VINTE E TRÊS

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Ian nunca ligou para coisas coloridas, ambientes decorados e nem nada do tipo. Quando morava com os pais, a casa era sempre com cores e móveis neutros. Os objetos decorativos também acompanhavam essa tendência. Os amigos dos seus pais achavam aquilo tudo chique. Para Ian, era indiferente.

Seu quarto nunca teve pôsteres nas paredes, pois a mãe dizia que poluíam o ambiente. Os móveis também eram escolhidos pelos pais — mais pela mãe na verdade, porque ela queria que tudo combinasse sempre.

Para não dizer que seu quarto não tinha nenhuma decoração, tinha uma prateleira com alguns carrinhos que ele gostava de colecionar, outra com algumas das suas histórias em quadrinhos e o violão que costumava ficar no suporte ali no canto do quarto.

Honestamente falando, ele não se lembrava se havia algo mais além disso.

Com o passar do tempo, os carrinhos sumiram e as histórias em quadrinhos foram colocadas em caixas. Até o violão passou a ficar guardado. Ele só teria tempo mesmo para estudar, e se caso tivesse alguma distração muito visível, ele com certeza não iria se concentrar tanto quanto deveria.

Então, por tudo isso, Ian nunca ligou para cores.

Era por isso que agora mal reconhecia o cômodo no qual se encontrava agora.

A semana tinha passado tão rápido, mas tinha sido cheia de momentos incríveis.

Na segunda feira a noite, Odette disse que o ensinaria a cozinhar, então, depois que voltou da drogaria, ele mandou uma mensagem a ela, que apareceu com os aventais de vaquinhas e ingredientes para que eles fizessem a mesma refeição que ela havia preparado no sábado.

Ela deixou que ele cozinhasse quase tudo, sob a supervisão dela, claro, e no fim das contas até que não tinha ficado tão ruim assim. Odette o elogiou e disse que ele levava jeito para a cozinha. Ele não soube se ela só tinha dito aquilo para incentivá-lo ou se realmente achava isso, mas ele agradeceu, e os dois acabaram em um beijo demorado.

Eles se encontraram todas as noite naquela semana. Ora cozinhavam alguma coisa, ora saiam para comer, e depois eles acabavam ou no sofá dele ou no dela, assistindo a algum filme que ela sugeria. Ian não podia negar que até que gostava dos filmes, mas sabia também que precisava fazê-la assistir a algum dos seus filmes favoritos. Não era justo somente ela indicar filmes.

Na sexta feira a noite eles pediram uma pizza no apartamento dele e após insistir um pouco, ela aceitou uma recomendação dele, o filme lançado no ano passado, RoboCop.

— Eu só quero ver se essa versão aí faz jus ao original — resmungou ela.

Ian riu pelo nariz.

— Vamos descobrir.

Apesar de não ter visto muitas críticas positivas ao filme, Ian queria ver para tirar as próprias conclusões. Ele só esperava não ser ruim.

Sentaram-se no sofá dele para assistir, e não demorou muito para que Ian se inclinasse no sofá, ficando meio sentado, meio deitado, e Odette colocasse a cabeça no peito dele, como eles fazia todas as noites. E como em todas as noites, ele passava o braço pela cintura dela, e eles assistiam enquanto comentavam sobre o filme.

E era por aquele momento que ele esperava todos os dias, pelo momentos em que poderiam estar juntos, comendo, conversando e assistindo, pelo momento em que ela estaria em seus braços, e ele sentiria sua pele macia e seu cheiro de morangos — e não de lavanda como em seu sonho.

Quando filme terminou — dois concordaram que o filme era razoável —, eles não saíram da posição em que estavam.

— Quer assistir outro filme? — Ian perguntou.

Na Porta ao Lado [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora