- Eu aceito a sua proposta, eu vou com você. Só faz isso parar – falou apontando com o dedo o caos em que o apartamento se encontrava.

- Fico realmente feliz, mas por agora procure descansar, não haverá mais sonhos por essa noite. – sorriu.

          Rebeca adormeceu sem perceber, uma noite sem sonhos, como o prometido. Acordou por volta do meio dia um tanto desorientada, Miguel não estava lá.

         Olhou em volta, tinha a impressão de que ele estivera lá o tempo todo, mas devia ser apenas imaginação, as lembranças da noite anterior estavam turvas, o apartamento estava um caos. Não dormia tão bem desde que se entendia por gente... Era bom.

       Levantou-se e entrou no banheiro, as vozes estavam lá, como sempre estiveram, mas pareciam mais distantes, não causavam nenhum tipo de sensação, nem boa nem má, era como estar em um local apinhado de gente, não eram direcionadas especificamente para ela. Gostava quando agiam assim, era mais suportável.

       Tirou a roupa e entrou no banho, demorando enquanto a água escorria pelos cabelos, sentindo toda aquela sujeira indo embora. Enrolou-se na toalha gasta com uma sensação gostosa de limpeza e abriu a porta como sempre fazia deparando-se com um Miguel surpreso encarando a figura meio molhada, bem na sua frente. Durante alguns segundos não conseguiu reagir; não estava acostumada a ter gente em casa e muito menos um homem, e muito menos quando acreditava que este homem estava a quilômetros de distância e não na sua sala/quarto/cozinha segurando dois copos de café e olhando diretamente para ela, seminua.

- Desculpe – exclamou voltando para o banheiro enquanto ele dizia, constrangido, que ia esperar do lado de fora até que ela se vestisse.

           Rebeca pegou a primeira roupa limpa que encontrou e vestiu, constrangida, então correu e abriu a porta sem nem pentear o cabelo. Os dois se olharam por alguns instantes e então começaram a rir.

- Pensei que você tivesse ido embora – ela falou enquanto passava um pente pelos cabelos úmidos.

- Fui apenas comprar um café. – respondeu – Fico feliz que você esteja melhor.

- É, parece que sim – sorriu.

- O que pretende fazer agora? – perguntou bebendo do copo descartável que havia trazido.

- Eu não sei... – disse olhando pelo buraco que antes continha o vidro da janela estilhaçada.

- A minha proposta ainda está de pé. – adiantou-se, antes que ela se armasse novamente.

- Eu não sei como isso aconteceu. Não fui eu. – disse olhando os cacos de vidro e água que agora já havia secado um pouco. – Você acha que é possível?

- Claro que sim – sorriu timidamente, as mãos estavam casualmente nos bolsos do jeans escuro.

- Acha que pode me ajudar? - perguntou incrédula, ao que ele assentiu com a cabeça.   

- Está com fome? Podemos almoçar, ou comer qualquer coisa se achar que está muito cedo para almoço, depois preciso ir... Mas eu volto o mais rápido possível para te buscar.

- Obrigada, mais uma vez – sorriu – E acho que poderia comer alguma coisa sim, toda essa agitação me deixou morrendo de fome – riu. – Mas pode ir, não se preocupe, sei me virar sozinha.

- Poxa que pena, porque o Diego deixou um monte de comida aqui e eu achei que talvez pudesse gostar do que eu deixei no forno – sorriu apontando para o fogão.

- Você cozinhou? – perguntou adiantando-se para abrir a porta do forno e deparar-se com uma travessa de macarrão extremamente apetitosa. – Inacreditável – sorriu perplexa.

A Última Lágrima do AnjoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora