SHORT 3

9K 745 192
                                    

Short 3

TOM

O vento soprou o chão do parque, fazendo esvoaçar umas quantas folhas que o cobriam e libertando os cabelos das raparigas. Era o típico fim de tarde. Os alunos do colégio do outro lado da rua dirigiam-se para casa após uma quinta feira de aulas, de carro, a pé ou bicicleta. No entanto, alguns ficavam ali pelo parque, a matar tempo, ou a queixar-se de algum stôr ou TPC mais exigente.
Era o caso do grupo de cinco rapazes que tinham ocupado os dois bancos perto do cedro, sentados ou deitados. A vida corria-lhes bem. Eram populares, tinham caras bonitas e uma personalidade típica daquele grupo de jovens que dita a moda da escola. Nick, Stephan, David, Sean e Tom ficaram ali, a ver os alunos e as mães com as crianças a brincar nos escorregas passarem.
- ... e depois ele fez aquela cara, sabem, que parece que o nariz lhe vai explodir e pegou numa régua - explicou Sean, passando a mão pelos caracóis loiros. - Apontou para mim e disse: "Na ponta desta régua, está um preguiçoso que não vai realizar nada na vida."
- E tu? - Inquiriu Stephan, sem ainda perceber porque é que o facto de Sean não ter feito uma composição lhe dera uma suspensão.
- E eu disse: "Em qual das pontas, professor?"
Nick, que estava a beber uma garrafa de água, cuspiu tudo, entre tosses e risos.
- Sean, meu - sorriu Tom, enquanto David dava um high five ao que estava na berlinda, orgulhosíssimo da sua resposta ao professor. - És doido. Três dias suspenso, a tua mãe vai-te matar.
- Eu acalmo a velhota - disse ele, encolhendo os ombros. - Também, se realizar algo na vida é ficar velho e careca a ensinar literatura inglesa como aquele stôr... não, obrigado!
- Então, para ti, o que é realizar algo na vida? - Sorriu Nick, já recomposto do engasganço com a água.
- Ter bué big money, viver numa casa enorme com uma piscina de big money e rodeado de gajas giras.
- Que planos tão ambiciosos - disse David, abanando a cabeça. - Que orgulho em ti.
- Se bem que, por acaso, não me posso queixar das gajas giras - disse Sean, olhando para a sua esquerda. - Viram a nova aluna? A Kayla?
- Aquela que veio um período em intercâmbio? - Disse Tom.
- Essa mesmo. Se todas as raparigas lá da sua escola forem como ela, mudo-me num instante!
Os cinco rapazes seguiram o seu olhar. Kayla, mais um grupo de amigas, estavam sentadas a alguns bancos de distância, tal como eles, a tagarelar e com uns livros de Química abertos. Kayla estava entre elas, a rir de uma piada qualquer. Tom fixou-a. Percebia ao que é que Sean se estava a referir: cabelos fortes e doirados, olhos quase tão azuis quanto os dele, os dentes perfeitamente alinhados que compunham um sorriso perfeito. Uma das amigas de Kayla, que Tom conhecia dos corredores da escola, viu-o a olhar para ela e deu-lhe uma cotovelada. Kayla cruzou o olhar com ele.
Tom sorriu-lhe e arqueou uma sobrancelha. Kayla limitou-se a sorrir de volta e continuou o que estava a fazer.
- Eh la, campeão - apupou Stephan.
- Eh la o quê?
- Vais safá-la?
- Safá-la?!
- Não te finjas surpreendido. És o Tom. Ficas com qualquer rapariga que queiras.
- E ela parece interessada em ti - suspirou o Sean, que já perdera muitas miúdas para o rapaz dos olhos azuis. - Mais uma...!
- Acham...? - Tom olhou de novo para Kayla. Bem, porque não? Ela era gira. E só ficaria ali três meses em intercâmbio, antes de ir embora, por isso jamais seria algo duradouro. - Bem, porque não tentar?
- Tentar? Está no papo - troçou David. E depois, fazendo uma voz feminina, começou a desfilar e disse histericamente: - Tom, és TÃO booom! Três quartos da população feminina deste colégio gostam de tiii! Por favor, deixa-me lamber-te as botas. Vou-me despir toda e saltar para cima de ti!
Os outros rapazes começaram a rir. Tom fez um sorriso superior.
- Quem pode, pode - limitou-se a dizer.
- Quem tem olhinhos azuis e carinha de príncipe, pode, queres tu dizer - corrigiu Nick. - Quantas já comeste só esta semana?
- Vocês fazem-me soar um pervertido qualquer.
- Não fazemos, não, está descansado. Tu és.
Enquanto os outros se riam, Sean notou pelo canto do olho outra pessoa. Sentada sozinha num dos bancos mais afastados, mas a olhar fixamente para eles, estava Alissia... ou Alison... ou o que era... a suspirar e a rabiscar fervorosamente num bloco de notas.
- O que é que aquela está ali a fazer? - Interrompeu Sean, fazendo sinal com a cabeça em direção à miúda, que ocupada a desenhar não notou.
- Quem é ela? - Nick encolheu os ombros.
- Esperem... Alice, acho - disse Stephan. - Está comigo a Biologia. É mesmo estranha, está sempre a desenhar. E fica toda vermelha quando falamos com ela. No outro dia, o Henry atirou-lhe uma borracha, e haviam de ter visto. - Riu-se. - De tão corada, só faltava explodir!
Não era o tipo de rapariga apanhada pelo radar dos populares. Pequena, magrinha, com um enorme aparelho cor-de-rosa e cabelo curto e seco num minúsculo rabo - de - cavalo, estava longe de ter a atenção de uma "classe social" como a deles os cinco. Tom nem se teria apercebido dela, se Sean não os tivesse feito notar.
- Que é que ela está ali a fazer sozinha? - Perguntou David, desinteressado.
Mas Sean já tinha uma ideia. Fez sinal a Nick para o acompanhar, e com um sorriso maldoso, aproximou-se de Alice. Esta estava tão concentrada no seu caderno que nem se apercebeu da chegada dos dois rapazes.
- Olá, beleza - troçou Sean, de repente, ao seu lado. Alice ficou tão atrapalhada que teve um sobressalto, o seu caderno caiu ao chão e todas as suas canetas se espalharam.
- O-o-eu... - Começou a gaguejar, enquanto o rubor se alastrava pelas suas bochechas. Usava aparelho há pouco tempo, e as palavras ainda lhe saíam como se tivesse a boca cheia, o que dava um ar ainda mais patético à situação. Nick, do outro lado, pegou no caderno que caíra nas pedras do parque.
- Dá-mo - guinchou Alice.
Os olhos de Nick arregalaram-se enquanto lia aquilo, e teve um enorme estrondo de gargalhadas.
- Oh meu Deus! - Riu ele. - Tom, tens de ver isto!
- O que é, o que é? - Inquiriu Sean, com um sorriso de orelha a orelha, deixando Alice à beira das lágrimas.
- Um poema! - Riu Nick. Depois, subiu de pé para um banco vazio. Tom, David e Stephan escutavam-no atentamente, e por esta altura já chamara a atenção de algumas raparigas do outro grupo, incluindo Kayla. - Dedicado a ti, Tom!
- Não leias, p-por favor - gaguejou Alice.
- Lê! - Exclamou Sean, rindo.
- As folhas caem das árvores, sem fazer nenhum som - Nick fez uma voz ridiculamente aguda, imitando Alice - mas o meu coração só bate, pelo meu amado Tom.
Os rapazes riram-se. Alice tentou subir ao banco e arrancar-lhe o caderno, mas Sean puxou-a para trás.- Nos seus olhos vejo o mar, no seu cabelo uma floresta de carvão - Nick tentou manter uma postura séria, mas resfolegava pelo riso. - Quem me dera que ele me pudesse notar... mas não! Bem, miúda, além de umas aulas de Arranja Uma Vida, aconselhava-te também um curso de poesia! - Amachucou a folha numa bola e atirou-a a Tom, antes de saltar do banco.
Stephan ria tanto que caíra do banco abaixo, e algumas amigas do grupo de Kayla também riam baixinho, olhando para Alice, que estava a tremer de vergonha a olhar para Tom. Este pegou no papel como se fosse lixo e olhou para Alice com a sobrancelha arqueada, antes de dizer:
- Achas que eu alguma vez notaria uma falhada como tu? Faz uma cirurgia plástica e depois vem falar comigo.
Alice soluçou, pegou na mochila e nas canetas espalhadas no chão, mas como tinha as mãos a tremer só as espalhou mais. Os rapazes riram-se enquanto ela se afastava rapidamente, em direção à saída do parque.
- Ridículo. - David abanou a cabeça. - Como é que estes miúdos existem lá na escola.
- Uma admiradora secreta, Tom - riu Nick. - E poeta, ainda por cima!
- Vou ter pesadelos, hoje à noite - garantiu este.
- Bem, pessoal, foi divertido, mas tenho de ir - despediu-se Stephan. - A Mara está à minha espera. Prometi levá-la ao cinema.
- Vai lá ter com a tua amada. Eu também vou bazar. Ainda tenho de decidir a melhor abordagem para dizer à minha mãe que fui suspenso - suspirou Sean.
Tom despediu-se dos amigos, e pelo canto do olho viu que as raparigas também estavam a começar a ir embora. Kayla ficou um pouco para trás, a tentar enfiar os livros de Química na mochila cheia. Era a sua oportunidade.
- Olá, miúda - Tom fez o seu maior sorriso resplandecente, e passou-lhe a mão pelas costas. - Kayla, não é? O professor disse que vieste fazer um intercâmbio. Sinceramente, bem que podias ficar por aqui mais do que uns meses-
- Encurta a cantiga, palhaço - cortou Kayla. Tom calou-se abruptamente. - Deves achar que não vi o que fizeste à pobre Alice.
- Eu... - Disse Tom, admirado.
- Nem te tentes desculpar. Tu e os teus amiguinhos idiotas puseram-na a chorar. Mas lá porque vocês são popularzinhos acham que mandam nalguma coisa? - Kayla apontou o dedo a Tom. - Deixa-me dizer-te uma coisa, Senhor O Meu Ego É Tão Grande Que Tem Estrias. Podes namorar com todas as que quiseres e achares-te o máximo, mas nada te dá o direito de fazeres o que fizeste. És tão podre por dentro que acho que és tu que precisas de uma operação. Espero não ter de voltar a falar contigo nem com nenhum dos teus amigos idiotas nos próximos três meses nesta escola.
E dito isto, Kayla pegou na mochila e foi embora, deixando Tom ali especado.

***

Campo de Férias SHORTSTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang