Corte de Gelo e Escuridão - FINALIZADA

Capítulo 18

Beron chegou na cabana de caça de suas terras, e esperou. Todas as vezes em que Clythia lhe mandava um aviso, os dois se encontravam ali. Não demorou muito para a figura encapuzada chegar e entrar, fechando a porta atrás de si.
- Você não devedia ter vindo. Com o que aconteceu na Corte Noturna, todo o cuidado é pouco...
- Não faz diferença pra mim se nos verem juntos. - Ela retrucou em tom entediado.
Deu pra perceber que o Grão Senhor da Corte Outonal estava se contendo para não responder.
Um fato sobre Clythia: ela sempre adorou ver o poder que tinha sobre às pessoas. Seu sorriso era deliciado por saber que o motivo para o macho não retrucar ou atacar era medo.
- Quando é que você vai começar a cumprir sua parte no nosso acordo? - Ele perguntou num tom contrito.
- Paciência, meu caro. Eu esperei cem anos para ter minha vingança. Garanto que você vai precisar esperar bem menos para se vingar de Helion.
- Eu não quero 'vingança'. - Ele disse a palavra com desprezo, como se estivesse muito acima disso. - O que eu quero é vê-lo morto.
A fêmea estalou a língua e balançou a cabeça de forma teatral.
- Que falta de imaginação. Se ele morre, e depois? Qual a graça disso? Nah, o que eu quero é fazê-lo sofrer. Se você o quer morto, contrate um mercenário e pague por isso. - Ela acenou a mão com um gesto de desdém.
Ficou surpresa quando Beron agarrou seu braço com força, a sacudindo.
- Nós fizemos um acordo! Todo o faebane que eu escondi em troca de você acabar com Helion. Se você nào cumprir com a sua parte...
- Então o quê? Você não tem poder para me matar. Vai então contar para os outros Grão Senhores sobre mim? Eles já sabem! Só o que você vai conseguir serão inimigos e a imagem de corno recalcado. - Clythia cuspiu na cara dele, arrancando o braço de seu aperto com um safanão.
- Sua...
- Cale-se! Eu não vim para te ouvir zurrar. Dê-me o faebane e saia.
- Você esta na minha corte.
- 'Você esta na minha corte'. - Ela repetiu com a voz em falsete e uma mão na cintura. - Cresça, Beron. Você se enfiou num atoleiro. Eu sou a única que mantém seu nariz fora da merda, não se esqueça disso.
Os dois se encararam por um tempo, e por fim o Grão Senhor pareceu dar-se por vencido. Enfiando a mão dentro do gibão que usava, retirou um pacote embalado em couro e o atirou aos pés dela. Sem dizer nenhuma palavra saiu dali pisando duro.
Curvando-se lentamente ela pegou, nem um pouco perturbada.

- Ela foi vista na Corte Outonal. - Azriel disse.
Helion ergueu uma sobrancelha, enquanto Rhys fechava uma mão em punho.
- Foi por isso que Beron foi tão evasivo a reunião então. - Tarquim comentou, parecendo surpreso.
- Não sabemos. Ela ser vista lá não significa tanto assim. Az, Beron estava com ela? - O Grão Senhor da Corte Noturna perguntou. Quando o illyriano negou com a cabeça, ele continuou. - Então não temos nenhuma prova.
- O fato de o meu filho ter sido atacado pode ser uma prova. - Helion disse, de forma pensativa. Isso atraiu a atenção dos presentes.
Dessa vez foi Tarquin que ergueu as sobrancelhas enquanto Kallias pigarreava de leve. Todos ali sabiam do odio que aqueles dois nutriam um pelo outro, e da participação que a Senhora da Corte Outonal tinha nesse sentimento.
- Ainda assim não podemos realizar um ataque nos baseando em suposições. - Kallias então disse, num tom que era quase de desculpas.
- É claro. Deixe-o lá enfiado no buraco dele. Se ele não ajuda, ao menos não atrapalha também. - O Grão Senhor da Corte Diurna respondeu, prontamente. - Porém enquanto nós estivermos reunidos para caçá-la, eu gostaria de garantir um lugar seguro para Armand.
Os homens concordaram.
- Atualmente Thesan é o único aliado declarado se mantendo em sua corte. Tenho cert3za de que ele não se incomodará de receber seu filho. - Rhys disse.
- Que seja então. Por agora creio que é o suficiente. Assim que eu retornar nós iremos começar às buscas.
- Lucien já retornou às terras humanas. Ao que parece Jurian e Vassa estão tendo problemas para localizar as rainhas imortais. - Kallias voltou a falar então.
Do canto em que Azriel esteve silenciosamente atento à conversa, ele disse.
- Hoje de manhã ele partiu. Nosso acordo foi que ele mandasse notícias dentro de cinco dias. Se até lá não houver sinal das rainhas, o alerta sera dado.
- E então nos preparamos para a guerra. - Tarquin disse.
Um silêncio grave e pesado pairou na sala de reuniões da Corte Invernal, quebrado quando Helion se levantou.
- Vejo vocês amanhã cedo. Rhys, você vai estar na Corte Crepuscular mais tarde? - Quando o macho em questão concordou, o outro continuou. - Então nos vemos mais tarde.
E com isso saiu dali.