QUATRO

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Odette lhe era familiar, Ian tinha certeza disso. Talvez a tivesse conhecido no colégio?

Chegou à casa do avô e tocou a campainha, e não demorou mais de um minuto para que um homem alguns centímetros mais baixo do que Ian e de postura levemente curvada viesse atender.

— Boa noite, vovô — e deu um abraço rápido nele, mesmo sabendo que o homem a sua frente não era muito fã do gesto.

Benjamim abriu caminho para que ele entrasse e depois fechou a porta. O cheiro que vinha da cozinha era bem agradável.

— Tudo bem para você se comer ensopado? — O avô perguntou se dirigindo à cozinha.

A noite quente não estava propicia para ensopado, mas ele sabia o quanto o avô gostava de prepará-lo e, obviamente, de comê-lo.

— Claro — respondeu Ian, seguindo-o. — Faz tempo mesmo que eu não como ensopado.

Benjamin olhou para o neto e assentiu, abrindo uma das gavetas do armário.

— Quer ajuda? — Ian ofereceu.

— E desde quando você sabe cozinhar? — Perguntou o avô com a testa franzida e depois balançou a cabeça, com um meio sorriso. — Pode deixar que o velho Benjamin aqui dá conta.

— Está bem.

É claro que sim. Ele vinha dando conta das coisas pelos últimos dez anos.

Enquanto o senhor de 82 anos, de expressão cansada e cabelos brancos penteados para trás mexia o ensopado na panela no fogão, Ian olhava para o cômodo, notando que ele estava do mesmo jeito desde a última vez em estivera ali. Os armários de madeira, a pia pequena, o fogão e a geladeira brancos... A única janela do cômodo estava aberta e por ela entrava uma brisa refrescante. Ele espiou o lado de fora, vendo os arbustos no quintal, e se lembrou do quanto gostava de brincar ali, das inúmeras vezes em que caíra e sujara toda a roupa, e dos bolos e biscoitos que comia nos cafés da tarde — que a avó preparava e servia no jardim — depois de horas de brincadeiras.

­— Seu pai ligou — Benjamin falou, tirando-o de suas lembranças.

— Ligou? Para quê? — Ele perguntou curioso.

— Queria saber se você já tinha vindo me ver — respondeu e provou o ensopado com uma colher de pau.

— Só isso?

— Não, ele também perguntou se você estava bem, e aonde estava morando.

— E o que o senhor disse?

Benjamin se virou para fitá-lo.

— Falei que ligasse para você e perguntasse.

Ian deu um sorriso imaginando o modo como o avô deve ter respondido ao próprio filho.

— Então, como estão as coisas? — Benjamin perguntou. — Arrumou o apartamento?

— Sim. Dorothy foi ótima e me ajudou a organizar tudo. Eu não teria conseguido sem ela.

— Claro. Sua mãe nunca deixou você arrumar nem o próprio quarto.

— Não mesmo — Ian respondeu meio desanimado, pensando no quanto tinha repetido aquilo para si mesmo desde que voltara a Charleston.

— Desculpe, garoto. Não deveria ter falado isso.

— Não precisa se desculpar, vovô. É verdade. Minha mãe nunca nem me deixou lavar um prato — ele falou sentindo-se patético.

— Falando nisso, você já aprendeu? — Benjamin perguntou erguendo a sobrancelha direita.

— Não é tão difícil assim — Respondeu Ian entrando na brincadeira.

Na Porta ao Lado [COMPLETO]Where stories live. Discover now