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Se eu fosse escolher para dar uma dica específica para alguém, seria: não dívida o apartamento com alguém que você se sente atraído, de jeito nenhum.

Era daquela frase que eu me lembrava todas as manhãs quando Jungkook batia na porta de meu quarto e me acordava, com cuidado, como se tivesse dó.

Para ele, eu deveria ser seu amiguinho hétero, com quem dividia o almoço e assistia filmes no fim de semana.

Já pra mim, Jungkook deveria ser um dos ícones gays de pôsteres em minha parede.

Tinha que me lembrar que era absurdamente errado pensar daquele modo.

Mas era mais fácil. Era mais fácil fingir que já não tinha pensado mil em nos trancar no quarto, a fazer coisas inapropriadas com ele.

Era mais fácil sentir-me a deriva dos meus próprios sentimentos o tempo todo, do que ter-me em suas mãos, com a quantidade de provocação que ele quisesse.

Foi por isso que, naquela manhã, quando ele apertou o lóbulo de minha orelha com o dedão, eu deixei-me palpitar, tremer, esquentar.

Mas não disse uma palavra.

Deixei-me entrar naquele personagem. Me deixei ser apenas seu melhor amigo.

— Vamos lá, Jimin. Acorde. — Jungkook murmurou, por cima de todo o barulho fora da casa — Sabia que tá tendo a maior festa na vizinhança?

Consegui ouvir o deboche em sua voz e não aguentei o sorriso da boca.

Desde que tínhamos nos conhecido, a uns cinco anos atrás, não tinhamos ido a uma única festa, a uma única balada.

Nenhum dos dois. A um único nada.

— Ah, claro. Divertido. — Respondi, num resmungo — Vou voltar a dormir quando você sair.

E aquela era a pior parte.

Quando ele deixava o próprio cansaço aparecer, por trás de seus óculos, pelos olhos.

Enquanto me encarava e tirava meus cabelos bagunçados do meu rosto, com a pontinha dos dedos, parecia pronto para me agarrar e continuar a dormir ao meu lado.

— Tem certeza? Vai passar a reprise daquele programa que você perdeu ontem. — Ele dizia, manhoso, esperando por algo.

Grunhi. Era quase sempre impossível argumentar com ele. Ou melhor, resisti-lo.

Quando ele olhava-me daquele jeito, eu não conseguia ignorá-lo.

— Você quer minha companhia?

Quando eu estava exausto, Jungkook deixava-me dormir sem dizer nada. Mas em dias como esse, sim, ele deixava-se ser carente.

Então, ele me lançou um sorriso e passou a mão para minha orelha mais uma vez, girando um dos brincos.

Mais uma vez, fingi que não queimava. Fingi que meu coração não batia forte no peito e soltei um riso fraco.

— Não precisa. — Respondeu, suave, baixinho, esperando com que eu me acordasse totalmente.

Mas era impossível não estar totalmente acordado com ele tão perto, e tão intencionalmente vulnerável.

Esgasguei um gemido no fundo de minha garganta quando ele passou os dedos por minha bochechas, provavelmente sentindo a diferença de calor de seus corpos.

Me sentei e apoiei as mãos no colchão, envergonhado.

— Vamos, Jungkook. — Pedi — Antes que eu te puxe pra dormir também. — E soltei, sem nem mesmo perceber.

E quando percebi, corei mais ainda.

Jungkook me lançou um sorriso e ajeitou minha franja quando eu me sentei do seu lado.

Pisei no chão frio e me levantei estranhamente aliviado.

— Boa ideia. — Disse, um pouquinho mais alto que antes — Se fosse com você, talvez eu conseguisse dormir bem.

E era aquele tipo de frase que me fazia odiar morar com Jungkook.

Que me fazia querer beijá-lo e tê-lo nós braços o tempo todo.

— Deixa de ser besta. Vamos.

Eu fazia o máximo, o meu máximo, para que ele não percebesse o que realmente estava acontecendo. Pelo máximo de tempo possível.

characterWhere stories live. Discover now