Capítulo 3 - Dia Frio

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Manhã fria. O dia está nublado. Choveu na noite passada e ate agora a pouco também. Está tudo silencioso. Não se ouve quase nenhum som de passarinhos no jardim do lado da casa. Raquel está na cama ainda, escreve seus pensamentos em uma mensagem de texto:

-"Eu nunca tive muitos amigos homens. Pra falar a verdade eu acho que nunca tive nem um que eu pudesse chamar de 'amigo' mesmo. os meninos que se aproximavam de mim sempre tinham alguma outra intenção. Cê deve ta me achando bem arrogante por falar isso ne? É.. soou meio babaca, mas acho que você me entendeu."

-"Nunca fui a ... 'gostosona' mas por algum motivo sempre queriam algo além da amizade..."

-"ta, mas o que quero dizer é que as meninas sempre foram tudo e mais que suficiente pra mim. Com elas eu... com elas do meu lado não havia espaço pra amizade nem com outras garotas. E eu não me importava nem um pouco com isso. Estava tudo perfeito."

-"Quando eu comecei a me aproximar do Natã, eu achei que pela primeira vez poderia ter uma amizade mais intima com um cara. E eu falo sério. Era só isso. Eu... nunca senti mais nada por ele por mais que ele fosse legal comigo. Depois... depois do Wallace eu meio que me desliguei um pouco dessas coisas. Aí quando eu penso que as coisas estão indo bem e que as nossas intenções são as mesmas, começo a ver as estranhas atitudes dele. Aquelas... comparações cada vez mais frequentes e a maneira como ele olhava pra mim e falava comigo... poxa... aquilo começou mesmo a me deixar constrangida.

-"Não sei... eu não sei como vou lidar com isso daqui pra frente. sem ele, pelo menos por enquanto, sem as meninas... acho que só me restou você agora. Por favor, responda assim que puder. Até depois, Manu."

Raquel termina de escrever a mensagem e envia para Manuela. Depois disso, levanta-se e com os pés descalços mesmo, vai ate a janela do quarto. abre. Recebe uma leve brisa fria no rosto.

-"Que frioo..!"

Ela olha para fora. Não há qualquer sinal de que o sol vá aparecer logo. Mesmo assim ela consegue ver alguma beleza nesse dia. Sorri consigo mesma.

-"Eu até que gosto de dias frios e nublados. Acredito que se você tivesse que descrever um dia perfeito, incluiria um sol bem brilhante no meio do céu, não? É. Sei que sim. eu também gosto de dias ensolarados. Mas consigo ver beleza num dia 'escuro' como hoje."

Seus pensamentos são interrompidos por um pequeno alvoroço de um casal de passarinhos próximo ao chão. Ela olha e percebe que o filhote deles está no chão junto com o ninho. Raquel vai ate a sala e de lá para gora, pra o quintal. Ao se aproximar, obviamente os passarinhos voam, mas ficam ali por perto. Fazendo barulho. Fazem cada vez mais barulho a medida que ela se aproxima do filhote, que está todo encharcado dentro de uma poça d'água.

-Coitadinho...

Raquel pega o pequeno pássaro. Ele já tem alguma plumagem, mas do jeito que está não consegue voar. Ela então leva-o pra dentro de casa. A primeira coisa que ela faz é agasalhar o animal com uma toalha de rosto. Foi a primeira coisa que ela encontrou ali por perto. Depois, procura uma caixa ou alguma coisa onde possa coloca-lo dentro. não encontra. Encontra apenas uma vasilha dede plástico na coxinha, uma embalagem de sorvete. Raquel então coloca o passarinho dentro dela. Poe sobre a mesa, e se senta. Observa...

-Espero que isto sirva. Eu nunca cuidei de nenhum animal filhotinho assim como você. Eu já tive um cachorrinho, o "Iscubi". Mas ele já não era tão bebê assim quando ganhei ele. Acho que passarinho não fica resfriado ne? Então... quando você secar suas penas, vai ficar tudo bem.

O passarinho permanece calado. Vez ou outra faz um leve movimento com a cabeça.

-Ali naquela poça você ia.. bem, cê sabe... seus pais tavam desesperados. Eles não podiam fazer nada, ne. tadinhos... você teve sorte de eu ter te encontrado logo, pequenino...

Raquel_Parte IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora