Dois - Auê, Beira-Mar!

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O navio da marinha brasileira Almirante Jurunas estava à deriva por mais de dez horas. Os marinheiros tentavam manter a calma, mas as coisas estavam realmente preocupantes. Os aparelhos de navegação pararam, a bússola estava girando sem apontar qualquer direção. Os sinais de socorro atirados ao céu não tiveram nenhuma resposta. O comandante estava em seu convés tentando encontrar uma solução, mas ele sabia que dali a umas horas teria que racionar comida e água.

No meio da confusão, na cabine cento e um, o jovem marinheiro Gustavo Humaitá, delirava em febre, já faziam dois dias. O enfermeiro o recomendou ficar em repouso e tomar bastante água, e também, lhe entregou algumas pílulas para controlar a febre. Ele delirava na cama com a mesma intensidade em que lá fora todos já começavam a entrar em pânico e com o vórtice que surgiu sobre a água e começava a tragar a embarcação.

O mestre de arma deu a ordem e os canhões dispararam suas inúteis balas metálicas. A medida que a embarcação ia na direção do vórtice uma tempestade começou e a forte correnteza balançava a embarcação como se fosse de papel. O vento forte jogou alguns tripulantes desavisados ao mar. Alguns se debatiam tentando se segurar. Outros eram esmagados por alguma estrutura. A insanidade tomou conta, aquilo não tinha qualquer explicação, só lhes restava rezarem.

Gustavo permanecia deitado em seu tormento. Falava coisas sem sentido, tossia, debatia-se como se quisesse livrar-se de algo. As vozes lá fora explodiram na sua cabeça deixando seu tormento ainda maior, não compreendia se aquelas vozes eram dentro ou fora da sua cabeça. Os choros e as súplicas lhe fizeram arranhar a cabeça e a face com as próprias mãos tamanho era seu desespero. A voz ecoou sobre todas outras, forte e cristalina. "Levanta meu filho e meu prodigioso guerreiro. Eu não lhe darei passagem, pois ainda não é a sua hora. Essas outras almas que te acompanharam terão o destino que lhes foi traçado e seguirão para o reino que lhes for consagrado, sejam eles de luz ou escuridão. Agora tu, precisas seguir teu destino e tirar os espíritos cegos que querem tomar para si essas vidas. A ti, ó Cavalo de minha vontade, será dado o poder para seguir em uma nova vida, mas hoje tomarei teu corpo e derrotaremos os grandes poderes vis".

A onda bateu forte no casco, todos foram jogados como pedaços de papel. Gustavo flutuava entre as camas do beliche envolvo por uma energia azul marinho, nada lhe tocava. O baque forte do casto na água novamente foi acompanhada pelo estrondoso grito da criatura colossal que se empurrava com outras de igual tamanho para apanhar a embarcação.

Assim, Gustavo tocou o chão com pés descalços, abriu a porta e ignorando o que estava acontecendo lá fora, iniciou a sua caminhada. Ia em direção as escadas que dava acesso ao nível superior do barco. Uma voz berrou de baixo que o casco se rompeu e a água está subindo. Continuou, alguém lhe reconheceu, chamou seu nome, mas não conseguia parar.

Gustavo via tudo acontecendo ao seu redor, mas não conseguia controlar seu corpo. Companheiros seus estavam caídos, muitos estavam esmagados, alguns tentavam salvar outros, ele estava apreensivo, mas seu desespero era só um sentimento inútil, sem chance de qualquer reação.

Meu Deus! O que está acontecendo? O que é você? Disse Gustavo. A voz lhe respondeu que era aquele que iria levá-lo para a sua batalha e garantindo que ele chegue seguro ao seu destino.

Mas eles... tentou argumentar.

Não está escrito que eles passarão daqui. As suas ações serão pesadas no tempo certo. Os seus corpos serão levados ao grande pátio que dará uma passarem para os reinos que eles merecem, já lhe disse isso.

Aquela voz não lhe trouxe nenhuma calma, à medida que via como seus irmãos e irmãs estavam precisando de ajuda, refletiu sobre o que ele mereceria por não os socorrer. Pensou estar morto.

Incorporados - Divina Ordem do Cruzeiro do SulWhere stories live. Discover now