Parte III - Os corvos em liberdade

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Quando Akane acordou se viu amarrada a uma pilastra, em uma gigantesca sala, iluminada por chamas que dançavam em arandelas decorativas. Ela imediatamente olhou ao redor, e como percebeu, suas armas foram retiradas de sua posse, assim como o cristal dourado. Imediatamente, a moça começou a se debater, tentando se desamarrar, porém ela logo parou, ao ouvir passos vindos em sua direção:

- Akane.... Akane.... Eu nunca pensei que tinha sobrevivido ao ataque de sua cidade – Kitsune, com um ar de satisfação, se aproximava da moça detida – Também nunca pensei que estaria atrás desse pedaço de cristal, tão... frágil – O sorriso da mulher era ameaçador, bestial, enquanto acariciava o colar dependurado em seu pescoço, que exibia o cristal dourado.

Os sussurros indistinguíveis, agora pareciam gritar dentro da cabeça de Akane, que voltou a tentar se desamarrar:

- Isso não pertence a você, então eu tomei a liberdade de pegá-lo – A jovem guerreira, mesmo em uma posição de desvantagem, tinha uma postura afrontosa.

- Então, já que isso é seu, você terá que provar o quanto quer ele de volta – A mulher estendeu os braços, e de dentro de suas mangas, chamas saíram, se depositando em mais arandelas e iluminando ainda mais o salão.

Agora, Akane pôde ver que aquele lugar era ainda maior do que parecia. A sala possuía pilastras, feitas de uma madeira envelhecida, que exibiam as figuras dos corvos entalhados, na outra extremidade um trono opulento se encontrava, encarando todo o salão:

- Você não é a única que usa cristais elementares – A mulher se deleitava com a confusão de Akane – A coisa é simples, se você derrotar minhas tropas, o cristal é seu. Caso contrário, bom, eu acho que você não estará viva para ver, ou pelo menos não em seu corpo físico.

Kitsune estralou os dedos e vários samurais apareceram no salão real, em seguida algo foi lançado nos pés de Akane. Eram sua espada, as bolsas e as luvas que lhe conferiam poderes sobre-humanos:

- Então, que comece...

A mulher ordenou e imediatamente o exército de máquinas foi correndo em direção à Akane. A moça, com muita destreza, trouxe a espada mais para perto de si, a pegando rapidamente. Com um movimento, ela cortou a corda que a prendia, enquanto os samurais, de passos pesados que faziam tremer o chão, corriam em sua direção com as espadas em riste.

Akane ainda estava colocando seu equipamento, quando os primeiros guerreiros robóticos conseguiram alcança-la. Ela nada pôde fazer a não ser desviar das lâminas e aparar alguns golpes, enquanto lutava para colocar seu equipamento. Agora, uma roda se formou ao redor da moça, que se esforçava para não ser atingida por nenhuma espada. Mas, assim que colocou a luva, a batalha se virou a seu favor.

Das luvas de Akane, raios saiam, derrubando vários samurais, outros ela fincava a espada no meio do peito, fazendo uma luz dourada ser liberta pelo corte na armadura. O exército era extenso e a luta interminável, Akane parecia dançar de tanta graça que possuía ao batalhar. Ela não se abalava ou dava sinal de cansaço. Em pouco tempo, o exército foi dominado e agora a sala era uma pilha de máquinas desativadas, com partes faltando. Akane se encontrava no meio daqueles corpos, a espada ainda preparada, enquanto encarava a mulher de dourado ao longe:

- Bom, falta apenas um membro do meu exército – Kitsune se aproximava de Akane, ao mesmo tempo que retirava algo da cintura – Eu mesma...

Kitsune investiu ameaçadoramente contra a moça, ela segurava duas adagas, enquanto pulava os corpos metálicos ao chão. Assim que se aproximou de Akane, a mulher a atacou prontamente. Já a jovem guerreira, surpresa pela atitude de Kitsune, continuou a aparar os golpes. Porém, aquela mulher era diferente dos demais, sua força era maior, assim como a letalidade de seus golpes.

Akane mal conseguia se livrar de uma investida, e teria que se preocupar com outra mais potente. A luta era intensa, até que Kitsune usou truques que a jovem não esperava. Uma chama saiu das mangas da mulher, em seguida foram manipuladas por suas mãos e arremessadas em Akane. A jovem foi atingida no braço, não conseguindo se desviar muito bem quando pulou para trás. Akane, viu uma oportunidade de também usar um de seus truques, porém ela não teve tempo de reagir.

Kitsune jogou uma das adagas em direção da jovem guerreira. A arma não era uma lâmina comum, ela se abriu, formando um leque de metal, que agora girava no ar em direção ao pescoço de Akane. A moça desviou por pouco, e imediatamente pensou rápido e investiu contra Kitsune.

Nesse último golpe, a jovem guerreira conseguiu ferir a mulher. O braço de Kitsune foi arrancado, porém, ela não se abalou. Ali foi revelada a real natureza daquela líder. Onde foi cortada sua pele, vários fios estavam dependurados, denunciando sua real construção. A mulher apenas continuou a lutar, tão feroz quanto antes.

Akane apenas foi para trás, aparando os golpes da mulher. Em pouco tempo, a luta foi levada para fora do salão real, indo para os corredores da enorme construção e terminando na rua.

O dia amanhecia, poucos habitantes passavam pelas ruas, mas eles se assustaram com a comoção que veio de dentro do palácio. As duas continuaram lutando, sem se importar com a plateia que se formava ao redor. Todos os habitantes estavam surpresos ao ver o braço de Kitsune, aparentemente eles também não sabiam de sua natureza robótica.

Akane, em um ato de desespero e por estar cansada da batalha, agarrou Kitsune com uma das mãos. Da luva, uma corrente elétrica saiu, percorrendo o corpo daquela mulher. A jovem guerreira se desvencilhou em seguida, ao ver que Kitsune se enfraqueceu. Ali estava sua oportunidade de acabar com aquela luta.

Sem pensar duas vezes, Akane enfiou a espada no peito de Kitsune. Um brilho dourado, intenso, saiu da fissura formada. Os habitantes soltaram uma expressão de surpresa, ao entenderem o que era aquela luz.

Akane segurando aquele corpo, encarou Kitsune nos olhos, enquanto a vida daquele ser se esvaía. Em seguida, puxou o colar do pescoço da mulher e se afastou com o cristal novamente em suas mãos, deixando o corpo daquela criatura cair no chão com um baque alto.

A jovem guerreira, colocou o colar em volta do pescoço, sem se preocupar com a multidão que a encarava. Conforme andava cambaleando de cansaço, a dor que sentia no braço queimado ficava mais intensa.

Em pouco tempo ela saía da cidade de Karasu, mas não sem antes ouvir o estourar de uma rebelião, ou pelo menos era que ela pensou. A jovem guerreira agora se afastava da cidade dos corvos, quando o cansaço a venceu. Akane, se sentou na beira do caminho de terra, suas pernas se recusavam a obedecê-la. Assim que relaxou, ela segurou o cristal:

- Agora eu vou achar um jeito de te tirar daí. Mas antes, nós devemos achar o papai e a mamãe. Aguenta só mais um pouco, minha irmãzinha.

E assim, Akane deitou de costas ao chão, com ocristal no pescoço, cintilando sua luz dourada. A moça pôde vislumbrar o céu damanhã, enquanto lá do alto, os corvos voavam em liberdade.    

1206 palavras. 

Akane e a Cidade dos CorvosWhere stories live. Discover now