Capítulo 41 - Engoli em seco

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Emily ficou ao meu lado durante todos os vinte minutos que demorei para ser atendida na delegacia

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Emily ficou ao meu lado durante todos os vinte minutos que demorei para ser atendida na delegacia. Aquele que finalmente veio falar comigo parecia de mal humor, como se preferisse estar em qualquer outro lugar que não seja trabalhando. Ele pegou uma pilha de papéis da gaveta e puxou uma ficha do meio, pescou uma caneta bic e começou a fazer perguntas sem nem olhar para mim. Respondi várias delas enquanto observava as resposta sendo anotadas. Tentei descrever o que aconteceu na noite anterior, quando recebi a ligação assustadora de Lucas, mas o policial não se impressionou com o que contei:

— Como exatamente o rapaz te ameaçou?

Olhei para Emily que me encorajou em silêncio.

— Bom, ele ligou para a minha casa de madrugada. Parecia transtornado e disse que eu iria me arrepender por ter escolhido o homem errado.

O policial permaneceu sem falar nada, me encarando, esperando o resto da história.

— Às vezes ele só respirava no telefone — continuei. — É difícil explicar assim, mas tudo pareceu bem perigoso.

O policial respirou fundo:

— Mais alguma coisa?

— Acho que só... Lembrei! Um carro de vidro escuro ficou estacionado perto de casa durante horas e só foi embora quando a ligação acabou, acho que pode ser ele me espionando.

— Você viu quem estava dentro do carro?

— Não.

— A casa da senhora é a única da rua?

— Eu... Eu acho que não entendi a pergunta.

— A casa da senhora é a única da rua?

— Não...

— Então porque a senhora não acha que o carro estava espionando o seu vizinho ou a casa da frente?

— Essa é uma pergunta estranha...

— Eu também posso fazer uma pergunta? — Emily se intrometeu, falando pela primeira vez desde que entrou na delegacia.

— Claro, senhora — o policial respondeu.

— Por que você não está anotando nada do que a minha amiga disse nos últimos dez minutos?

O policial jogou o corpo contra o encosto da cadeira e coçou a sua barriga proeminente.

— Olha, moças, vou ser bem sincero com vocês. Eu até posso te encaminhar para a delegacia da mulher, mas o que você está me descrevendo não parece com uma ameaça de verdade. Ele não lhe apontou uma arma, disse que iria te agredir fisicamente ou algo do tipo. Tudo que ele fez foi ligar para dizer que você iria se arrepender de escolher outro namorado, o que não é nada demais. Um acesso de ciúmes comum. Eu sei que você acha que essa é a coisa mais séria do mundo, mas nós não podemos parar o que estamos fazendo para cuidar de uma briga de namorados.

Virei para Emily e disse:

— Eu sabia que não iria adiantar nada a gente vir aqui.

A Emily insistiu em falar com o policial:

— Tenho outra dúvida. Se eu implantar cirurgicamente um pênis em mim você daria algum valor para o que estou dizendo?

— Espero que saiba que está desacatando uma autoridade — ele respondeu. — Saiam da minha frente, antes que eu mande prender vocês.

— Vamos, Emily. Estamos só perdendo tempo.

Nos levantamos e caminhamos em direção a saída, antes de abrir a porta, ouvi a voz do policial me chamando:

— Moça, quer um conselho?

Virei-me, tentando não mostrar o quão irritada estava:

— Claro.

— Apenas seja paciente com o rapaz. O coitado está com ciúmes, só isso.

Bati a porta ao sair.

Estava chovendo na rua e nenhuma de nós lembrou de levar um guarda-chuva, então apenas abaixamos a cabeça enquanto a água batia forte em nós até o ponto onde pegaríamos o ônibus para o nosso trabalho.

— Parece uma conspiração mundial! — Desabafei com Emily. — Não importa o que Lucas faça, parece que o mundo sempre está prestes a perdoá-lo! As pessoas vivem me dizendo para perdoá-lo, todo mundo supõe o melhor dele e o moleque nunca sofre as consequências!

— Isso tem nome — Emily respondeu. — Chama-se "ser um homem branco de classe média", é uma condição para a vida inteira.

— Se ele aparecer na minha frente de novo, será um homem branco de classe média e nariz quebrado.

— Você ficou assustada ontem a noite?

— Sinceramente? Não consegui dormir! Fiquei deitada ao lado do berço do Ick a noite inteira, imaginando as piores coisas acontecendo. Qualquer barulhinho que ouvia, pensava que era alguém tentando arrombar a porta da casa.

— Que horror...

— Uma hora tive que descer até a cozinha e pegar uma faca afiada para me sentir mais segura. Maldito dia em que abri a porta da minha casa para o Lucas de novo! Estava muito bem sem ele!

Chegamos ao trabalho. Temia muito por aquele momento, como as pessoas me tratariam depois que soubessem do meu caso com Bob? Teria que procurar outro trabalho? Ficaria estigmatizada para sempre?

O que aconteceu foi surpreendente:

Nos primeiros minutos, todos me cumprimentaram normalmente, com sorrisos e acenos. Cheguei a pensar que eles não sabiam da postagem. Depois, o primeiro se aproximou discretamente da minha mesa, me entregou uma caneca de café e comentou que odiava o Lucas e que eu não precisava me preocupar com o namoro com o Bob, pois nós éramos dois adultos e no mundo moderno isso acontece. Depois de alguns minutos, uma menina se aproximou e disse palavras de apoio, chegando a comentar que eu e Bob formávamos um belo casal. E assim se deu ao longo do dia, até que cada um dos funcionários tenha dado o seu apoio a mim à sua maneira. Foi uma sensação boa.

Às seis e meia, o próprio Bob apareceu na minha frente:

— Precisamos conversar — ele disse.

Engoli em seco. 

***

Nota do autor

Oi, gente. Tudo bom?

Além dos fãs que me acompanham há algum tempo, "Jéssica" trouxe muitos leitores novos.

Por isso, eu quero saber: quem aqui começou a me ler por este livro? Quem já leu Mais Leve que o Ar? E quem já leu Ick Perspectiva?

Beijos!

Felipe Sali

AGRADECENDO AOS PADRINHOS

Paulo Eduardo

Bruna Evelyn

Maria Freitas

Samira Vaz

(um padrinho não quis se identificar)

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora