Capítulo 21 - Final

603 61 14
                                    

Depois de atravessar para a Corte Estival foi bem fácil se misturar ao povo que transitava pelas ruas da cidade. Ela seguiu com um sorriso idiota estampado no rosto falso que assumiu mais cedo, rumo à casa de Tarquin.
Seu plano era bem simples: cravar uma adaga de freixo no corpo delicado do recém-nascido. Nada espalhafatoso ou teatral, como ela vinha fazendo.
Seria um morte por retaliação, para dar o troco depois que aqueles imundos malditos destruíram seu faebane.
Ao chegar à mansão ela se identificou como uma jovem que queria conhecer a Senhora daquelas terras, já que havia ouvido falar de sua beleza e da grande bondade de seu coração. Parecendo enternecida, a criada disse que Amaryllis havia acabado de sair para passear com o príncipezinho. Depois de pegar as coordenadas certas para encontrar a fêmea e a criança no bosque para onde haviam ido, Clythia saiu dali, exultando por dentro com a facilidade que havia tido para encontrar sua presa. Se no fim das contas ela tivesse que matar mãe e filho... Ora, melhor ainda!
A caminhada foi longa, e a levou para perto de uma encosta alta, com vista para o mar. Que adorável vista para se ter antes de morrer. A fêmea poderia ter rido com esse pensamento, não fosse o fato de ter avistado a Senhora com um pequeno embrulho nos braços bem perto do penhasco. Hmm, talvez pudesse apenas empurrar os dois... mas não, ela precisava dos corpos como prova do assassinato. Eles tinham que entender que não deviam mexer com ela.
Assumindo sua aparência verdadeira, Clythia se aproximou da fêmea. A pele escura parecia brilhar e os cabelos brancos voavam ao vento, lhe dando um ar tranquilo. Isso mudou quando os olhos das duas se encontraram.
- Uma linda vista, não é? - A ruiva disse, em tom de conversa, enquanto retirava a faca do vestido.
- Não era pra você estar aqui... os feitiços... - A outra balbuciou, fazendo a primeira rir.
- Ah, aquilo? Foram ainda mais fáceis de derrubar que as proteções da Corte Noturna... ou da Corte Crepuscular. - Balançou a cabeça fingindo desgosto. Então olhou para a manta azul clara bordada que envolvia o bebê e disse num tom entusiasmado. - Posso vê-lo? Eu simplesmente ADORO crianças. - E jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada debochada.
Num movimento rápido avançou e arrancou o pacotinho macio dos braços de Amaryllis.
Porém depois de uns três passos se afastando ela parou e franziu o cenho, percebendo que havia algo errado. Puxando a manta de lado, tentou ver o rosto do bebê, mas foi atingida por uma núgem de pó. Tossindo, deixou a manta vasia cair no chão.
- O que... - Tentou perguntar, entre ofegos, mas um voz masculina falou por trás dela.
- Eu achei que você já tivesse respirado pó de faebane, já que gosta tanto dele. - A voz de Helion parecia entediada, mas dava para ver o puro ódio fervilhando por trás das palavras.
- É péssima, não é? Essa sensação de impotência. - Kallias então disse.
Quando Clythia voltou-se, arregalou os olhos, pois ali ao seu redor estavam os Grãs Senhores de seis cortes, além de Bronagh e Roran, Lucien, Cassian e Azriel, Morrigan, Varian e Amren, Eris, Viviane, e Ablon. E todos eles estavam em posse plena de seus poderes, com armas em punho e ela estava sob o efeito do faebane. A realidade da situação em que se encontrava pareceu atingí-la, pois ela engoliu em seco.
- O seu maior problema é que você é previsível. - Roran disse.
- Burra e previsível. - Bronagh disse, concordando com a cabeça.
- Primeiro os filhos de Rhys e Kallias. Depois o filho de Tamlin, então o de Helion. Quão tolos todos teríamos que ser para não nos darmos conta de que o meu filho seria o próximo? - Tarquin olhava para ela com pena, vendo o quão patética era.
Pensando com velocidade, Clythia pegou seu pacote de faebane, o pouco que ainda restava, e atirou neles. Uma brisa foi soprada e levou o pó embora. Helion balançou a cabeça com desgosto.
- Todos nós já tomamos o antídoto. Mesmo que você conseguisse os fazer inalar, não faria efeito. - Varian comentou, encolhendo os ombros.
Então uma faca tocou o pescoço da ruiva, e ela percebeu que Amaryllis havia chegado por trás dela.
- Ao invés de nos subestimar, você devia ter desconfiado da facilidade com que ultrapassou nossas defesas. Mas você é arrogante e tola. - Ela sussurrou em seu ouvido.
Bronagh avançou para elas e com a mão em punho deu um soco na barriga de Clythia que a jogou perto da borda do penhasco. Esta se curvou, procurando por ar e cuspindo sangue.
- Eu estava morrendo de vontade de retribuir isso. - A jovem disse, seu tom de voz glacial.
Antes que se desse conta, uma linha de fogo como um chicote estalou nas costas da ruiva ajoelhada no chão, fazendo-a dar um grito de lamento.
- O que foi? Você só gosta quando é você a bater em uma criança inocente? - Ignae perguntou, e brandiu seu chicote de fogo outra vez, deixando uma comprida queimadura em carne viva nas costas de Clythia, já que seu vestido se rasgou com a força e o calor do golpe.
Viviane então se adiantou e a agarrou pelos cabelos.
- Amarantha morreu rápido demais. Não cometeremos o mesmo erro com você, e fez um longo talho com uma faca feita de gelo na lateral direita da outra, cegando-a no processo.
Ela voltou a cair no chão, gritandi de dor enquanto agarrava a bochecha. Quando baixou a mão metade de seu rosto estava preto, como um membro que necrosou com o frio. O olho antes castanho estava branco d murcho. Uma visão hedionda.
- Eu não me arrependo. - Uma voz masculina soou atrás do grupo, e todos se viraram surpresos. O rosto de Clythia ficou lívido. - Eu não me arrependo de nenhuma dor que te afligi. Nenhuma gota de sangue que tirei de você. Faria tudo de novo. - Jurian disse.
Ele caminhou lentamente para ela, que balbuciou seu nome.
- Eu não me dei conta de que quando eu matei você, você estava grávida. Não até me contarem o que você andava fazendo com as crianças. - Ele se curvou e a agarrou pelo pescoço, erguendo-a até a altura dos olhos. Começou a andar enquanto falava. - Mas eu não me arrependo. Qualquer monstruosidade que você tenha gerado merece estar morta.
Ele então parou na beira do penhasco e os dois se olharam longamente.
- Eu amava você. - Ela disse, suas palavras distorcidas pelo rosto machucado e pela falta de fôlego.
- Mas eu nunca amei você. - Ele respondeu, e a jogou.
O tempo pareceu desacelerar enquanto todos se aproximavam para observá-la caindo,nos cabelos vermelhos voando e ocultando seu rosto mutilado. Depois que ela atingiu às águas uns 30 metros abaixo, um silêncio carregado pairou no local.
Por fim foi Thesan quem respirou fundo e disse.
- Acabou.

A dor a estava dilacerando. Não sabia se era por causa dos ferimentos que sofreu antes ou se porrque eram dois bebês, mas aquele parto sem dúvida estava sendo muito mais difícil que os dois anteriores.
- Esta tudo bem, é assim mesmo. Você só precisa fazer força. - Thesan disse com voz gentil, porém firme, enquanto massageava sua barriga, como que instando os bebês a nascerem.
- AAAAAARRRRRGHHH. - Feyre gemeu alto, fazendo toda força que podia. Uma sensação repentina de alívio lhe tomou, fazendo-a relaxar um pouco. Um choro alto ecoou pelo quarto, e gritos de comemoração vieram do lado de fora. A porta abriu e Rhys entrou ofegante.
- Tínhamos combinado de você esperar lá fora. - Thesan disse, mas estava sorrindo pkr causa da expressão ávida no rosto do outro.
Ele foi para o lado de sua parceira e os dois o servaram quando o primeiro bebê foi mostrado para os dois.
- É um menino. Grande e saldável.
- Ryan. - Feyre disse, sorrindo entre as lágrimas. O rosto de Rhys também estava lavado enquanto os dois observavam uma curandeira começar a cuidar do pequeno.
Thesan voltou para sua posição anterior.
- Muito bem, Feyre. Você esta indo muito bem. Faça mais força agora. Nós ainda temos mais um a caminho.
Ela balançou a cabeça, parecendo exausta, mas agarrou a mão de Rhysand e forçou novamente. E novamente... e mais um pouco.
- Que menininha mais preguiçosa. Não queria sair. - O curandeiro brincou, mas dava para notar que ele próprio estava muito emocionado. Quando levou a pequenina para os pais, os dois estavam embevecidos já.
- Freya. - Rhys disse, com a voz rouca. Então beijou a testa suada de Feyre. - Eu te amo.
E sorrindo apesar da dor e do cansaço, ela acariciou seu rosto e disse. - Eu te amo.

Espero que tenham gostado!
Amanhã posto o epílogo com uma surpresinha. ;)

Corte de Gelo e Escuridão - FINALIZADAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora