Capítulo 05 - Marina - Está na hora de viver...

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Mamãe não tem ideia do trabalho que está dando. Não me entendam mal, porém ela está mais preocupada do que nós com ela. Ultimamente ela só fala em morte, e que está sentido que está na hora dela. Poxa, eu e meus irmãos estamos fazendo de um tudo por ela e é assim que ela tem dado força pra gente. Difícil, mas ela poderia entender que não faz bem. No almoço, Fred me contou que não está nada fácil achar um doador de rim pra ela, e que o médico está pensando em aumentar os remédios, isso significa mais gastos. Perfeito, tudo que precisamos agora. Desde que papai morreu nossa mãe sempre se sentiu muito sozinha e como Fred é o mais velho e o seu trabalho é o mais flexível, difícil ficar morando com ela, mas com o tempo percebo que ele está cansado. Meu irmão mais novo é um moleque ainda e não sabe o que é ter o mínimo de responsabilidade, os outros dois ajudam sempre que possível, mas todo mundo atarefado com trabalho e suas vidas. Mas abandonar nunca passou pela nossa cabeça. Enfim, Fred disse que precisava resolver umas coisas e queria muito que eu ficasse com mamãe essa tarde, e claro que eu não neguei. Desconfio que ele esteja com algum casinho já que estava com um sorrisinho no rosto. Ele merece. Não que eu me importe de verdade, afinal, não tem muito jeito: ou eu faço, ou deixo qualquer coisa por minha mãe e irmãos. Mas, acreditem, eles ainda acham que sou uma bonequinha de pano frágil, ou melhor, aquela porcelana frágil, Fred ainda é do tipo que fica me dizendo o que fazer a toda hora.

- Sim, mãe, dá pra fazer bolo no micro-ondas. - Eu reclamava impaciente.

- Sinceramente, não dá, minha filha. Será que você pode me dizer o que é que está acontecendo, onde está aquela menina meiga e carinhosa que você era...

- Como assim, mãe?

- Você ultimamente anda muito estúpida comigo e com seus irmãos, não tem tido paciência com nada, com tudo você se irrita.

- Que nada mãe, impressão sua. - Ela me olhou, decepcionada - E nem venha inventar de ficar me olhando assim esquisito de novo.

- Nina, você está namorando minha filha?

- Ra Ra Ra... Nossa Dona Guilhermina, agora a senhora deu pra ser comediante né?! - resmunguei, com sarcasmo e sem emoção - o que é que aqueles idiotas dos seus filhos andam dizendo a meu respeito?

- Olha essa boca menina, não foi assim que eu criei você... - Oh, céus! Ela ia opinar outra vez.

- Desculpa, mamãe! - disse assim que beijei sua bochecha.

- Quanto stress, hein? - Dessa vez não foi minha mãe que falou, foi meu irmão mais novo, Bruno, que tinha acabado de sair do banho e estava apenas de toalha enrolada na cintura. Não é que o novinho tá ficando gatinho, gente. Lembro de trocar fraudas desse menino. Ele roubou um biscoito do pote aberto sobre a mesa, virou para mamãe e continuou: - O que ela tem hoje?

- Para de comer isso, é pra torta que eu tô fazendo, pivete.

-Dá pra parar de me chamar de pivete, não tá vendo que eu já cresci, Marina?

- É mesmo, deixa eu ver se você já tem cabelo aqui embaixo - disse rindo tentando puxar a toalha dele.

- Mãeeeeeee - ele gritou.

- Para com isso, Nina.

Porque é assim que são as coisas na minha casa. Agora me diz se não tem como não amar. Sempre sou eu a estressada. Sempre sou eu a briguenta. Mas eu sempre que tô animando esses pestinhas que sempre serão pestinhas assim como eu sou a pestinha do Fred. Mesmo eu não morando mais junto com eles há algum tempo todos somos um bando de fanfarrões e somos muito amigos.

- Mas conta ai maninha, por que esse stress todo?

- Não é nada. Mas o que foi que vocês estão pegando no meu pé. - levantei pra colocar a torta no forno

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