O Mundo é Cruel

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Não me lembro de nada daquele dia. Não sei se gritei. Se chorei. Aquela cena simplesmente se apagou da minha mente. Só sei que agora estou no velório do meu melhor amigo. Eu simplesmente estou encarando seu caixão. Não acredito que nunca mais vou ver seus olhos verdes. Não vou ver mais ele no ônibus sorrindo pra mim

Daisy me abraça. Começamos a chorar. Sinto um enorme vazio em meu peito. Uma dor que não tem fim. Eu só quero sair daqui.

- Isso é um pesadelo eu tenho certeza. Thomas está escondido rindo da nossa cara

Digo pra Daisy olhando pros lados em uma certeza mentira que ele não vai aparecer

- Agora eu entendo

- Entende o que?

Pergunto encarando seus olhos castanhos

- A alguns dias ele me mandou uma mensagem triste. Não entendi o que ele queria dizer com ela na época. Mas. Mas agora eu entendo

- O que a mensagem dizia?

- Vou pegar meu celular e te mostro Noah

Daisy se afasta. Nisso vejo os pais de Thomas chorando perto do caixão em uma linda cena teatral. Uma raiva vem sobre mim e vou até eles

- Olá Noah

O pai dele diz limpando as supostas lágrimas de tristeza

- Como você pode chorar depois de saber que ele está morto por sua causa

- O que você está falando?

- Foi por sua culpa. Você não aceitava seu filho como ele era. E agora ele está morto!

Começo a gritar. Minhas lágrimas começam a cair sobre o chão enquanto tento em um inútil desespero parecer que não estou chorando

- Vocês deveriam ter vergonha de estar aqui. Isso é culpa de vocês. Como pode ele é seu filho

- Noah eu não sei do que você está falando

- Por favor. Você não sabe o tipo horrível de mãe que você é

Daisy me puxa pro outro lado. Não me lembro o que aconteceu. Só me lembro de sair gritando com os pais dele por toda sala em um ato de desespero imaginado que se eles pedissem desculpa pro Thomas ele voltaria a viver

Estamos no carro do pai de Daisy

- Noah a mensagem que ele me enviou. Ele está em paz agora. Por fim ele fechou os olhos e sorriu

Daisy começa a chorar e entrega o celular

" Se eu desistir de existir não se preocupe. É só o incio de um novo fim. Não pense que é fácil para mim. Mas eu tentei. Por muito tempo eu tentei. Eu fiz de tudo para que não acabasse assim. Espero ter feito o certo. Estou cada vez mais perto de sorrir, e enfim ser feliz. O fim. Um dia chega pra todos nós. Não se preocupe. E não fique brava comigo "

- Eu não sei o que dizer

- Não diga nada Noah á culpa foi minha de não ter desconfiado que algo ruim com ele estava para acontecer

- Não foi sua culpa

Abro a porta de casa. Encontro meu pai e minha mãe conversando na sala. Eles me olham. O silêncio toma conta. Ficamos ali nos olhando. Subo pro meu quarto

- Noah!

- O que foi pai

- Como você está?

- Meu melhor amigo está morto. Como você acha que estou!

- Eu e sua mãe sentimos muito. De verdade. Nós sabemos o quão especial ele era para você

- Eu não entendo

Minhas lágrimas começam a cair

- Nós estávamos bem. Quando estávamos na montanha nós. Não sei estávamos felizes. Naqueles pequenos instantes estávamos felizes. Porquê?

- O mundo é cruel. Qualquer sinal de felicidade que ele encontra. Ele destrói.

Minha mãe diz com os olhos cheios de lágrimas e pela primeira vez a vejo chorando. Meu pai a abraça

- Podemos não ser a melhor família do mundo. Mas estamos aqui com você. Para o que você precisar. Eu e sua mãe te ama

Em segundos todos nós se abraçamos e simplesmente eu choro. Subo pro meu quarto. Tomo um longo banho. Deito e fecho meus olhos. Sorrio me lembrando dele. Das nossas brincadeiras. De tudo. Não consigo entender porque ele se foi. Talvez ele fosse mesmo um anjo. Ou talvez um humano especial.

Passam se vários dias. Meu trabalho extracurricular acaba

Estou na cozinha almoçando quando meu celular toca. Olho e vejo que é um número desconhecido mas resolvo atender

- Alô Noah!

- Oi quem está falando?

- Jennifer. Da escola

Me lembro que é a garota que brigou com a Bruna e está namorando o Pedro já que contei a Daisy sobre o beijo e ela terminou com ele

- O que você quer?

- Podemos nos encontrar. Tenho uma coisa importante pra te falar

- Tudo bem, na escola amanhã você me conta

No outro dia a vejo conversando com um grupo de garotas na entrada da escola. Ela me vê e vem ao meu encontro

- O que você quer falar comigo?

- Você está bem? Sinto muito pelo que aconteceu

- Estou bem sim

Digo sorrindo pra ela

- Já superou?

- Não!

Respondo olhando para baixo

- Mas você está sorrindo!

- É hábito

- Sorrir?

- Fingir que está tudo bem

Ela olha pra baixo

- Tenho uma coisa importante pra te contar

- Então fala!

- A Bruna Rouser. Ela gosta de você!

Fico sem resposta. Como ela sabe disso. A Bruna está desaparecida

- Como assim? Ela gosta de mim. Eu não sabia

- Se lembra quando brigamos?

- Sim. Mas o que isso tem a ver? Você está envolvida no desaparecimento dela?

- Não! Mas acho quem pode estar

- Quem?

- Pedro!

Fico surpreso na hora, me lembro que ele estava traindo a Daisy com a Jennifer

- Eu vi você e ele se beijando enquanto ele ainda namorava a Daisy. Porquê você iria querer entregar o seu amante?

- Deixa eu te explicar. Eu briguei com a Bruna porque uma pessoa me falou que ele estava me traindo com ela. Por isso briguei com ela. Achei que estava sendo traída

- Eu me lembro que quando vocês estavam brigando alguém tinha falado que era bem feito a Bruna estar apanhando porque ela estava paquerando o namorado de alguém. Então era o seu namorado. Era o Pedro!

- Sim era ele.

Antes Que Venha O Fim -@oficial-Onde as histórias ganham vida. Descobre agora