Segundos depois ela entra no meu quarto, com um caderno abraçado ao corpo e o rosto coberto por uma máscara branca deixando apenas os olhos e os lábios de fora.

— O que passou no rosto? — pergunto e ela se embrenha na cama ao meu lado. Com a proximidade sinto o cheiro do que quer ela tenha passado e é um cheiro bom.

— Uma mistura de iogurte natural com mel.

Hum além de cheiroso é apetitoso, passo a ponta do dedo e levo até a boca.

— Valentina?! — ela diz em repreenda.

— O quê? É iogurte, não é?

— Sim, mas estava no meu rosto.

­— E daí seu rosto é tão limpinho — faço um biquinho para ela.

— Sua formiguinha, não pode ver um doce — suas mãos vêm até minha barriga me fazendo cocegas, solto um gritinho e ela intensifica um pouco mais, dou algumas gargalhadas até que me rendo, pedindo para ela parar.

— Não posso mesmo, adoro! — passo o dedo novamente pegando mais um pouquinho.

Ela fica brava.

— Para! Deixe minha máscara de hidratação aí, se quer mesmo comer pego na geladeira para você.

— Já escovei os dentes — Alice revira os olhos. — Mas de verdade, não sei por que passa essas coisas no rosto, sua pele é naturalmente maravilhosa — digo.

— É assim porque eu cuido e você deveria fazer o mesmo. — Ela ergue as sobrancelhas, dando-me o conselho. Definitivamente não tenho disposição para isso.

— Agora fica quieta e olha o que tenho aqui! — ela pega o caderno segurando-o na frente do seu rosto com um sorriso de orelha a orelha.

— Não acredito! O diário da vó Cecília! — falo estupefata.

— É incrível, não é? Mamãe finalmente me deu ele!

O tom de alegria em Alice é o mesmo que sinto, mas talvez ela se sinta ainda mais alegre. Minha irmã sempre tem um livro de romance na cabeceira da cama, e desde que soube da existência desse diário queria poder ler, mas minha mãe sempre deixou claro que só nos entregaria quando estivéssemos maiorzinhas.

— Até que enfim vamos conhecer a história da vó Cecília com o vô Miguel através da perspectiva dela. É maravilhoso! — digo pegando-o e deslizando os dedos sobre a capa. Tê-lo ao nosso alcance e poder conhecer o conteúdo dele, torna tudo que já sabemos sobre a vida da nossa vó ainda mais palpável. 

Alice enruga a testa e noto seus olhos marejados.

— O que foi? Você queria tanto ler — acaricio seu cabelo.

— É que sempre que penso que eles foram separados, me dá uma dor no peito, queria que tivesse sido diferente.

Alice é tão romântica e sensível, todas às vezes que nosso avô falava do amor dele por vó Cecília nos fazia suspirar e minha irmã sempre chorava inconformada com o que aconteceu.

— Procure pensar como mamãe nos fala, que agora eles estão juntos — aconselho-a.

Fitando-me séria ela pergunta:

— Você acredita mesmo nisso? Acredita que a morte o levou para junto dela?

— Eu acredito na força do amor verdadeiro. O amor deles era, então acredito que em algum ligar do universo eles estão juntos e felizes.

— No céu?

— Sim, no céu. E tenho certeza que de lá eles cuidam de nós. E acho que tanto a vó Cecília quanto o vô Miguel não querem nos ver tristes com a história deles e sim que possamos tirar algum ensinamento de tudo que aconteceu a eles.

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