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...Ela pegou seu irmão falecido no colo e sem olhar para trás dirigiu-se a sua casa.

...

Ela resolvera partir.

Não havia mais a quem alimentar.

Estava só, e era uma moça, precisava sair ou ia enlouquecer.

Seu irmão estava enterrado no velho pomar, e pela primeira vez a menina se viu desejando poder morrer, trocar por ele.

O pequeno demônio sorria observando sua infelicidade na casa, ele ainda iria oferecer outra proposta a ela, quando ela estivesse bastante decepcionada, chateada e triste.

...

Estar em um navio com uma tripulação completamente masculina era tenso.

O olhar dos mesmos quando estes a viram embarcar não foi nada legal, o capitão aceitou seu dinheiro para a viagem, mas lhe avisou com antecedência que "não se responsabilizava por danos internos ou externos durante a viagem", ou seja, desde enjoos a brigas, ou... coisa pior. A menina se trancou em sua cabine e sequer ousou sair, nem quando a refeição fora servida, se alimentou com pão e frutas que trouxera em sua bagagem.

Na terceira noite de viagem alguns homens vieram bater em sua porta:

- Oi!?! Eu sei que está aí. – pela voz ela percebeu que devia ter bebido muito.

Já chovia fazia horas e o barco balançava muito, lhe causando enjoos, agora isso?

Até onde o azar de uma pessoa podia chegar?

- Oi!?! Ooooi??!! – o homem e seus colegas esmurravam a porta, pareciam estar dispostos a entrar a qualquer custo.

A menina pegou uma faca que trouxera para descascar frutas e segurou com firmeza, não pretendia usá-la, mas... por via das dúvidas.

A porta parecia que ia ceder ao impacto dos braços dos homens em breve, a menina suava frio.

Então ela ouviu o som da madeira se rompendo, mas ela percebeu que o som vinha detrás dela.

O casco do navio havia rachado, a água começou a entrar, na mesma hora os homens arrombaram a porta e foram empurrados pela água.

A menina morreu afogada dentro daquele navio enquanto sorria.

...

Ela emergiu e inspirou o ar com força, seus pulmões ainda ardiam, ela nadou em direção a um barril que boiava e se apoiou.

Olhou em volta, aparentemente nenhum sobrevivente, observou o céu, o sol já ia alto, devia ser quase meio dia.

Foi quando a menina olhou para frente e viu um homem com as mãos no barril que ela também segurava enquanto encarava-a.

A menina levou um susto tão grande que gritou e se jogou para trás na água.

Aquele homem era diferente, parecia com uma sombra, tudo nele era negro, ela não distinguia outra cor nele, mas conseguia ver seus detalhes, não com tanta clareza, ao mesmo tempo em que os detalhes mais mínimos pareciam que não existiam ou eram borrados pela única cor que predominava sua existência.

Ela percebeu que ele franzia as sobrancelhas e decidiu se aproximar, foi então que notou que ele não estava realmente se apoiando no barril, ele estava só segurando por pura formalidade, ele estava literalmente flutuando com parte do corpo dentro da água!

- Quem... o que é você? – a menina perguntou.

- Tenho uma resposta que responde a essas duas perguntas. – ele respondeu grave e educadamente. – Vocês, humanos, geralmente me chamam de Morte.

Enrolado dentro do barril, o pequeno demônio escutava atentamente o primeiro diálogo da menina e a Morte.

A Menina E A MorteWhere stories live. Discover now