Capítulo 2

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Capítulo 2 – Uma resposta que levava a uma nova pergunta

Hoje

Mara continuava a arrastar a sua mala. Por algum motivo desconhecido para ela, relembrou o que ela considerava como as suas primeiras memórias confiáveis.

Sim, Mara era aquela criança que foi raptada, e aquela jovem que reapareceu coberta de ferimento também era ela. Não entendia o que acontecia ao seu redor, muito menos o que fazia naquela loja.

Mara se lembrava sim que anos atrás um homem a levou quando seu avô estava na fila, que ele a arrastou até o estacionamento do shopping, uma vaga memória de um barbudo com roupas antiquadas, algo que nem tinha certeza se aconteceu. Só que a próxima lembrança que teve é uma que você sabe. Que ela apareceu toda desfigurada perto de uma arara.

Basicamente, ela só recordava de tudo aquilo que contei para você.

Há anos, uma jovem que aparentava estar na flor da sua adolescência se viu estiraçada no chão, com uma sensação estranhíssima no corpo, desagradável demais para comparar com qualquer tipo de dor que experimentou antes. E não sabia como conhecia a dor, mas por algum motivo, tinha algumas comparações com o que não sabia ao certo o que era. Quando olhou para os arredores e percebeu que haviam várias pessoas com os olhos presos nela, sentiu o horror que emanava de todos, como se sentiu grata com aquilo!

Há pouco tempo, quando todos a viam como uma criança birrenta, queria que alguém visse a injustiça que acontecia, e conseguiu. Só que aquele pouco tempo estava tão borrado com o tempo que ela não sabia que passou...

– Alguém me ajuda! – Gritou ela. – Esse senhor não é meu pai... Não sei para onde ele me leva! Moço, moça... – Suplicou para o casalzinho que estava por perto, estendendo o braço na direção deles.

Percebeu então boa parte do que estava errado. Recordava que vestia um vestido laranja que deixava seus braços livres, e que o achava bonito mesmo que ficasse esquisita nele. Ficou confusa quando viu os braços cobertos por uma manga azul comprida de punho longo, no formato de sino, e outra mais justa embaixo, ambas sujas e rasgadas. Ela não possuía aquela roupa e nunca usou algo parecido. Estranhou por estar toda desgrenhada, o ombro estava rasgado como se alguém tivesse a puxado. E aquelas manchas vermelhas, aquele líquido vermelho que soltava um cheiro ferroso forte...

Os locais manchados eram os pontos que mais doíam. Seriam eles machucados? Arregalou os olhos, eram machucados mesmo! Tinha um horrível no seu punho, maior do que qualquer um ralado no joelho que teve. Seus dedos estavam estranhos, não estavam retinhos e sim entortados... Isso a desesperou, já que não sabia de onde tantos machucados surgiram.

Tentou se levantar, ao menos elevar um bocado o seu tronco e disse, desesperada:

– O que está acontecendo? O que está acontecendo... Ajuda, alguém me ajuda! O que...

Sua garganta também estava dolorida, mas de uma maneira diferente das suas outras partes. Era a mesma sensação que tinha depois de gritar muito. E aquela voz...

Estava rouca por acaso? Sim, estava rouca pela sensação na sua garganta, mas não era a rouquidão que já ouviu de si mesma antes. Soava diferente nos seus ouvidos, como se fosse de uma adulta... Uma adulta rouca.

E o pouco que se levantou antes de perder a força no cotovelo pareceu ser tão alto! Ela era uma criança, como conseguiu se elevar tanto?

O que estava acontecendo com ela? Olhava para baixo, para si mesma e para aquele vestido que não era dela e que estava todo cortado e rasgado, coberto de sangue. Para o seu próprio corpo, que tinha dimensões que não reconhecia.

As estrelas mostram o caminhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora