me e, eu aproveitei a vinda de uma onda mais baixa para mergulhar finalmente. Quando voltei à superfície, vi o Nuno mais afastado de mim, perto do Jota e do Nóbrega e do Ricardo, que tinha chegado entretanto.

Ele não voltou a olhar para mim, e eu aproveitei para mergulhar mais umas vezes, habituando-me à temperatura da água. Depois aproximei-me da Rita.

— O que é que acabou de acontecer?

Encolhi os ombros, dando impulso ao meu corpo, para conseguir flutuar.

— Ele está a tentar reconquistar a tua confiança, mas não lhe dês muito para trás, Maggie!

— Não fiz nada disso, Rita!

— Então, porque é que ele ficou assim?!

— Sei lá! — Novamente um encolher de ombros. — Vou voltar para a toalha.

Comecei a andar de costas para as ondas, virando-me para trás de vez em quando, para me certificar de que não levava com nenhuma onda a rebentar. Vi que estavam praticamente todos a querer sair à exceção do Nuno, que tinha ficado para trás.

Quando estava mesmo prestes a sair da água, o Jota e o Nóbrega vieram a correr ter comigo com as mãos cheias de areia. Só senti o impacto dos grãos de areia no meu corpo.

Fechei os olhos e ouvi as gargalhadas dos dois.

— Eu odeio-vos. — Lancei-lhes um sorriso super forçado.

— Parece que vais ter de ir à água outra vez...

— Desculpa, miúda!

Respirei fundo, vendo-os a ir embora. Virei de novo na direção do mar, conseguindo ver o Nuno a sorrir, antes de virar a cara.

Claro, tinha de ser.

Acabei por entrar novamente na água, sem estranhar a temperatura, desta vez. Continuava sem perceber objetivo do Nuno, com esta brincadeira. Passei a zona de rebentação, uma vez que era onde estava mais areia e mergulhei mal tive oportunidade.

Tirei a areia do meu corpo, até sentir umas mãos na minha cintura.

— Qual é que foi o objetivo? — Perguntei, ainda de costas para ele.

Ele encaixou o queixo nos meus ombros e a minha pele arrepiou, pela proximidade dos nossos corpos.

— Ficares aqui comigo. — Rodou-me, de forma a ficar de frente para ele. — Isto está a ser uma tortura, Margarida.

— Nuno, as coisas não são lineares, nem num estalar de dedos... — Virei a cara para o lado, apesar de me ter feito olhar para ele de novo, puxando o meu queixo com uma das suas mãos.

— Eu sei, mas podias facilitar a aproximação, Margarida! — O seu olhar prendeu no meu, fazendo-me engolir a seco. — Se continuares a dar para trás, vai ser mais difícil reconquistar a tua confiança.

— Achas que também estou numa posição fácil? Também não gosto desta situação, mas depois do que vi...

— Já percebi.. — Desta vez foi ele quem virou a cara, soltando um suspiro. — Vamos para a toalha?

Assenti, começando a sair ao lado dele. Acabei por levar com uma onda na cara, por não ter levantado o corpo. Ouvi as gargalhadas do Nuno, e não consegui evitar rir também.

— Não tem piada, nenhuma!

— Porque tu nem te estás a rir de ti própria, nem nada! — Continuou a rir, puxando-me para que conseguisse sair do mar, sem levar com mais nenhuma onda. 

Quando chegamos à areia, fiz com que ele me largasse e afastei-nos um pouco.

— Vocês são os dois burros, é só o que eu tenho a dizer. — Ambos olhamos para o Ricardo, que nos encarava com uma expressão de falsa desilusão.






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